1 milhão pode financiar imóvel mesmo sem carteira assinada
MEIs e trabalhadores informais também podem comprar de forma parcelada. Especialistas explicam de que forma fazer
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Financiar imóveis é possível também para quem não tem carteira assinada. No Espírito Santo, 1,1 milhão de profissionais informais e microempreendedores individuais (MEIs) têm a possibilidade de usar outros documentos como comprovação de renda para conseguir a casa própria.
A complexidade desse tipo de operação, questionada por alguns, é apenas aparente, segundo especialistas como o diretor da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-ES) e superintendente comercial da CrediPronto, Christiano Pereira.
“As condições para quem não tem carteira assinada para contrair financiamento imobiliário são as mesmas. O que muda é a forma de comprovação da renda, que deve ser de responsabilidade do cliente”, afirma.
O extrato de movimentação bancária, o comprovante da fatura do cartão de crédito e principalmente a declaração do Imposto de Renda são documentos fundamentais de serem entregues ao banco, segundo o diretor do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário (Secovi-ES) e da Gava Crédito Imobiliário, Ricardo Gava.
“O envio da declaração é agora no início do ano. É bom ter um Imposto de Renda organizado para facilitar a contratação do financiamento. Ele é o documento mais solicitado desse público pelos bancos .”
As principais reclamações de quem não consegue crédito imobiliário sendo trabalhador informal é justamente a dificuldade em comprovar a renda. Gava atribui o problema à falta de conhecimento.
“A questão é informar, orientar esse público para que possam se organizar com clareza para conquistar o desejado crédito”.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, no primeiro trimeste de 2023, o Estado tinha 789 mil trabalhadores informais, sendo 328 mil residentes na Grande Vitória. Em Vitória, são 52 mil que exercem atividade na informalidade.
Já os MEIs, que não são considerados trabalhadores informais, mas são enquadrados em outras regras diferentes da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), somam mais de 335 mil pessoas no Espírito Santo. Desse total, 31.735 são da capital.
Saiba mais
Dá para comprovar renda
Embora não tenha o contracheque, uma das principais formas de demonstrar a capacidade de pagamento aos bancos, o trabalhador informal e o microempreendedor individual pode utilizar outros recursos.
A declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física é o principal documento que pode ser usado por esse público, segundo especialistas.
Outros documentos também podem auxiliar, como fatura de cartão de crédito e extrato de conta corrente com cheque especial.
Motorista de aplicativo
Para quem trabalha como motorista por aplicativos, também é possível apresentar o extrato de rendimentos liberado pela plataforma, segundo o advogado Diovano Rosetti.
Compra conjunta
Para facilitar a comprovação de renda e melhorar a pontuação, é possível também realizar o financiamento do imóvel por meio de uma compra conjunta, segundo o diretor do Secovi-ES e da Gava Crédito Imobiliário, Ricardo Gava.
Nessa modalidade, um irmão ou outro familiar podem entrar em uma sociedade, incluído no contrato e compondo a comprovação de renda.
Importante ressaltar, porém, que o bem passa a ser dos dois. Portanto, é necessário pensar bem antes de aderir ao formato.
Para facilitar ainda mais
Sempre tente movimentar o máximo que for possível em uma conta-corrente. Procurar um banco que julgue melhor seu perfil e construir relacionamento com ele ajuda a ter mais chances de conseguir o crédito. Quanto mais o banco conhecer o cliente, maior será a pontuação.
É crucial organizar as finanças e considerar também, se for o caso e conforme as regras da Receita Federal, fazer a declaração do Imposto de Renda na data correta. Isso dá sustentação para a comprovar renda.
Para microempreendedores individuais (MEIs), é preciso entregar a declaração do próprio MEI, documento que o banco analisa.
Antes de tudo, é preciso considerar a importância de estar quite com obrigações financeiras e fiscais. Não pode ter nome sujo, nem estar com alguma obrigação fiscal em aberto.
Fonte: especialistas citados.
Facilidade para comprovar renda no Minha Casa, Minha Vida
Desde julho o governo federal estuda incluir trabalhadores autônomos no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV), inclusive com mecanismos para facilitar a comprovação de renda desse público.
Catadores de materiais recicláveis, motoristas de aplicativos e vendedores ambulantes estão entre as categorias que podem ter o financiamento facilitado caso a medida avance dentro do governo.
Na época, o ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que o tema está maduro dentro do ministério, mas era preciso avançar antes com outras portarias pendentes.
A reportagem do jornal A Tribuna procurou o Ministério das Cidades para saber sobre o avanço da proposta, mas ainda não recebeu retorno.
Despesas básicas de contas de água, luz e telefone; boletos de plano de saúde, consórcio ou previdência privada, assinatura de jornais, internet e comprovação de TV a cabo são alguns dos documentos que podem passar a ser reconhecidos com mais facilidade, segundo o advogado imobiliário Diovano Rosetti.
No Brasil, estima-se que 38,3 milhões de pessoas estão na informalidade, considerando os dados do primeiro trimestre de 2023 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número representava 39,2% da população economicamente ativa.
O obstáculo da burocracia acaba afastando alguns trabalhadores informais das instituições financeiras tradicionais, o que pode ser corrigido por políticas públicas voltadas a esse público, afirma o economista Ricardo Paixão.
“A gente não pode deixar esse público à própria sorte. Eles têm renda, são consumidores e também movimentam a economia”, afirma.
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