“Estou no meu melhor momento”, diz Neymara
Aos 47 anos, a Pequena Notável, que foi a melhor do mundo em 2003, 2004, 2007, 2008 e 2009, está viva na luta pelo hexa mundial
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Aos 47 anos, Neymara Carvalho, cinco vezes campeã do mundo no bodyboarding (2003, 2004, 2007, 2008 e 2009), diz que está vivendo o melhor momento da carreira e tem motivos de sobra para comemorar isso.
Na luta pelo hexa mundial, além de atleta, ela também é gestora da única etapa do Circuito Mundial de Bodyboarding só para mulheres e ainda vive o papel de ser mãe de uma bobyboarder, Luna Hardman, de 17 anos.
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Em uma entrevista exclusiva no Estúdio TribunaLab, a capixaba, que tem como principal adversária no Mundial a japonesa Sara Ohara, ainda acredita que pode dar mais um título ao Brasil e ao Espírito Santo.
A Tribuna – Como surgiu a ideia do Circuito ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro?
Neymara Carvalho – Esse é um projeto que eu sonhava em realizar há uns 10 anos, no mínimo. Quando fui pela primeira vez ao Havaí, ouvi esse nome “Wahine”, que significa mulher na língua havaiana. A mulher do “Wahine” é a mulher que também faz muitos esportes, que ama o mar. Eu amei esse nome e o guardei. Sonhava em fazer algo com esse nome.
Depois de muitos anos no esporte e com a carência de eventos só femininos para o bodyboarding no Brasil, surgiu a ideia. Porque existem etapas no Mundial só para os homens e nunca existiu um só para as mulheres. E eu queria trazer para o Espírito Santo essa visibilidade.
Tentei rascunhar em alguns anos, abriu um edital do Governo do Estado e fomos contemplados. Mas logo depois veio a pandemia e o Circuito paralisou. Então transformei esse edital em um Circuito do Brasileiro e depois comecei a construir a ideia do Mundial.
O Wahine também inovou em muitos pontos, né?
Essa etapa é para todas as categorias. Uma confraternização com inclusão e uma grande festa. O meu desejo é que a gente se perpetue com o Circuito Mundial no Espírito Santo, que ele um dia possa se tornar parte do calendário Estadual. Porque o Mundial já está acontecendo, estou trabalhando para termos de novo em 2024. E é tão lindo ver as gerações se reencontrando.
A Luna, minha filha, nunca tinha visto a Mariana Nogueira competindo e ela competiu na categoria e ganhou em frente aos olhos de todo mundo, na praia de Jacaraípe. Fazia 18 anos que ela não competia. Então ter trazido ela de volta para o esporte foi um dos pontos altos.
Já esse ano, cito um ponto importante, que foi a primeira atleta havaiana que saiu da ilha para competir fora da área dela. A menina está sendo uma revelação e ganhou da Luna.
Qual a importância de uma etapa só para mulheres?
Eu lembro até de um movimento que foi feito em um Circuito Brasileiro por causa da disparidade na premiação entre homens e mulheres. Nós fizemos um movimento e, devido a isso, foi criada uma lei para que todo evento patrocinado pela Secretaria de Esportes do Estado tenha premiação igual entre homens e mulheres.
E o nosso evento aconteceu logo depois de um episódio na Indonésia, com um surfista brasileiro (acusado de agredir outra surfista). Não queríamos utilizar esse momento, mas mostrar que é preciso ter respeito. Usamos uma hashtag #respeitonomar e convidei a doutora Hermínia Azoury para fazer parte da coletiva e ela falou sobre os cuidados, o limite até um relacionamento pode ir, o que gera um relacionamento abusivo. Fazer isso em um evento feminino não é obrigação, mas é um serviço.
O que você pode falar sobre a categoria para PcDs?
Nossa ideia também é fazer com que as atletas da categoria PcD saiam de casa, pratiquem um esporte, porque muitas mulheres acham que, porque perderam uma perna ou nasceram com alguma deficiência, são incapacitadas, mas as meninas que competiram nesta categoria mostraram uma força, uma garra, e a gente quer ampliar isso para o ano que vem.
