Setembro amarelo
Setembro amarelo é mais do que símbolos: é acolher, agir e salvar vidas de verdade
Setembro chegou e, como sempre, as redes sociais vão se encher de postagens amarelas. Empresas vão fazer palestras, distribuir brindes, pedir para todo mundo usar aquela fitinha. É importante? Sim. Pelo menos estamos falando de algo que existe e que mata todos os dias. Mas isso basta? Porque setembro passa. E depois? Quem fala sobre isso em outubro, novembro ou nos outros meses do ano? Precisamos nos perguntar se essas ações simbólicas realmente têm efetividade.
A sua empresa, por exemplo, além de entregar uma fitinha para mostrar responsabilidade social, oferece treinamento a equipe para aprender sobre primeiros socorros psicológicos, sabendo lidar com situações em que alguém apresenta sinais ou verbaliza intenção suicida?
E na sua casa? Você conversa sobre isso com sua família? Sobre vida, morte, frustrações e coragem? Porque, para mim, não é fraqueza — é coragem silenciar uma dor tão profunda. E o que podemos fazer para que alguém não precise chegar a esse ponto?
E nas igrejas? Quando se fala sobre suicídio, é acolhimento ou condenação? Porque dizer “quem comete suicídio vai para o inferno” não ajuda. Para quem pensa em se matar, o inferno já é aqui, já é agora, dentro dela mesma. Essa pessoa não precisa de julgamento, precisa de acolhimento, precisa ouvir que a vida ainda pode ter sentido.
E nas redes sociais? Todo setembro é igual: stories cheios de “conte comigo”, “estou aqui para você”, “pode me chamar”. Mas e quando alguém chama? E quando chega no seu direct: “Oi, tudo bem? Hoje tomei três cartelas de remédio porque não quero mais viver.” O que você faz? Você está preparado para agir? Porque não adianta postar empatia se ela não é prática. Não adianta ser bonito no feed elsem conteúdo na vida real. Sabe o que é o CVV ou a RAPS? Abre o seu Google aí, já que você se importa!
Setembro Amarelo é uma campanha de ação. E ações precisam ser contínuas, reais e eficazes. Para reduzir os índices de suicídio, precisamos de acolhimento, sensibilidade e percepção. Precisamos olhar para quem está ao nosso lado, no trabalho, em casa, na igreja. Aquela pessoa que fica oito horas por dia ao nosso lado pode estar se afogando — e a gente nem percebe. Não dá para se limitar a um bombom amarelo, uma palestra teórica ou post no Instagram. Isso é pouco diante do tamanho do problema.
E por que isso é tão sério? Porque os números são alarmantes. No mundo, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, uma morte a cada 45 segundos. É a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, nos últimos 10 anos, mais de 144 mil tiraram a própria vida. Em 2023, o SUS registrou 11.502 internações por lesões autoprovocadas, 31 por dia. No Estado, só em 2024, foram 2.621 tentativas, um aumento em relação a 2023. Esses números gritam, mas será que a gente está ouvindo?
Antes de postar “conte comigo”, pense se realmente vai estar lá quando alguém precisar. Pense se sabe o que fazer caso alguém peça ajuda. Porque no fim, não é sobre um laço amarelo. É sobre vidas se perdendo. E talvez a sua atitude hoje seja a diferença necessária.
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