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Leitores do Jornal A Tribuna

A técnica mais preciosa do cirurgião plástico é saber ouvir

Hoje, são realizadas mais de 1,7 milhão de cirurgias plásticas por ano no País: 60% são de origem estética

Leonardo Merçon | 05/06/2023, 13:51 13:51 h | Atualizado em 05/06/2023, 13:51

Imagem ilustrativa da imagem A técnica mais preciosa do cirurgião plástico é saber ouvir
Leonardo Merçon, Médico Cirurgião Plástico |  Foto: Divulgação

“Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo (a) do que eu?”. A famosa questão do conto infantil é uma conversa bem íntima, daquelas que sussurramos na cabeça secretamente.

Na vida real, afirmo que o espelho dá respostas mais sobre o que está na mente do que sobre o reflexo. Quando falamos sobre as intervenções cirúrgicas estéticas, esse paralelismo está presente constantemente. É notado pelo médico já no primeiro contato, naquela consulta que pode durar mais de uma hora. São aspirações do cliente, que nem sempre são palpáveis, mas se tornam angústias dentro de cada pessoa.

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Ao definir o que é belo, o pensador grego Sócrates dizia ser uma concordância do que era observado pelos olhos e ouvidos. Isso mesmo que você leu: ouvidos. O filósofo descreve também que a beleza está no que tem caráter prático, ou seja, no que pode ser proveitoso, e não apenas na aparência de um objeto. 

Por isso, digo que a técnica mais preciosa do cirurgião plástico é ouvir. É a destreza de descobrir onde estão os incômodos limitadores de quem o procura. Ouvir as dúvidas e os sonhos.  

Entendendo o todo, o contexto e o físico, fica nas mãos do médico cirurgião plástico abrir um leque de possibilidades, todas visando valorizar as individualidades. E, por tabela, incentiva o autoconceito desse paciente. É quase como um grande negociador: realçar os traços de maneira natural, sem perder a herança genética, e atender às expectativas. 

O equilíbrio desses itens provoca o restabelecimento do amor próprio. Resultado mais desejado tanto por quem maneja o bisturi quanto por quem investe e anseia. 

A cirurgia plástica conquistou seu espaço na sociedade após a 1º Guerra Mundial. As lesões de soldados e vítimas da guerra demandaram reparações que pareciam apenas externas. Mas eram, na verdade, na alma. Eram marcas de guerra que deveriam receber cuidados dignos.

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Compreender o paciente, suas dores, contextos e porquês que deseja o procedimento cirúrgico é respeitar a diversidade e a individualidade de cada um. Atualmente, são realizadas mais de 1,7 milhão de cirurgias plásticas por ano no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Delas, 60% são de origem estética, um desejo entre o reflexo do espelho e um corpo.

Reproduzir padrões estéticos e não parar para analisar particularidades é materializar belezas irreais. A busca de um poder social transmitido pela aparência não atenderá ao que é particular do cliente. A distorção entre o idealizado e o possível pode vir a provocar até mesmo doenças mentais, como ansiedade e depressão. 

Não existe impessoalidade em cirurgias estéticas. E nem fórmula mágica. Afinal, lembro a cada minuto que trata-se de uma intervenção cirúrgica e que isso possui riscos agregados. A transparência médica antes dos quereres dos pacientes, por isso a confiança no profissional é essencial. 

Pode até ser bonito ou moda. Porém, as cicatrizes e alterações ficam. A escuta qualificada feita pelo cirurgião plástico é quase uma “conversa de comadres”, pode até ter café e bolo.

Leonardo Merçon é médico cirurgião plástico

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