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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

A alvorada da nova guerra fria

De um lado a China, hoje um polo de poder incontornável. De outro, um Trump imprevisível

José Vicente de Sá Pimentel, Colunista de A Tribuna | 08/09/2025, 16:57 h | Atualizado em 08/09/2025, 17:13

Imagem ilustrativa da imagem A alvorada da nova guerra fria
José Vicente De Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado |  Foto: Divulgação

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, diz o soneto de Camões. Às vezes nem nos damos conta, é preciso que algo aconteça para nos abrir os olhos. Entra nessa categoria a edição de 30 de agosto da revista The Economist, reconhecida como bíblia do liberalismo, apóstola do livre mercado, algoz da intervenção do Estado na economia.

The Economist contrastou a conduta dos EUA após a invasão do Capitólio de 6 de janeiro de 2021 com a do Brasil após a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, e concluiu que estamos dando uma lição de maturidade democrática aos nossos antigos mestres nessa matéria.

Estamos mesmo. Aqui, o julgamento pelo STF da ação penal sobre a tentativa de golpe prossegue, dentro da normalidade. Em Washington, Trump determinou que a Força Aérea organize um funeral com honras militares pra Ashli Babbit, uma das insurrecionistas do 6 de janeiro. Ashli tentou entrar na sala da presidência da Câmara pela janela arrebentada por um dos arruaceiros. Advertida por um dos guardas, prosseguiu na marra e foi atingida por um disparo e veio a óbito. Há vídeos mostrando a verdade dos fatos, mas o que é a verdade para Trump? Ele quer transformar a moça num ícone, numa heroína, e as gloriosas Forças Aéreas americanas, revertendo decisão tomada em 2023, farão o que ele quer.

A esta altura, os interlocutores já conhecem a pose imperial de Trump e querem tirar partido do seu imenso ego. As bajulações já se tornaram o modus faciendi habitual dos membros do Partido Republicano, de certas alas da mídia e do empresariado americano, e cada vez mais dos dirigentes europeus também.

Na Ásia, porém, as mudanças vão em outra direção. As imagens da China, neste início de setembro, dão um impressionante depoimento sobre a evolução em curso nas relações internacionais, sobretudo no continente asiático.

Já foi dito que o século XXI será o “século da Ásia”. Essa profecia vinha esbarrando, contudo, no complicado histórico das relações entre chineses, indianos e russos. Em 1962, Índia e China travaram uma guerra sangrenta na região do Himalaia, devido a disputas fronteiriças e ao acolhimento dado pela Índia ao Dalai Lama. Problemas fronteiriços, além da competição entre dois modelos de comunismo, levaram China e Rússia, em 1969, a quase um ano de guerra não declarada e à ruptura das relações entre os dois países. Embora Rússia e Índia não tenham se enfrentado militarmente, as relações diplomáticas entre os dois, durante a guerra fria, foi ruim, devido à conveniência estratégica indiana de privilegiar a parceria com os EUA. Um dos méritos do BRICS foi o de ter levado esses garnisés a se sentarem à mesa para desenvolver uma agenda positiva e benéfica para todos os três.

As imagens da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, encerrada em 1 de setembro corrente, mostram uma evolução importante. Xi Jinping conseguiu reunir um número expressivo de líderes regionais, entre os quais Narendra Modi e Recep Erdogan, além de Putin. A parte substantiva do encontro foi marcada pelo lançamento da Iniciativa de Governança Global, baseada em cinco princípios: igualdade soberana de todas as nações; respeito ao direito internacional e à Carta da ONU; defesa do multilateralismo diante do unilateralismo; redução da disparidade entre o norte e o sul globais, e ações concretas para evitar a fragmentação do sistema de governança.

Dois dias depois, Xi presidiu, ao lado de Putin e do norte-coreano Kim Jong-un, o desfile militar de comemoração dos 80 anos da vitória chinesa sobre o Japão, na II Guerra Mundial. A coreografia do evento foi, como se diz, prenhe de significado. Além de escancarar o avanço tecnológico-militar da China, o discurso de Xi, na praça da Paz Eterna, sublinhou que “a humanidade mais uma vez encara uma escolha entre a paz e a guerra, o diálogo ou a confrontação”. Qualquer dúvida sobre o alcance desse recado foi desfeita quando Trump, sempre midiático e nunca sutil, respondeu dois dias depois, trocando o nome do Pentágono para Ministério da Guerra.

Evidencia-se, portanto, uma nova guerra fria. De um lado a China, hoje um polo de poder incontornável, defendendo um mundo multipolar. De outro, um Trump imprevisível precisa dizer agora o que vai colocar no lugar da ordem mundial que tentou destruir nos primeiros sete meses do segundo mandato.

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