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ENTRE PRATELEIRAS

O problema de repetir o certo

Enquanto o certo busca organizar o mundo, o verdadeiro tenta explicá-lo

Jaques Paes | 03/11/2025, 08:00 h | Atualizado em 31/10/2025, 18:28
Entre Prateleiras

Jaques Paes

Executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV



          Imagem ilustrativa da imagem O problema de repetir o certo
Jaques Paes |  Foto: Divulgação

Possivelmente tu já tenhas lido a frase “O certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo; o errado é errado, mesmo que todos estejam fazendo” em algum post de rede social. Talvez até tenhas dito a alguém.

E esta frase, ao menos pra mim, traz uma verdade. Mas nem tudo o que é certo é verdadeiro, e nem tudo o que é verdadeiro cabe no que chamamos de certo.

O “certo” é filho de um tempo, de uma estrutura, de um enquadramento social.

Ele é certo naquele cenário específico em que foi pensado. Mas, quando o tempo muda e insistimos em repeti-lo, ele deixa de refletir a realidade — ainda que continue sendo reconhecido como se fosse.

Permanece “certo” à luz do tempo, mas já não diz nada sobre o mundo que o criou. Sua repetição preserva a forma e abandona o sentido. E, quando o sentido se perde, o que era verdadeiro deixa de ser — então nasce uma narrativa.

Sob a ótica do tempo, não existe verdade que sobreviva à inércia. A verdade não é estável; ela pulsa. Precisa ser revisitada, tensionada — posta à prova.

Repetir o que pensamos ainda ser certo é uma forma de evitar o risco de ver nossa opinião ruir. É um modo elegante de se proteger da dúvida.

Mas a verdade vive exatamente no atrito com a dúvida. Quando o certo é repetido para evitar o desconforto, ele deixa de ser caminho e vira abrigo.

A repetição mata o verdadeiro não por erro, mas por covardia.

O pensamento morre quando uma ideia tem sucesso o bastante e deixa de ser questionada - por ter funcionado bem em um tempo que já passou.

Então chegamos ao ponto em que o certo inebria a vitalidade da verdade: vira a tradução do “verdadeiro”, um número, um objeto, algo que podemos contar. Nada que se possa contrariar.

Mas o certo é filho do tempo.

É certo dizer que a crise no Rio é uma questão de segurança pública. É verdadeiro que ela também é uma crise de Estado — de ausência, de gestão e de projeto.

É certo pedir punição exemplar diante de cada erro. É verdadeiro admitir que justiça não se faz com raiva, mas com estrutura.

É certo defender a educação como solução para tudo. É verdadeiro perceber que ensinar exige mais do que escola — exige exemplo, tempo e política de Estado.

É certo repetir que o uso de combustíveis fósseis é vilão. É verdadeiro que, sem eles, ainda não há transição possível.

É certo celebrar a energia limpa. É verdadeiro admitir que cada megawatt “verde” ainda depende de mineração, de linhas, de solo, de gente.

É certo criticar a exploração na Margem Equatorial. É verdadeiro reconhecer que a discussão não é sobre perfurar ou não, mas sobre o que fazer com o que vier de lá.

É certo dizer que o Brasil precisa crescer. É verdadeiro lembrar que, sem mudar a forma de crescer, continuaremos apenas multiplicando o mesmo problema.

O certo representa o que é socialmente aceito, moralmente previsível, confortável — uma resposta que aparentemente funciona; o verdadeiro, revela as contradições e complexidades que o certo simplifica.

O certo é a ordem - necessário pra operar o mundo. Mas quando se torna refúgio, a verdade passa a ser o risco.

Continuo o assunto nas redes: Instagram: @jaquespaes; LinkedIn: in/jaquespaes

Jaques Paes é executivo, mestre em gestão empresarial, consultor, mentor de profissionais em transição de carreiras e professor do MBA de ESG e Sustentabilidade da FGV.

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Esta coluna parte da ideia de que gestão, sustentabilidade, projetos e estratégia não vivem em gavetas separadas. “Entre Prateleiras” é o espaço onde essas fricções aparecem e onde decisões, narrativas e contradições se encontram. Seu propósito é trazer à superfície o que costuma ficar guardado para provocar conversas que façam diferença no mundo que a gente vê lá fora.