Inteligência Artificial, energia, água e o papel do ES na COP30
O avanço da IA expõe um impacto ambiental que exige escolhas sustentáveis
A expansão acelerada da inteligência artificial inaugura uma virada histórica. Modelos capazes de traduzir idiomas, criar imagens, diagnosticar doenças e prever comportamentos prometem aumentar a produtividade e transformar setores inteiros. No entanto, por trás da inovação há um custo oculto: o consumo crescente de energia e água pelos data centers, os grandes “cérebros” que armazenam e processam tudo o que acontece no mundo digital.
Para entender essa relação, basta lembrar que computadores funcionam com eletricidade passando por bilhões de transistores microscópicos. Esse fluxo constante produz calor, que precisa ser dissipado. Quanto maior o volume de dados processados, maior o aquecimento — e maior a demanda por resfriamento.
Hoje, gigantescos data centers consomem tanta energia quanto cidades inteiras, e usam milhões de litros de água por dia para evitar o superaquecimento. Cada consulta em um mecanismo de IA pode representar o equivalente ao descarte de uma garrafa de água.
O avanço da IA sobrecarrega sistemas elétricos já pressionados. Nos Estados Unidos, os data centers respondem por cerca de 5% do consumo nacional de eletricidade.
Na Irlanda, já chegam a 20%. E a previsão é que, nos próximos cinco anos, o consumo global desses centros deve mais do que dobrar. Ao mesmo tempo, parte significativa da energia que alimenta essa revolução digital ainda vem de fontes fósseis, como carvão e gás natural — o que amplia as emissões e agrava o aquecimento global.
É nesse cenário que a COP30, realizada em Belém, ganha dimensão estratégica. Pela primeira vez, a conferência climática acontece na Amazônia — região que concentra cerca de 20% da água doce superficial do planeta e pode se tornar referência em transição energética, reflorestamento e tecnologias limpas. O Brasil tem a oportunidade de liderar uma agenda de IA sustentável.
O Espírito Santo se apresenta à COP30 com medidas que apontam nessa direção. Entre elas, o selo Descarboniza-ES, que estimula empresas a reduzirem emissões; o Plano Estadual de Adaptação às Mudanças Climáticas; o apoio aos municípios na elaboração de planos de redução de risco; e avanços no Cadastro Ambiental Rural para recuperação de áreas degradadas.
Ao mesmo tempo, Vila Velha leva exemplos concretos de política pública aplicada: merenda escolar baseada em agricultura local, redução de desperdício, incentivo a produtores e ações de reflorestamento urbano.
Essas iniciativas mostram que tecnologia e sustentabilidade não precisam ser forças opostas. A era da inteligência artificial exige não apenas inovação, mas escolhas. O desafio não é frear o avanço tecnológico, e sim garantir que ele seja compatível com a vida — humana e ambiental. A COP30 pode ser o palco para essa decisão.
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