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José Antônio Martinuzzo

José Antônio Martinuzzo

Colunista

Pós Doutor em Psicanálise, doutor em Comunicação e professor titular da Ufes

O instantaneísmo e as angústias da temporalidade exaustiva

A era da exaustão crônica na vida hiperconectada

José Antônio Martinuzzo, Colunista de A Tribuna | 11/08/2025, 13:13 h | Atualizado em 11/08/2025, 13:13

Imagem ilustrativa da imagem O instantaneísmo e as angústias da temporalidade exaustiva
José Antonio Martinuzzo é pós-doutor em Psicanálise (UERJ), doutor em Comunicação (UFF) e professor titular da Ufes. |  Foto: Divulgação

O balanço dos dias é um diagnóstico de exaustão. Um cansaço extenuante cujas fontes se perdem numa amnésia cotidiana que dissolve natimortas lembranças na cáustica rotina da vida em dupla dimensão – a presencial e a digital.

O presente fatiado pelo instantaneísmo e multiplicado pela existência desdobrada (analógico-informacional) constitui subjetividades pelas metades numa sociabilidade desmemoriada por excesso de excitação e miséria de atenção. Estamos sempre exaustos, sem nem mesmo saber ao certo o porquê.

Neste contexto de uma temporalidade reduzida ao agora, com acúmulo de um passado inescrutável e o assombro de um futuro-presente que nos toma de assalto ao ritmo alucinante das atualizações dos feeds, vivemos múltiplos presentes, tantos quantos forem os aplicativos que habitamos, sem deixar rastros nem vislumbrar horizontes vastos.

Agendados pelo imediatismo multitela e condenados à presença deficitária de inteireza, somos múmias midiatizadas, entorpecidas por overdose de estímulos fugazes. Somos só sensação repentina e repetida, esterilizados da capacidade de memorizar.

Além de um perene estado amnésico e de um cansaço sem fim, entram em cena ansiedade, pânico, melancolia, depressão. As clássicas afecções da neurose, para não falar de distúrbios recém-etiquetados, como borderline e burnout, grassam como erva daninha adubada, constituindo exércitos de adoentados.

Nos polos da vivência excitada e exaustiva, autossuplícios pela régua cada vez mais alta de desempenho e performance (devidamente exibidos), e impotência e apatia diante da vertigem que amedronta e desencoraja – realidade que alcança todas as gerações, mas especialmente as mais jovens.

Freud, em Mal-Estar na Civilização, de 1930, faz uma crônica atualíssima, diria “profética”, acerca do uso das técnicas: “O homem tornou-se uma espécie de ‘Deus de prótese’. Quando faz uso de todos os seus órgãos auxiliares, ele é verdadeiramente magnífico; esses órgãos, porém, não cresceram nele e, às vezes, ainda lhe causam muitas dificuldades”.

Argumentando que as tecnologias futuras ainda aumentariam muito “mais a semelhança do homem com Deus”, foi cirúrgico ao recomendar que, já à época, não se esquecesse que o homem não se sentia “feliz em seu papel de semelhante a Deus”.

Como se vê, os artifícios maquínicos avançaram, assim como a deificação dos sujeitos e o incremento de seu sofrimento psíquico. O que se tem é uma subjetividade aturdida por cansaço crônico, desnorteada pela desmemória pandêmica, eivada de uma fartura de doentes de descrença em si, de vazios inominados e de desolação mortificante.

Parece que chegamos a uma encruzilhada crucial acerca do objetivo de viver uma vida que faça sentido. Nossa espécie, batizada como aquela que sabe, anda flertando com ignorância suportada por robôs – e pode mesmo estar inaugurando o que adiante se escreverá com o ponto inicial do fim do Homo sapiens.

Muito de nossa capacidade de bem-estar e autonomia já está comprometida, posto que o lugar onde podemos exercê-la, o presente, padece de abusos que o desumanizam.

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