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Papo de Família

Papo de Família

Colunista

Cláudio Miranda

Você, suas imperfeições e cicatrizes

Ter coragem de ser imperfeito é assumir sua humanidade

Cláudio Miranda | 22/05/2023, 15:44 h | Atualizado em 22/05/2023, 15:45

Imagem ilustrativa da imagem Você, suas imperfeições e cicatrizes
Cláudio Miranda é terapeuta individual e familiar, psicopedagogo clínico e colunista de A Tribuna |  Foto: Divulgação/Fernanda Pompermaiye

O modelo de educação que recebemos em nossa sociedade nos ensina a sermos fortes, famosos, perfeitos e bem-sucedidos. Não conquistar isso é frustrante e decepcionante. Mostrar vulnerabilidade, fraqueza e limitações é motivo de humilhação e de depreciação.

O tempo todo somos impelidos a ser melhores e superiores. É difícil escapar desse pensamento.

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Não há espaço para erro e fracasso. Se isso acontece, o sentimento de culpa e de vergonha se apossa da pessoa, fazendo-a desistir dos seus sonhos e de tentar superar seus limites. 

Você já passou por uma situação assim? Conseguiu superar ou sofre com essas cobranças sociais e familiares até hoje?

A mulher tem de estar dentro de um padrão de beleza. O homem tem de ser bem-sucedido profissionalmente e financeiramente. O filho tem de ser o melhor aluno. Além disso, temos de seguir a moda, viajar e nos exibir. 

Com o crescimento da comunicação virtual, as cobranças se amplificam. É comum as pessoas fazerem uma foto de banalidades como o prato doce ou salgado que vai comer e o local que visitou. Tudo é motivo para exposição das situações do sucesso e de conquistas.

Os erros, as perdas e as imperfeições não importam. Elas devem ser escondidas. 

Então começamos desde muito cedo a mostrar o que não somos ou mostrar apenas uma parte de nós, e aí perdemos a nossa essência. Passamos a viver de forma fragmentada e começamos a sofrer escondendo do mundo e das pessoas as nossas dores, cicatrizes e fracassos.

Quando você não consegue corresponder às cobranças e imposições familiares e sociais, então você sofre. Aí começam surgir todo tipo de frustrações, ansiedades e depressões.  

Nos esquecemos de que uma cicatriz é um sinal de que um problema de saúde foi superado. Desconsideramos que o erro é o caminho para o acerto. 

A vida é um processo constante de mudanças e de conquistas. Aceitar e viver isso em si são um passo para se sentir melhor.

Ter coragem de ser imperfeito é assumir sua humanidade. Cada dia é uma oportunidade de nos tornarmos melhores. O desequilíbrio de agora nos fará equilibrados amanhã. Há no ser humano uma falibilidade natural que o faz evoluir. Assim tem acontecido há séculos e milênios. Vivemos o tempo todo um processo de descobertas e de redescobertas.

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Na terapia, o terapeuta conduz o paciente a um caminho de ressignificação de sua dor. Todo o drama de vida da pessoa segue para um processo de reparação e de aceitação.

Há uma técnica de reparação japonesa de cerâmicas quebradas com ouro em pó. Nessa técnica chamada Kintsugi, as partes defeituosas são tratadas e coladas e suas emendas ficam mais destacadas pelo ouro que se coloca entre elas. Com isso, a peça ganha uma beleza única dando àquela peça um valor maior do que se tinha antes.

A mensagem contida aqui é que as pessoas aceitem suas imperfeições e defeitos para poder criar uma versão mais forte, bonita e de mais valor. Ao invés de tentar disfarçar as cicatrizes e as falhas, elas se tornam evidentes, emitindo, desse modo, uma mensagem de superação

Cláudio Miranda é terapeuta individual e familiar, psicopedagogo clínico, pós-graduado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP

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