Polícia investiga se bala de fuzil matou idoso em clínica de Vitória
Criminosos atiraram em policiais, e um dos disparos atravessou a parede do quarto onde estava aposentado que foi atingido na cabeça
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Uma série de tiroteios em Vitória provocou pânico em moradores e acabou por provocar a morte de um paciente dentro de uma clínica de longa permanência, na Gurigica.
Uma bala perdida atravessou a parede do quarto onde estava o aposentado Daniel Ribeiro Campos da Silva, 68 anos, e atingiu sua cabeça, por volta das 3 horas de domingo. Ele tratava um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico no local havia 2 anos, segundo familiares. Ele morreu.
A Polícia Civil, agora, investiga o que motivou os crimes, de onde partiu o tiro que matou o idoso e se a bala foi disparada por um fuzil.
O delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, disse que a perícia realizada na clínica traçou a trajetória do projétil e constatou que o tiro veio do morro para a avenida, a cerca de 33 metros da clínica. “A princípio, a bala é de uma pistola”, comentou.
Uma das possibilidades vistas pela polícia é de que um projétil de pistola não teria força para perfurar a parede. Ou seja, haveria a possibilidade do tiro ser de um fuzil.
Momentos antes do disparo, traficantes atiraram contra radiopatrulhas da Polícia Militar que passavam pela avenida Leitão da Silva, conforme registro da PM.
Com isso, outras equipes foram acionadas para dar apoio, mas, ao chegarem às proximidades da clínica onde estava a vítima, foram recebidas a tiros por criminosos que estavam no alto do morro.
Para se proteger dos disparos, os policiais decidiram se esconder atrás do prédio onde fica a clínica, que acabou atingida por projétil.
A perícia da Polícia Civil foi acionada, bem como investigadores do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O corpo do aposentado foi levado para o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, onde foi liberado na manhã deste domingo.
O tiroteio também deixou marcas em carros que estavam estacionados próximos ao morro. Além de um veículo, um dos disparos atingiu o vidro de um comércio da região.
“Cheguei para abrir a loja hoje (domingo) e me deparei com esse vidro quebrado e o projétil. Fico assustado. Já me falaram que teve um tiroteio a noite toda. Fica até difícil trabalhar assim”, contou o dono do comércio, de 60 anos, que não quis ser identificado.
“Estamos arrasados. É inadmissível o que ocorreu”, diz Jerusa
Mãe do genro do aposentado Daniel Ribeiro Campos da Silva, 68 anos, a aposentada Jerusa Durr Aguiar, de 72, desabafou sobre a morte ocorrida dentro da clínica em Vitória. “É inadmissível o que aconteceu. Estamos arrasados!”
A Tribuna — Como ficou sabendo do que aconteceu?
Jerusa Durr Aguiar — Minha filha me ligou logo cedo, dizendo que o Daniel havia falecido. Eu até falei: “Foi feita a vontade do senhor.” Mas falei isso porque ele já estava internado na clínica havia dois anos. Mas aí minha filha falou: “Não, mãe. Ele foi morto com um tiro na cabeça”. Daí eu fui correndo para a clínica.
O que te contaram sobre o que aconteceu?
Minha nora, às 4 horas, recebeu uma ligação do diretor da clínica, pedindo para que ela fosse até lá. Ela foi e lá estava o maior tiroteio. Ela ouviu os tiros, quando ela entrou descobriu que o pai havia sido morto por um tiro.
O senhor Daniel estava se tratando de quê?
Ele teve um AVC hemorrágico, ele não conseguia verbalizar, mas estava lúcido, entendia tudo, chorava quando a gente chegava…
Como a família se sente com essa falta de segurança dentro de um hospital?
Estamos em estado de choque. A gente vê muito disso no Rio de Janeiro. Ainda não caiu a ficha. E o meu questionamento é: aquelas paredes foram feitas de concreto?
Pela região, porque tiro ali é constante, eles deveriam ter feito algo mais seguro. E outra coisa: o Estado deveria investir mais em segurança pública. Minha nora falou que foi um tiroteio terrível, ela ainda dentro do hospital, ouviu os tiros, então, cadê a segurança pública? É inadmissível o que aconteceu, estamos arrasados.
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Pregos em ruas e fogo em picape
Além de atirarem contra policiais militares, traficantes supostamente do Jaburu, em Vitória, colocaram fogo em um carro no bairro e tentaram impedir a chegada de viaturas ao morro, colocando pregos nas principais entradas que dão acesso à região.
O material foi encontrado, na manhã deste domingo, pela equipe de reportagem, que esteve no local do confronto. O veículo incendiado foi uma Hilux, que estava estacionada em frente a um comércio.
Em frente a uma das entradas do bairro, ao lado da clínica de longa permanência onde o aposentado Daniel Ribeiro Campos da Silva, 68 anos, foi morto por uma bala perdida, um carro acabou atingido por um tiro. Ele pertence a um homem que estava acompanhando um familiar na clínica.
Enquanto a equipe de A Tribuna fazia registros das marcas de violência no local, o dono do carro se surpreendeu ao descobrir que seu veículo havia sido atingido.
“Eu não sabia. Vi vocês aqui e decidi descer para ver o que era, quando chego, vejo meu carro atingido”, contou o dono do carro, que não quis se identificar.
Moradores de Bento Ferreira informaram que prédios do bairro foram atingidos por projetéis.
Morte de menor teria sido o motivo
A morte de um adolescente de 16 anos pode ter sido o motivo para os ataques promovidos por traficantes do bairro Jaburu e da Gurigica, em Vitória, contra policiais militares, segundo testemunhas. A polícia não descarta a possibilidade.
O menor morreu com lesões no pescoço. Relatos de testemunhas indicam que o adolescente teria sido espancado na escadaria Cláudio Antônio da Silva, na Gurigica.
Ele foi socorrido e levado ao Hospital Estadual de Urgência Emergência (HEUE), mas não resistiu e morreu, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
Testemunhas disseram à reportagem que ele teria recebido uma abordagem policial no local, o que a Sesp informou que está investigando.
Os fatos começaram, segundo a Sesp, com uma apreensão de drogas na Gurigica e com a fuga de dois suspeitos, por volta das 18 horas.
Duas horas depois, um jovem de 23 anos foi assinado no bairro São Cristovão, próximo à Avenida Maruípe, de acordo o secretário Alexandre Ramalho. Segundo ele, a princípio seria uma tentativa de sequestro, mas o jovem reagiu e foi morto a tiros.
Às 21 horas, ocorreu uma ação policial no Morro do Macaco, onde, segundo a Sesp, houve confronto armado com um suspeito, que levou um tiro na perna e foi levado ao HEUE. Depois, às 23 horas, o adolescente foi morto.
Durante a madrugada, então, criminosos tomaram a Leitão da Silva, “em uma ação violenta com muitos disparos de armas e depredação de veículos”, segundo a Sesp. E, por volta das 3 horas, a polícia recebe a informação da morte do paciente Daniel Ribeiro Campos da Silva, de 68 anos, atingido na cabeça por uma bala perdida.
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