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ENTRE PRATELEIRAS

Entre o decidir e o adequar

O conforto técnico do silêncio de não precisar escolher

Jaques Paes | 22/12/2025, 08:00 h | Atualizado em 19/12/2025, 17:41
Entre Prateleiras

Jaques Paes

Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV



          Imagem ilustrativa da imagem Entre o decidir e o adequar
Jaques Paes. Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV |  Foto: Divulgação

“Pergunto-vos agora: o que se pode esperar do homem, como criatura provida de tão estranhas qualidades? Podeis cobri-lo de todos os bens terrestres, afogá-lo em felicidade, de tal modo que apenas umas bolhazinhas apareçam na superfície desta, como se fosse a superfície da água; dar-lhe tal fartura econômica, que ele não tenha mais nada a fazer a não ser dormir, comer pão de ló e cuidar da continuação da história universal, pois os senhores verão que, mesmo assim, ele, o homem, por pura ingratidão, por galhofa, há de fazer besteira.”

Em 1864, Fiodor Dostoievski descreveu algo que ainda vive em nossa realidade: a crença de que bons resultados justificam qualquer decisão. É aí que repousam nossas certezas.

Estamos certos. E talvez isso seja o pior. A certeza é um tipo de cegueira. Ainda assim, é com ela que lidamos com o risco. O problema começa quando ela deixa de ser questionada, posta à prova, testada.

Talvez aquilo que aprendemos a chamar de certo já não seja verdade. O quanto fazemos nos faz esquecer de perguntar o porquê daquilo que estamos fazendo.

Então começamos a caminhar na linha tênue que separa moral e ética. A moral organiza comportamentos; a ética interroga intenções. Uma opera na norma, a outra no sentido. Sem moral, não há coerência ainda que tudo pareça correto.

É desse deslocamento que nascem políticas públicas baseadas em custo-benefício, decisões corporativas de downsizing, análises de impacto econômico, as justificativas para “externalidades aceitáveis” e a chamada otimização social.

Decisões abstratas tendem a se cristalizar em uma linguagem institucional onde decidir deixa de ser um ato e passa a ser uma adequação técnica. Quando a última ata do Copom, em sua linguagem técnica, afirma que “a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, não há ali um agente moral. Há um modelo que se autorreferencia. Não se decide; adere-se. Não se responde; projeta-se. O dano não é negado é diluído estatisticamente.

Essa é uma gramática recorrente. Se o impacto cabe no modelo, não se discute o dano, mas sua mitigação. Podemos vê-la com clareza nos processos de licenciamento, onde não se pergunta pela aceitabilidade de um determinado empreendimento. O risco deixa de ser avaliado como experiência humana e torna-se uma variável. Quando o impacto é classificado como “significativo, porém mitigável”, a decisão já foi tomada; o processo serve apenas para enquadrá-la tecnicamente. É assim que estradas atravessam áreas de proteção permanente sem que ninguém, formalmente, tenha decidido por isso.

Há um privilégio reservado a poucos: o de não precisar se explicar. O fracasso, muitas vezes, não nasce da falta de vontade, mas do conforto de acreditar que se age por um bem maior, mesmo quando o resultado é claramente um bem menor.

Continuo o assunto nas redes: Instagram: @jaquespaes; LinkedIn: in/jaquespaes

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Entre Prateleiras

Esta coluna parte da ideia de que gestão, sustentabilidade, projetos e estratégia não vivem em gavetas separadas. “Entre Prateleiras” é o espaço onde essas fricções aparecem e onde decisões, narrativas e contradições se encontram. Seu propósito é trazer à superfície o que costuma ficar guardado para provocar conversas que façam diferença no mundo que a gente vê lá fora.