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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

Lições de democracia para os americanos

Trump e os EUA: impasses políticos e lições de democracia para o mundo

José Vicente de Sá Pimentel, Colunista de A Tribuna | 06/10/2025, 12:46 h | Atualizado em 06/10/2025, 12:46

Imagem ilustrativa da imagem Lições de democracia para os americanos
José Vicente de Sá Pimentel. |  Foto: Divulgação

Tenho preguiça de reler minhas crônicas. Sei que corro o risco de repetir velhos argumentos, ou, pior ainda, me contradizer. Uma vez ou outra me animo a checar se escrevi ou não sobre determinado assunto, mas não tenho intimidade com o computador e as minhas pesquisas sempre acabam me encaminhando ao velho caderno em que deposito frases e observações que podem servir em artigos futuros.

Tenho, por exemplo, anotações sobre um tema que volta e meia entra em voga, e que não sei se mereceu um artigo. Trata-se do confronto entre maximalistas, que chamam Trump e seus seguidores de fascistas, e minimalistas, que consideram a comparação fora do esquadro. Sou daqueles que percebem traços de fascismo nos trumpistas, ainda que, a meu juízo, o paralelo não deva ser tomado ao pé da letra.

Estamos todos de acordo que sardas não são melanomas. Argumento porém que, se forem, um observador experimentado saberá identificar os sintomas e prever a evolução provável, caso não haja o tratamento adequado. Entendo que Trump é um câncer político. Foi tratado convencionalmente no primeiro mandato e a recaída está se mostrando muito mais agressiva.

Nos EUA, um fenômeno que, em boa parte, explica o domínio exercido por Trump sobre a cena política é apatia do Partido Democrata e dos demais agentes públicos que, para manter a higidez do sistema, precisariam entrar em sintonia com as ferramentas e os valores democráticos. Diagnosticam corretamente o mal, mas não lhe dão o tratamento devido. Universidades como Harvard e Columbia, televisões como a ABC, jornais como o Wall Street Journal e o New York Times, juízes e governadores de vários estados, todos têm sofrido agressões inusitadas da Casa Branca, e não encontram vozes capazes de defendê-los no território adequado, que é a arena político-partidária.

A falta de uma defesa orgânica e cotidiana dos direitos e deveres democráticos levou o país a uma situação em que Trump posa de monarca e as demais forças políticas se abaixam como vassalos.

No ano próximo haverá eleições legislativas para todas as cadeiras de deputados e um terço dos senadores. Historicamente, essas eleições de “mid term” oferecem uma excelente oportunidade para reequilibrar o jogo. Do jeito que a coisa vai, contudo, os Democratas podem sofrer mais uma derrota e aprofundarem-se na atual irrelevância.

É nesse contexto que entra a paralisação do Congresso. No sistema norte-americano, a aprovação da lei orçamentária depende de aprovação por um determinado número de votos. Os Republicanos detêm a maioria em ambas as casas do Congresso, mas no Senado faltam-lhe 60 votos para alcançar a maioria definida por lei. Devido ao impasse, os órgãos do Executivo ficam temporariamente suspensos, e cerca de 40% dos servidores federais entram em licença não remunerada.

É uma manobra de alto risco, portanto. Afeta a vida de muita gente, inclusive de eleitores do Partido Democrata. No entanto, o jornalista Ezra Klein, que vem se tornando um dos mais destacados contestadores do trumpismo, defendeu a medida, que dará pelo menos visibilidade a políticos capazes de defender a inclusão de projetos sociais no orçamento.

O mais importante, nas circunstâncias, seria mostrar determinação não só de lutar contra Trump, mas também de batalhar a favor das causas certas. Klein advertiu, por outro lado, que caso o plano não dê certo, os Democratas precisarão de novos líderes.

Já houve outras paralisações bastante longas. Em 1995, o deputado Republicano Newt Gingrich parou o governo durante três semanas. Em 2013, os Republicanos paralisaram de novo, para retirar fundos do Obamacare, programa cujo objetivo é ampliar o acesso à cobertura da saúde. A paralisação mais longa até hoje foi orquestrada pelo próprio Trump, que queria incluir no orçamento de 2019 mais verbas para o muro na fronteira com o México. Nenhuma dessas manobras teve resultados positivos imediatos, embora se admita que colocaram na vitrine política os argumentos e os políticos que as defenderam.

O que é bom ao acompanhar o que se passa ao norte do rio Grande é constatar que nós brasileiros estamos dando lições de democracia aos americanos. Aqueles que acreditam, como eu, que a democracia, apesar dos pesares, é a melhor forma de governo, lavaram a alma ao ver os protestos populares contra as propostas de anistia e blindagem dos congressistas.

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