90% dos empregados são donos da maior petrolífera independente do país
Dos colaboradores da Prio, 90% têm ações da empresa, que busca gente com espírito de dono para assumir uma carreira sólida no setor
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Maior petrolífera independente do Brasil, a Prio nasceu de uma companhia que chegou perto de quebrar.
Apostando em campos maduros, ou seja, ou seja, reservas de petróleo mais antigas, e com uma mudança na mentalidade e na gestão, a empresa conseguiu o chamado turnaround, jargão em inglês utilizado como “volta por cima”.
A empresa projeta um investimento em torno de R$ 4,4 bilhões no Espírito Santo e prevê a criação de 500 empregos diretos. E leva a sério a máxima de “trabalhar como dono” da empresa: nela, 90% dos empregados são de fato acionistas.
A petrolífera está em busca de profissionais com esse sentimento e mais: que queiram de fato seguir carreira na empresa. Nada de ser apenas uma fase profissional.
O diretor de operações da Prio, Francilmar Fernandes, contou como a empresa desenvolveu uma cultura de trabalho diferente e falou sobre os projetos. A entrevista completa está disponível no QR Code no fim deste texto.
- A Tribuna - A Prio surgiu da antiga HRT, que tem uma certa ligação com a OGX, do empresário Eike Batista. Como é hoje a empresa, e como foi esse início?
Francilmar Fernandes - A gente foi forjado na pancada e no calor. O pré-sal criou um movimento em 2010 em que várias empresas tentaram surfar na onda. Aí surgiu a OGX, que levantava capital no mercado financeiro. Então, veio a HRT, que fez algo semelhante.
Eventualmente houve a crise em que quase quebramos, os controladores da companhia mudaram e o novo grupo decidiu mudar os rumos, criando a PetroRio, que em 2022 virou Prio, visando abandonar a exploração, que não dava lucro.
- A partir daí foi criada uma nova filosofia de trabalho?
Sim. Um novo jeito de trabalhar, mais adequada ao tamanho da empresa e à crise que vivíamos. Passamos a ter uma cultura de resultado, em que se dá valor a quem trabalha mais e a quem gera mais.
Pautamos a possibilidade de ser uma empresa de donos. Abriu-se a possibilidade de todos os funcionários serem sócios da Prio, e 90% deles o são, o que criou uma mentalidade de dono na empresa.
- Que coisa interessante...
Pois é. Boa parte do meu patrimônio está em ações da Prio, o que vale para o mecânico, o eletricista, enfim, funções iniciais da empresa. Estamos defendendo o que é nosso, vestimos a camisa porque somos donos. Não é dinâmica de funcionário e patrão. Há hierarquia organizacional, mas estamos juntos como sócios.
- A Prio começou no Rio e está vindo ao Espírito Santo. Como será o investimento por aqui?
Estamos investindo em campos que já produzem e vamos aplicar toda a nossa cultura. Campos maduros, no caso, que já passaram da flor da idade, que está em declínio e com tendência de aumento de custo.
- O senhor pode explicar melhor para o público em geral?
A gente entra para dar outro significado, nova vida a esses campos. O que a gente faz basicamente é tentar estender ao máximo possível a produção naqueles reservatórios que estão ameaçados de parar de produzir. É um projeto de US$ 800 milhões, em torno de R$ 4,4 bilhões, mais ou menos.
- E quanto será produzido?
A gente vai colocar para produzir o campo e deve atingir o pico lá em torno dos 40 mil barris. Para a Prio, é um volume de operação grande, de produção grande, vai aumentar a produção da companhia, uns 30%, 40%. Só para ter uma ideia, o novo navio-plataforma da Petrobras que está vindo operar no Espírito Santo tem produção de 10 mil barris diários.
- Você comentou sobre o custo. Normalmente, o petróleo deixa de ser produzido por não ser mais economicamente viável, e não porque acaba, certo?
Se você produz uma coisa que é mais cara de produzir do que de vender, você para de produzir. Sempre sobra um pouquinho que não é explorado. O desafio é esse: como extrair valor daquilo de forma rentável? A gente fez o primeiro teste em 2021, funcionou, estudamos mais, e vamos aplicar aqui.
- A Prio tem sede no Estado?
Não. A sede está no Rio. Tentamos ser o mais enxutos, o mais simples possível. Mas temos muita parceria com fornecedores daqui. Quase R$ 1 bilhão foi investido no Espírito Santo. Fabricação de equipamentos submarinos e outros equipamentos que vão ser usados, alguns são feitos pela indústria que já está aqui, outros a gente desenvolveu, outros vieram se instalar de fora para nos ajudar.
Isso acaba criando uma cadeia de produção que vai servir a gente. Temos uma forma totalmente diferente de trabalhar das grandes companhias, que tem todo um travamento, uma governança obrigatória, ligado ao governo. Nosso processo é mais simples, menos complexo, mais ágil. Fazer negócio conosco é mais rápido.
- A empresa precisa de mais fornecedores?
Precisa. Do cara que fornece a alimentação, do que fornece elementos vedantes, o da parte de metalmecânica, motores elétricos, reparos… é uma gama grande. Mas buscamos eficiência e agilidade, não necessariamente o mais barato, mas sim o melhor ao projeto, que será o melhor custo final. Isso vale para o fornecedor e também para quem quer trabalhar conosco.
- Há procura por colaboradores no Espírito Santo?
Sim. Tem os diretos e os indiretos. Diretamente deve envolver umas 500 pessoas. No geral são uns 3 mil. Notamos que há uma lacuna e falta de gente preparada para atuar no setor, e decidimos fazer parceria com o Senai, que abriu 60 vagas em um curso recentemente. Prezamos por pessoas que busquem construir uma carreira longa e tornar a Prio seu projeto de vida.
PERFIL
Francilmar Fernandes
- Nasceu em Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte. É casado e tem um casal de filhos gêmeos.
- Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Paraíba, é diretor de operações da Prio desde 2019, mas está na empresa desde 2011, quando entrou para atuar como engenheiro de poço.
- Antes disso, foi coordenador técnico na Perbras e estagiou na Alpargatas.
- Também é pós-graduado em Engenharia de Petróleo pela Universidade Potiguar e possui MBA em Gestão de Projetos pela FGV e Executive MBA pela Coppead UFRJ.
CURIOSIDADES
14 dias em alto-mar
Francilmar Fernandes conta que não é simples contratar funcionários para atuar embarcados por conta da rotina: geralmente, é preciso ficar 14 dias direto em alto-mar, tendo folga de 14 dias em seguida.
“Tem de estar preparado psicologicamente. Tem gente que se adapta muito bem e ama, mas para outros é impossível. Ficam com saudade da família, perde-se Natal e aniversários... É preciso ter uma estrutura bem definida e organizada”, afirma.
Petróleo necessário
Para Francilmar Fernandes, a transição energética é necessária, mas o petróleo não vai deixar de ser utilizado tão cedo. “Acredito ser importante balancear ao longo do tempo, mas ainda teremos boas décadas do petróleo. No final do século 19, achava-se que o carvão deixaria de ser utilizado por conta da popularização do petróleo. Mas hoje o mundo produz mais carvão do que produzia 100 anos atrás. Ainda é uma fonte de energia muito relevante, e creio que o petróleo passará pela mesma situação”.
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