Clima x café x América Latina
Fique por dentro do Agronegócio, com as informações de um dos jornalistas mais premiados e especializados do setor
Tem coisa que a gente sente antes mesmo de ver, não é mesmo, caro leitor? O cheiro do café recém-passado, por exemplo, conta histórias — de gente simples, de mãos calejadas, de montanhas que respiram esperança. E foi exatamente isso que eu vi de perto: o café latino-americano está mudando, mas não está desistindo.
Nas últimas semanas, conheci produtores que enfrentam o desafio das mudanças climáticas com coragem e criatividade. A seca que castiga, o calor que passa dos limites, a chuva que insiste em vir fora de hora — tudo isso tem mexido com o coração da cafeicultura. Mas, em vez de recuar, os pequenos agricultores estão se reinventando. Estão plantando árvores, protegendo nascentes, diversificando cultivos e criando planos de adaptação que nascem da própria comunidade.
Vi lavouras mais verdes, vi gente com brilho nos olhos ao falar do futuro. E vi algo ainda mais bonito: o senso de cooperação. As cooperativas certificadas Fairtrade — que valorizam o Comércio Justo e a sustentabilidade — estão ajudando a transformar a dor em aprendizado. Quando a natureza sofre, o café responde. Mas quando o produtor aprende a cuidar dela, o café floresce de novo.
É um trabalho silencioso, mas poderoso. Em cada propriedade, há pequenas revoluções acontecendo: manejo do solo, monitoramento climático, reflorestamento. São ações que fazem diferença. Uma produtora me contou que, depois de seguir o plano de adaptação, sua lavoura resistiu à seca sem perder qualidade. Outro produtor viu a produtividade dobrar. É a prova de que o café não é apenas uma cultura agrícola — é um símbolo de resiliência.
E essa voz do campo vai ecoar na COP30, em Belém. A CLAC — que representa mais de 200 mil cafeicultores da América Latina e do Caribe — vai levar as experiências e as propostas dessas comunidades para o centro das discussões mundiais. E o Negócio Rural vai estar lá, acompanhando tudo de perto, mostrando como o café que chega à nossa xícara carrega a luta e a esperança de quem planta o futuro.
Porque proteger o café é proteger as pessoas. É garantir que, toda manhã, ao sentir aquele aroma familiar, a gente continue lembrando que o futuro também começa no campo.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários