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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

Os discursos dos antípodas

Lula destaca multilateralismo, paz e direitos humanos em abertura da ONU

José Vicente de Sá Pimentel, Colunista de A Tribuna | 29/09/2025, 13:09 h | Atualizado em 29/09/2025, 13:09

Imagem ilustrativa da imagem Os discursos dos antípodas
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado. |  Foto: Divulgação

O discurso de Lula na abertura da octogésima Assembleia Geral da ONU foi um dos melhores desde 1947, quando Oswaldo Aranha deu início à tradição de um brasileiro ser o primeiro orador no debate geral. Recomendo a leitura e a comparação com o descalabro do discurso seguinte, de Donald Trump.

Com serenidade, Lula joga luz sobre as causas da crise mundial. Demonstra que o autoritarismo grassava antes da criação da ONU e foi contido justamente pelo exercício da diplomacia. O enfraquecimento do multilateralismo “desorganiza as cadeias de valor, lança a economia mundial em uma espiral perniciosa de preços altos e debilita as democracias”. Aconselha a sociedade internacional a não vacilar na defesa da paz, da soberania e do direito, pois as consequências seriam trágicas. Com objetividade, observa que as plataformas digitais, embora capazes de aproximar as pessoas como nunca na história, não podem ser livres para propagar intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação. “Regular não é restringir a liberdade de expressão, é garantir que o que já é real no mundo real, seja tratado assim no ambiente virtual”.

Há uma série de frases que podem e devem ser repetidas nos pódios de nossas assembleias país afora. Reproduzo algumas: “A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza”. “A democracia falha quando mulheres ganham menos que os homens ou morrem pelas mãos dos parceiros”. “A pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo”.

Uma das partes mais tocantes do discurso foi a lembrança de duas figuras humanas de imenso carisma, que partiram deste mundo em 2025. Lula presta homenagens tocantes ao ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica e ao Papa Francisco, por terem encarnado os melhores valores humanistas e entrelaçado suas vidas com as oito décadas de existência da ONU.

Quando Lula cede seu lugar a Trump, deixam o pódio também os valores civilizacionais encrustados na história das Nações Unidas. Não deixa de ser paradoxal que justo quando o “American way of life” alcança uma aceitação planetária, Trump e sua inacreditável claque MAGA disponham-se a jogar esse patrimônio cultural no lixo. O raciocínio é tortuoso. Os EUA atingiram o topo de sua influência cultural, a partir daí só podem cair. Por sua vez, a China estaria determinada a se valer das regras vigentes para conquistar o mais alto lugar no pódio. Urgiria, assim, desembaraçar-se da diplomacia e de qualquer outro resíduo de polidez que dê aos concorrentes a possibilidade de serem ouvidos e respeitados. Fora com a cultura, volta a lei do faroeste e a vontade do mais forte.

Em seu ímpeto destrutivo, Trump desrespeita inclusive as leis científicas. Com uma frase, nega a ciência climática e direciona todos os dólares disponíveis para a exploração de minas de carvão e das reservas não convencionais de shale gas e tight oil. É tudo muito arrogante e egoísta. É também autodestrutivo, visto que todos nós, assim como nossos filhos e netos, temos apenas um planeta onde viver.

Psicopata, suicida, clown pueril, Trump já foi chamado de tudo. O fato é que ele é um rematado manipulador. Mente, distorce os fatos e usa a imprevisibilidade para favorecer seu próprio interesse e o controle da situação. Por isso, imagino a dificuldade dos assessores de Lula para interpretar a “química” que o teria inundado de simpatia pelo líder brasileiro. Alguém acredita no “coup de foudre” de 39 segundos? Eu, seguramente, não. Ele disse aquilo de caso pensado. Com que objetivo?

Já tem gente reclamando da demora para marcarmos a reunião. Calma aos ansiosos. O governo tem direito de curtir o momento e repetir para quem quiser ouvir – mais ainda para aqueles que não querem – a fábula da química positiva. A Casa Branca tem consciência, há tempos, de nossa disponibilidade para negociar. As preferências de data e local decerto também já foram enviadas. Pessoalmente, prefiro um tête-à-tête (sou mais Lula num papo reto), no Oval Office (Mar-a-Lago não tem gravitas). Com a presença de uma equipe nossa de televisão, isto é importante.

Mais difícil é encontrar uma agenda positiva para os dois antípodas. Por isso, talvez seja mais produtivo um encontro com três assessores para cada lado (do nosso, Alckmin, Celso e Mauro Vieira). Pode ser em Roma ou Kuala Lampur, o presidente brasileiro é bem-vindo em todo o mundo.

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