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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

A metralhadora giratória de Trump

A retórica agressiva de Trump desafia o Brasil e exige negociação diplomática estratégica

José Vicente de Sá Pimentel, Colunista de A Tribuna | 15/09/2025, 14:00 h | Atualizado em 15/09/2025, 14:00

Imagem ilustrativa da imagem A metralhadora giratória de Trump
José Vicente de Sá Pimentel. |  Foto: Divulgação

Num vídeo divulgado pela embaixada americana terça-feira passada, quando o STF se preparava para retomar o julgamento do ex-presidente Bolsonaro, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, advertiu que “o presidente Donald Trump não tem medo de usar meios econômicos nem militares para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo. A liberdade de expressão é a questão mais importante dos nossos tempos. O presidente Trump leva isso muito a sério e por isso tomamos ações contra o Brasil”.

Parecia cena de teatro do absurdo, em que um assunto dramático requer uma interpretação burlesca. Pergunte a dez peritos quem, no caso, está desrespeitando a liberdade de expressão, e onze dirão que é Trump, e não os ministros do Supremo. O contrário de liberdade de expressão é o discurso do ódio, e cai nessa moldura a menção feita pela porta-voz de Trump aos meios militares. É aí que mora o problema.

Ultimamente, vem aumentando a frequência das metáforas violentas no discurso trumpista. Dentro do país, a sua linguagem desumanizadora demarca com rótulos sexistas, raciais e étnicos os grupos ou comunidades sociais que devem ser tratados como inimigos. No plano externo, a violência retórica se volta contra aqueles que, a seu ver, contrariam interesses de empresas americanas, ou não se submetem ao poder imperial de Washington.

As bizarrices patrocinadas por Trump são tantas que deixam o público anestesiado. Nunca se viu um presidente americano declarando guerra a uma cidade; pois Trump já mandou tropas da Guarda Nacional para Los Angeles e Washington DC, e ameaça mandar também para Chicago e Boston. Agora quer mudar o nome do Departamento da Defesa para Departamento da Guerra. A coisa é ainda mais inusitada se considerarmos que o cidadão que hoje tem esse entusiasmo pelo militarismo tentou cinco vezes escapar do serviço militar obrigatório, por ocasião da guerra no Vietnã.

É verdade que o Departamento da Defesa dos EUA jogou muitas vezes no ataque. Basta lembrar as invasões de Granada e do Panamá, a ocupação do Iraque e do Afeganistão, além do próprio Vietnã. Mesmo assim, não há uma explicação racional para a mudança de nome, além da óbvia intenção de disseminar o medo.

Palavras violentas costumam preceder ações violentas. Os EUA de Trump não querem ser respeitados, e sim temidos. Por isso, mais vale levar a sério as ameaças, por mais implausíveis que sejam, e fazer o possível para encaminhar o jogo para o campo em que melhor jogamos, que é o da negociação.

Mesmo que Marco Rubio cumpra o prometido e reaja à condenação de Bolsonaro, será melhor persistir na trilha do pragmatismo e renovar o acesso às chamadas pontes diplomáticas com Washington. Não é fácil negociar com um brutamontes que só aceita sentar-se à mesa se for para ganhar. Precisamos ter acesso a intermediários capazes de educar os negociadores americanos no sentido de que as perdas serão maiores para ambos os lados se não se encontrar uma solução para as pendências.

Esses intermediários não pertencem apenas ao governo Trump, e sendo assim não se pode atribuir somente ao Itamaraty a responsabilidade de negociar. Como acontece com todos os países que ora negociam com os EUA, as forças políticas, as empresas locais e os demais formadores de opinião devem participar ativamente do processo, de preferência sem estardalhaço, e com a consciência de que negociar cada vez mais se tornará uma atividade de longo prazo. O artigo de Pedro Parente no Globo de 16 de agosto traz uma reflexão muito aguçada sobre essas negociações, recomendo a leitura.

Um dos vários aspectos bizarros da negociação é que seu objetivo também precisa ser identificado com clareza. Não me parece que a real preocupação da Casa Branca seja com liberdade de expressão, e ainda bem, uma vez que um julgamento do STF não seria negociável. Parece-me que as tarifas de 50% e da ameaça de novas sanções estão vinculadas à proteção de empresas de alta tecnologia e a outros interesses americanos. Dado o alcance social desses interesses, a situação é para nós desafiadora. Haja persistência e haja capacidade negociadora para conduzir a empreitada. Coesão política interna em torno dos objetivos nacionais também seria necessário, a despeito da proximidade do ano eleitoral. E será importante desenvolver um diálogo produtivo com parceiros europeus e asiáticos, até porque não somos os únicos alvos da metralhadora giratória de Trump.

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