Gabriel Chalita: “Precisamos incentivar o jovem a ser protagonista”
Professor defende que as escolas devem ajudar o aluno a ter autonomia e consciência das suas escolhas
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A escola da transmissão do conteúdo, do depósito de informações e da relação unilateral entre educador e educando está no passado.
Com a crescente necessidade de desenvolvimento de habilidades socioemocionais, os estudantes precisam de caminhos para construírem o protagonismo.
Criatividade, resolução de problemas, proposição de intervenções e soluções, além de autoconhecimento e de autonomia, formam alguns dos métodos para o desenvolvimento das inteligências humanas. E, claro, não seria diferente para os jovens.
A análise é do professor universitário, escritor e assessor de Educação do Serviço Social do Comércio do Rio de Janeiro (Sesc-RJ), Gabriel Chalita. Em entrevista ao jornal A Tribuna, o educador aponta as responsabilidades das escolas e das empresas em construir mecanismos para potencializar o protagonismo juvenil.
“A sociedade é formada por pessoas. Pessoas melhores melhoram a sociedade. Precisamos de pessoas que compreendam que a postura ética é fundamental para um mundo de paz”, defende.
A Tribuna - O avanço da tecnologia exige uma busca por novos tipos de formação e caminhos para enfrentar o mercado. Já é possível apontar quais seriam esses caminhos?
Gabriel Chalita - A tecnologia mudou a relação entre as pessoas, na vida pessoal e profissional. Isso exige uma profunda reflexão pessoal: o que eu faço com o meu tempo, como consigo administrar tanta demanda tecnológica e ao mesmo tempo dar atenção às pessoas, como combater os exageros, os vícios e a desatenção?
E exige uma profunda mudança de postura profissional, é preciso compreender que o mundo do trabalho é outro depois das mudanças tecnológicas. E aqui não se trata apenas de saber usar as novas ferramentas, mas de compreender que as atividades de repetição que eram operadas por pessoas hoje são operadas por máquinas. E que, portanto, as pessoas precisarão de mais preparo para novas ocupações no mercado de trabalho.
- Ouvimos, com frequência, sobre a necessidade de formação de jovens protagonistas. O que isso significa? Qual o papel da escola nesse cenário?
A escola é um preparo para o voo, a escola é um abrir as portas do amanhã. A escola não é um depositário de informações, é um espaço privilegiado de encontros, da pessoa consigo mesmo e com o outro. E nesse sentido é seu papel ajudar o aluno a ser protagonista, a ter autonomia, a ser o sujeito consciente das escolhas que terá que fazer na vida. Precisamos incentivar jovens a serem protagonistas.
- Quais são os benefícios do desenvolvimento do protagonismo para os jovens?
O primeiro dos benefícios é a liberdade. O conhecimento ajuda a compreender as escolhas que eu preciso fazer na vida. As mais banais e as mais complexas. O conhecimento ajuda a caminhar com os próprios pés, a buscar o trabalho que mais me realiza, a perceber e a lutar pelos meus direitos. Me faz entender que eu preciso respeitar o outro.
- Para estimular esse protagonismo nos alunos, imagino que o foco da educação deva ser o sujeito ao invés daquela antiga “transmissão de conteúdo”. Essa mudança de perspectiva pedagógica existe?
Há excelentes escolas e sistemas que já compreenderam isso. E há infelizmente muitas e que ainda trabalham apenas com a transmissão de conteúdos ou informações. O aluno precisa se sentir sujeito, precisa resolver problemas, precisa propor soluções e precisa ativar sua criatividade.
- No contexto do protagonismo, como a educação profissional se destaca?
A educação profissional está sempre ligada ao mercado de trabalho, então ela dialoga com as necessidades reais para a formação dos novos profissionais. Na educação profissional o aluno aprende fazendo. Isso ajuda muito o seu desenvolvimento.
- Já em relação a jovens adultos, qual é o papel das empresas em desenvolver esse protagonismo aos colaboradores?
As empresas também precisam investir em processos de formação humana. Há muitas universidades corporativas desenvolvendo excelente trabalhos. A formação em trabalho é essencial. As pessoas não saem prontas das escolas.
- Para construir esse protagonismo, os jovens precisam de consciência sobre a realidade social? E, por outro lado, como o autoconhecimento contribui?
Claro. Ninguém é feliz sozinho. Há um pilar do desenvolvimento humano que é o pilar social. Os três grandes pilares do desenvolvimento educacional são: cognitiva, social e emocional. É na relação com o outro, no sentimento da compaixão, na fraterna relação com os diferentes que o sujeito se realiza.
- Se você pudesse dar uma dica a um jovem que está optando por uma carreira profissional, qual seria o principal apontamento?
Encontre o que você goste, encontre o seu lugar no mundo, o lugar em que você se realiza pessoalmente e profissionalmente.
Perfil
Gabriel Chalita
- É doutor em Direito e em Comunicação e Semiótica, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
- É professor dos cursos de graduação e pós-graduação nas universidades PUC-SP, Mackenzie e IBMEC.
- É membro da Academia Brasileira de Educação, da Academia Brasileira de Cultura e, também, da Academia Paulista de Letras. Atualmente, é assessor de Educação do Sesc RJ.
- Foi secretário de Estado da Educação do Estado de São Paulo, entre 2002 e 2006, e presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em 2013.
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