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José Antônio Martinuzzo

José Antônio Martinuzzo

Colunista

Pós Doutor em Psicanálise, doutor em Comunicação e professor titular da Ufes

Terceirização do pensar e o ocaso do humano que sabe

Os limites da inteligência artificial e o risco de substituirmos o pensamento humano por respostas prontas em nome do progresso tecnológico

José Antonio Martinuzzo, colunista do jornal A Tribuna | 02/06/2025, 13:23 h | Atualizado em 02/06/2025, 18:08

Imagem ilustrativa da imagem Terceirização do pensar e o ocaso do humano que sabe
José Antonio Martinuzzo é pós-doutor em Psicanálise (UERJ), doutor em Comunicação (UFF) e professor titular da Ufes |  Foto: Acervo pessoal

“Só sei que nada sei.” A frase, atribuída a Sócrates e que resume sua conduta de questionar todas as respostas prêt-à-porter acerca de fatos e afetos dos existires, tem movido o mundo na construção do conhecimento há milênios. Mas há algo diferente no ar, ou nas nuvens – digitais, por óbvio.

Neste século XXI, estamos sendo apresentados a uma tecnologia que sabe tudo, oferecendo-nos respostas prontas para tudo – e tudo isso com o selo inquestionável de garantia das big techs.

A “inteligência artificial” é cada dia mais onipresente. Das operações básicas dos smartphones a “diagnósticos” médicos, passando por “sessões de terapia” e “pareceres” jurídicos, até a montagem de quaisquer tipos de textos, eis a “onipotente” técnica a mesmerizar o planeta com suas imensas potencialidades.

Ao atravessarmos essa nova fronteira tecnológica, será que estamos colocando o pé no acelerador ou estaríamos engatando uma marcha à ré na evolução humana? Eis um enigma com desfecho análogo ao daquele proposto pela Esfinge: ou o deciframos ou seremos devorados.

Estamos nos primórdios dessa tecnologia, e ela já nos propõe dilemas inarredáveis. Pode soar alarmante, alarmista, mas não é. Por ora, ainda somos capazes de elaborar perguntas que são respondidas pela I.A. essencialmente com conteúdo gerado e armazenado por humanos. É, em verdade, uma reciclagem digital que anestesia habilidades fundamentais de nossa inteligência inventiva.

Quando essa tecnologia, mais do que reciclar o que produzimos, passar a se autoalimentar com suas produções e a criar ela mesma respostas a perguntas feitas autonomamente, nossa espécie terá assinado o decreto do seu ocaso. Vale salientar que os atos e capacidades de perguntar e produzir respostas, num sem-fim filosófico-cultural e sociopolítico, são evidências e meios da nossa condição humana.

A prosperar a marcha da insensatez, no futuro, os robôs especializados em História escreverão a involução do “Homo sapiens” para o “Homo erectus”. Da “espécie que sabe” à “espécie que migra”, seremos espectros vagantes do que já fomos, zumbis digitalmente atualizados por comandos com predicações maquínico-existenciais. Cenário mais nefasto e sombrio não há.

A consciência humana da própria ignorância inaugurou o filosofar e deve se manter a sustentar na nossa espécie o livre-arbítrio para se pensar e pensar o mundo sempre a se inventar. E isso não se faz reciclando o passado, terceirizando o pensar, mas questionando as respostas dadas, com novas perguntas a ensejar novos inícios, permanentemente, posto que uma realidade virtuosa está longe de ser alcançada.

E ainda que o fosse, estaria esse suposto “Éden” submetido ao paradigma que o grego Arquíloco poetizou nos inícios do existir filosófico: “E não te esqueças, meu coração, / que as coisas humanas apenas / mudanças incertas são”. Ademais, como observou Sócrates à beira da sentença de morte por causa da sua filosofia, “a vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. É uma desonra à dignidade do humano.

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