Espaço, visibilidade e dignidade
Reflexão destaca a importância de reconhecer idosos para além dos estigmas
Neste fim de semana, recebi um vídeo de uma senhora idosa que me fez um pedido: escrever sobre a terceira idade e sobre como viver essa fase de forma saudável e feliz. O nome dela: Iaga, assinante deste jornal!
Mas, ao escutar sua fala, percebi que o que ela realmente buscava não era um texto sobre saúde, e sim sobre reconhecimento.
O pedido não era sobre exercícios, alimentação ou hábitos de bem-estar, mas sobre espaço, visibilidade e dignidade. O que ela queria era ser vista como é — alguém que não cabe na forma limitada com que a sociedade insiste em enquadrar os idosos.
Iaga é professora de ioga e dá aulas a outros idosos em um Centro de Referência e vive de forma ativa, presente e produtiva. O que senti ao ser procurada foi um apelo: “Mostre quem nós somos, além desse olhar que nos colocam.”
Esse pedido não é só dela. É um grito de muitos que querem ser reconhecidos na sua pluralidade, e não reduzidos a estigmas.
A psicologia nos ajuda a compreender essa necessidade por meio da Teoria do Reconhecimento, de Axel Honneth, que mostra que a identidade de uma pessoa só se constrói plenamente quando ela é reconhecida em sua dignidade e singularidade.
O reconhecimento não é apenas um gesto social: é elemento constitutivo da subjetividade. Quando ele falha, o sujeito sente sua existência diminuída.
Por outro lado, quando há reconhecimento, os efeitos são poderosos. Para quem é reconhecido, há fortalecimento da autoestima, da autoconfiança e do senso de pertencimento. E para aquele que reconhece o ato de ver o outro na sua singularidade expande horizontes, quebra preconceitos e abre espaço para relações mais humanas e inclusivas. Reconhecer é uma via de mão dupla!
Não é difícil perceber como a ausência de reconhecimento impacta a vida. Se vejo um idoso apenas como inválido, posso ignorar seu pedido de fala, não levá-lo a sério e excluir sua voz dos espaços coletivos. Assim, criamos rótulos que alimentam práticas discriminatórias pelo estigma.
Este repete-se em relação ao gênero, à orientação sexual, à etnia, à origem regional e a tantas outras identidades.
Ao reforçarmos imagens generalizadas, acabamos por criar caixas. E dentro delas depositamos pessoas, colando etiquetas que pouco dizem sobre suas reais possibilidades. Porém, a vida não cabe nessas caixas. Iaga me fez lembrar que a diversidade é constitutiva da experiência humana e que ignorá-la é um erro que empobrece a todos nós.
Pesquisas recentes na Psicologia Social e na Gerontologia mostram que idosos que se percebem reconhecidos socialmente apresentam níveis mais baixos de depressão e ansiedade, além de maior engajamento comunitário.
Ao mesmo tempo, jovens e adultos que convivem com essa diversidade desenvolvem mais empatia e flexibilidade diante da vida. Minha filha de 3 anos estes dias fez ginástica no CEMEI João Pedro junto com os idosos do Centro de Referência do meu bairro e amou. Que seja, portanto, um convite — olhar para além das etiquetas, além da caixinha, e enxergar o sujeito na sua essência e singularidade. Afinal, quando reconhecemos o outro, fortalecemos não apenas a sua humanidade, mas também a nossa própria.
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