O lado invisível do agro
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Existe um tema que atravessa fronteiras, profissões e estilos de vida: saúde mental. Mas quando essa conversa chega ao agronegócio, muita gente trava.
Parece que o campo vestiu uma armadura invisível ao longo do tempo, como se ali ninguém pudesse parar, cansar ou precisar de ajuda. Só que o ser humano não funciona assim.
Nem na cidade, nem no campo, nem no ar. Eu conversei com a psicóloga Clarisse Fernandes, que decidiu entrar onde o silêncio ainda é grande: a mente de quem produz. Ela trabalha com saúde mental no agronegócio e também com pilotos de aviação agrícola, uma profissão tão admirada quanto solitária.
Esses profissionais cruzam os céus pulverizando lavouras, salvando safras, contornando emergências e tomando decisões sob pressão.
Responsabilidade gigantesca, margem de erro mínima e, muitas vezes, nenhuma rede de apoio. Reconheceu o cenário? É a mesma realidade de produtores rurais, técnicos e trabalhadores do agro: alta cobrança, rotina intensa, falta de pausa e pouco espaço para falar de emoções.
Clarisse tocou em alguns pontos essenciais: exaustão, estresse e ansiedade não são frescura. São sinais. Eles contam uma história que muita gente tenta esconder. No campo, a pressão do clima, dos custos, dos prazos e do mercado vira um peso invisível. Vai para o peito, para os ombros, para o sono.
Quando a cabeça não descansa, o corpo cobra. E quando o corpo cobra, a produtividade despenca. Na aviação agrícola, isso fica ainda mais evidente. Pilotos trabalham sob risco constante. Lidam com decisões rápidas e precisão extrema. Precisam estar em equilíbrio físico e emocional para voar com segurança.
Mas quem cuida deles? Clarisse responde essa pergunta com prática, e não com teoria. Ela criou uma ponte entre psicologia e rotina real, sem fórmulas mágicas, sem julgamentos. Conversa. Escuta. Orienta. E mostra que pedir ajuda é gestão. É estratégia. É sobrevivência.
É curioso: o agro evoluiu em tecnologia, pesquisa, profissionalização. Mas ainda resiste a falar sobre suas próprias dores. Talvez por orgulho. Talvez por medo. Talvez porque ninguém abriu esse caminho antes com a sensibilidade e respeito que o tema exige. Clarisse abriu.
Nossa conversa foi forte, humana e necessária. Saí com a certeza de que saúde mental não é modinha e não pertence a um grupo específico. É assunto de família, de hangar, de lavoura e de vida. Porque não existe futuro no agro sem cuidar de quem faz o agro acontecer.
O bate-papo completo vai ao ar neste sábado (25), no Negócio Rural, na TV Tribuna/Band.
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