Mais de 300 mil no ES já usam remédio para aumentar concentração
O aumento do consumo tem causado um desabastecimento de medicamentos nas farmácias de todo o País
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Com o objetivo de alcançar melhores resultados em concentração e foco, cada vez mais pessoas têm utilizado medicamentos psicoestimulantes, como Ritalina e Venvanse, que são os mais conhecidos.
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O aumento do consumo tem causado um desabastecimento nas farmácias de todo o País. No Espírito, pelo menos 300 mil pessoas fazem uso desse tipo de medicamento. Esse é o número de pacientes, segundo médicos, que tem diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), cerca de 8% da população.
No entanto, os especialistas acreditam que esse número pode ser ainda maior, já que muitas pessoas utilizam o medicamento sem a devida prescrição médica.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2021 foram vendidas 2,7 milhões de caixas de cloridrato de metilfenidato no Brasil, sendo a mais conhecida a Ritalina. Aumento de 13% em relação ao ano de 2020.
O neurologista geral Luiz Felipe Lucrecio, da Rede Meridional, destaca que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma das principais indicações do uso dos medicamentos psicoestimulantes.
O Brasil é o segundo maior consumidor de Ritalina no mundo, segundo o Instituto de Defesa dos Usuários de Medicamentos. O número de usuários de psicoestimulantes tem aumentado exponencialmente nos últimos anos, como destaca a neurologista Soo Yang Lee.
“Em parte porque o diagnóstico tem aumentado e reconhecemos que uma parte desse quantitativo está sendo superdiagnosticado, ou seja, eventualmente fica mais fácil dizer que tem TDAH e usar o medicamento do que tentar desenvolver estratégias”.
Mas, além do uso no tratamento do TDAH, o medicamento também tem sido usado indiscriminadamente, como alerta o psiquiatra Valdir Campos.
“Com a globalização e o aumento da competitividade, observamos que os concurseiros têm usado esses medicamentos sem prescrição médica para melhorar a concentração e o rendimento nos estudos almejando aprovação em concursos de um modo geral. O que é um risco”.
ATENÇÃO
Tratamento
O fotógrafo Gustavo Nicchio Zamprogne (foto), 38, contou que faz tratamento com remédio para melhorar a concentração e a atenção. Ele disse que toma, geralmente, quando tem algum evento. Ele contou que sempre foi desatento, desde criança, e sempre teve dificuldades na escola.
“Mas só descobri que era TDA depois de adulto. Saía de casa e deixava a porta aberta, tinha que perguntar várias vezes a mesma coisa. Isso tem afetado muita gente também ”, refletiu.
MEDICAMENTO PARA ESTUDAR
Prescrição médica
A advogada Thaysse Hamdan, 39, contou que precisou recorrer ao remédio para se concentrar e estudar para um concurso. Ela explicou que usou por pouco tempo e com prescrição médica.
“Foram dois meses e o medicamento faz muita diferença na concentração e no foco. Otimiza muito o tempo, melhora o aproveitamento das horas de estudo. Fui ao médico com queixa de falta de atenção, pois precisava me concentrar e diminuir a sonolência à tarde. O problema foi o efeito colateral. O remédio desregulou meu sono, fiquei com insônia”, ressaltou.
FIQUE POR DENTRO
Medicamentos
- De acordo com os médicos, os remédios mais indicados para o tratamento de déficit de atenção são os chamados de psicoestimulantes, como, por exemplo, as fórmulas de metilfenidato, com diferentes nomes comerciais e genéricos, e lisdexanfetamina.
- Eles atuam aumentando a disponibilidade de dopamina e noradrenalina, melhorando os sintomas do transtorno. Os psicoestimulantes são derivados das anfetaminas, que têm indicação terapêutica, e são prescritos por um médico.
- Além do déficit de Atenção, também pode ser indicado pelos médicos para o tratamento da obesidade mórbida e narcolepsia (sonolência excessiva durante o dia).
- Eles atuam corrigindo alterações dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina em determinadas áreas cerebrais (corticais e subcorticais), facilitando as funções executivas, como poder de abstração, noção espaço-temporal, capacidade de planejamento, organização e iniciativa.
Metilfenidato
- É um dos estimulantes mais usados no mundo. É indicado para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e narcolepsia.
- Serve para melhorar a atenção e a concentração, facilitar a memória e o aprendizado e deixar mais alerta. Pode causar insônia, perda de apetite, pressão alta, arritmia e problemas cardiovasculares, até morte súbita.
Lisdexanfetamina
- É utilizado no tratamento do TDAH, ajudando no aumento da concentração, hiperfoco e velocidade de execução. Pode causar dor de cabeça, taquicardia, palpitações, variações de humor e dependência.
- Em 2020, foram vendidas 257.562 caixas do medicamento no Brasil.
Modafinila
- É indicado para narcolepsia e sonolência diurna por apneia do sono. Ajuda a aumentar atenção, concentração, memória verbal e numérica. Se não indicado corretamente, pode causar tontura, perda de sono e de apetite, pressão alta e problemas cardiovasculares e até morte súbita.
Piracetam
- Faz parte dos racetams, utilizados no tratamento de doenças neurológicas, como a epilepsia. Melhora a atenção, memória de longo prazo e facilidade de aprendizado. Pode causar insônia, ganho de peso e problemas de saúde.
Fonte: Anvisa, especialistas consultados e pesquisa A Tribuna.
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