Quero fazer com que as campeãs deste ano possam visitar as pessoas que precisam desse 'up' na vida, para incentivar a prática de algum esporte. Acredito que as pessoas têm que saber que podem fazer o que quiserem.
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Como está sendo ser atleta e mãe de atleta ao mesmo tempo?
A Luna tem a categoria dela, que é o Pro Júnior, até 18 anos. E esse ano de 2023 é o último dela na categoria. Mas paralelo a isso, ela já tem a carreira profissional sendo criada e construída. Então ela participa das minhas baterias, que são na profissional.
A gente já disputou algumas, ela já me ganhou, mas eu fico com o coração dividido. Fico olhando as ondas dela e pensando: tomara que ela passe, e aí quando me toco, lembro que também estou na bateria e que não sou mãe naquele momento, eu sou a adversária. E ela já vem com tudo, ela nem olha pra mim. Vai para ganhar e me olha como adversária.
Eu estou vivendo um momento muito maluco de ter que dividir essa missão com a minha própria filha dentro de uma bateria, além de ter que lidar também com as frustrações dela sendo atleta.
O que mais te motiva?
Meu último título mundial foi em 2009. Mas voltei e ano passado fui vice mundial e vice brasileira. O que mais me motiva é estar no esporte. Eu circulei, fui para a gestão, entrei na carreira política, mas não era no fundo o que meu coração queria. Meu coração está no esporte. Minha maior alegria é ser atleta.
Já estou tentando fazer essa transição para gestão, iniciando com muito pé no chão, mas sei que ainda rendo bem e os resultados estão aí. Quero trazer mais um título para o Espírito Santo. Eu acredito em mim e tendo um patrocinador que também acredita, fica muito melhor.
Como está a busca pelo hexacampeonato?
A japonesa Sara Ohara, atual líder do Circuito Mundial, ganhou em Jacaraípe e no Chile. Então ela tem 50% do circuito, mas ainda faltam quatro etapas. Então muita coisa pode acontecer, ainda há muitas ondas e muitas baterias. Ano passado ela começou bem e perdeu o título. O jogo pode virar.
Ela está muito bem e veio para brigar pelo título, mas também estou ali. Acredito que eu ainda possa ter uma vitória e entrar mais na disputa pelo título.
Quero agradecer a todos que torcem por mim. Estou em um novo momento. São três décadas sendo profissional, com altos e baixos, mas estou vivendo o melhor momento da minha carreira agora.
E o que você pode falar sobre o Instituto Neymara Carvalho?
O Instituto... não sei se é o primeiro ou segundo filho. É quase a mesma coisa. Tem 17... 18 anos que foi criado. É um projeto que conto com a ajuda de parceiros de vida. Temos um projeto e muito amor. Quando tem patrocínio, tem o projeto. Quando não tem, o projeto continua, ele nunca deixou de existir. É um projeto 100% amor.
É fixado na Barra do Jucu, mas também fazemos aulões em outras praias. A ideia do projeto é criar um centro de treinamento esportivo. A gente já recebeu chilenos, atletas das Ilhas Canárias, portuguesas, então eu queria muito que aquilo ali crescesse e se desenvolvesse, e a gente pudesse contratar os próprios alunos que já estão na carreira de educadores físicos para poder dar oportunidades para a minha comunidade, para Vila Velha e para o Espírito Santo.
Quais os planos para o Wahine em 2024?
Eu escuto muito as meninas. Eu penso em uma etapa que quero participar. Então a primeira coisa é a área das atletas. Este ano colocamos uma cabeleireira, manicure, e foi um mimo tão simples e elas amaram. Porque todas na festa já estavam com o cabelo e unhas prontas. E no intervalo das baterias você conseguia se cuidar.
Para o ano que vem, queremos ter uma área kids. Queremos ter uma área para que os filhos das atletas possam ficar em segurança, com monitores e tudo certinho.
Confira a entrevista completa com Neymara:
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