Diagnóstico precoce de lesões bucais na população vulnerável
Radiologia odontológica é aliada essencial na prevenção e na equidade em saúde bucal
Em um país marcado por desigualdades sociais e barreiras de acesso aos serviços de saúde, discutir saúde bucal é falar de dignidade, prevenção e direitos básicos. Nesse cenário, os exames radiográficos se consolidam como ferramentas essenciais para o diagnóstico precoce de lesões bucais, especialmente em populações vulneráveis, onde o cuidado muitas vezes chega tarde demais.
Segundo dados do SB Brasil 2020, levantamento coordenado pelo Ministério da Saúde, cerca de 48% dos brasileiros adultos já perderam pelo menos um dente, e 23% dos idosos são completamente desdentados. A cárie dentária continua sendo uma das doenças crônicas mais prevalentes, afetando principalmente indivíduos de baixa renda e escolaridade. Muitos desses casos poderiam ser evitados ou tratados de forma menos invasiva se identificados precocemente, o que reforça o papel central da radiologia odontológica na atenção básica e especializada.
Lesões como cáries profundas, reabsorções ósseas, cistos, tumores e outras alterações nem sempre são detectadas em um exame clínico convencional. A radiografia, seja periapical, panorâmica ou por tomografia cone beam, permite visualizar estruturas internas e diagnosticar precocemente alterações que, se negligenciadas, podem evoluir para quadros graves, dolorosos e de alto custo.
Em comunidades vulneráveis, onde o acesso ao dentista é limitado e o cuidado só é buscado em situação de urgência, a utilização estratégica dos exames radiográficos representa uma oportunidade concreta de mudar trajetórias. Um cisto removido antes de se expandir, um tumor diagnosticado antes de causar metástase, uma lesão periapical tratada antes de comprometer dentes adjacentes: são exemplos de situações em que a imagem salva não apenas estruturas, mas também qualidade de vida.
Além do atendimento individual, a radiologia pode apoiar ações coletivas. Mutirões, programas itinerantes e parcerias com universidades podem oferecer exames a comunidades inteiras, mapeando necessidades, prevenindo agravos e orientando políticas públicas. A digitalização das imagens e a telerradiologia são aliadas importantes nesse processo, permitindo a leitura especializada mesmo em regiões remotas.
Entretanto, desafios persistem: a escassez de equipamentos no SUS, a capacitação limitada dos profissionais da atenção primária e a ausência de protocolos bem definidos de encaminhamento dificultam o uso pleno da radiologia como ferramenta de promoção da saúde bucal.
Garantir o acesso universal aos exames radiográficos não é um luxo tecnológico: é uma estratégia de saúde pública, de prevenção e de justiça social. O diagnóstico precoce pode ser a diferença entre um problema controlado e um sofrimento evitável.
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