Quando a secagem do café encontra o futuro
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A secagem do café sempre me fascinou. Talvez porque seja aquele momento em que tudo fica nas mãos do calor — e da paciência. Já vi produtor dormir do lado do secador, fazer reza, contar história, discutir com o termômetro… tudo para garantir que o café, ali dentro, estivesse recebendo o carinho necessário para virar uma bebida de respeito. A secagem é quase um ritual. Um último sopro antes do grão mostrar quem é.
Nos últimos dias, acompanhando uma assinatura importante entre a ES Gás e o Centro do Comércio de Café de Vitória, percebi que esse ritual está prestes a mudar — e para melhor. Quando ouvi a frase “o gás natural é um agente de transformação”, dita pelo diretor-presidente da ES Gás, me peguei pensando em quantas histórias de café já foram escritas ao redor de um secador a lenha. Histórias bonitas, mas também cheias de fumaça, fuligem, calor instável e noites mal dormidas.
Agora, imagina trocar essa imprevisibilidade por precisão? A ideia de controlar a temperatura com exatidão me soa como colocar um maestro no coração da pós-colheita. E não é exagero. Um pequeno deslize na secagem pode custar a qualidade da bebida. Um acerto, por outro lado, abre portas, mercados e possibilidades que antes pareciam distantes.
O presidente do CCCV disse algo que ficou ecoando em mim: “Essa parceria é um marco”. E é mesmo. Porque ela não fala apenas de energia; fala de futuro, de sustentabilidade, de saúde para quem opera os secadores e, principalmente, de competitividade. O mundo está mais atento ao que consome — e o café não escapa dessa lente.
Sei que, para muitos produtores, a lenha carrega memória, tradição, cheiro de infância. Mas tradição boa é aquela que conversa com o tempo, que se adapta, que respira. E estamos entrando em uma fase em que produzir bem não basta. É preciso produzir com consistência, transparência e responsabilidade.
Quando penso no Espírito Santo, líder em conilon, imagino o potencial dessa mudança. Vejo menos fumaça no ar, mais qualidade na xícara e mais tranquilidade nas mãos de quem trabalha. Vejo o café capixaba dando um passo firme em direção ao que o mundo já espera — e ao que o próprio produtor merece.
E, se você, caro leitor, que me lê agora já secou café, já mexeu pilha no terreiro ou já esperou o barulho do secador parar, sabe exatamente do que estou falando. A cafeicultura está virando uma página importante. E é bonito poder acompanhar — e contar — esse momento.
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