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Olhares Cotidianos

Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta

Colunista

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária

Conversa franca com meu pai

Um reencontro que transformou ausências em novos começos

Sátina Pimenta, colunista de A Tribuna | 14/08/2025, 12:26 h | Atualizado em 14/08/2025, 12:26

Imagem ilustrativa da imagem Conversa franca com meu pai
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária |  Foto: - Divulgação

No último sábado (9), próximo ao Dia dos Pais, decidi encontrar o meu. Foi um dia só nosso — e, talvez, um dos mais significativos da nossa história. Sentamos para conversar e, entre palavras e pausas carregadas de significado, as lágrimas apareceram. Choramos juntos, não apenas pelo que passou, mas pelo que ainda é possível viver.

Hoje, aos 43 anos, e com ele aos 70, percebo que há uma maturidade nova nas nossas conversas. Conseguimos falar de coisas que antes pareciam muros: o passado que nos moldou, o presente que nos desafia e o futuro que ainda podemos criar. Dessa vez, não apontei o dedo apenas para as ausências dele — reconheci também as minhas. Em muitos momentos, me faltou maturidade para pedir a presença dele e para abrir um espaço real para que ele pudesse estar. Às vezes, minha reação à dor foi o afastamento, como se me proteger distanciasse o incômodo, mas na verdade só aumentava a distância entre nós.

Ele compartilhou como viveu a infância, adolescência e juventude imerso em obrigações e responsabilidades, o que o afastou de momentos comigo. Eu também confessei minhas dores — não explicadas na época, mas muitas vezes explodidas — e a falta que ele me fez. Reconhecemos juntos que parte desse distanciamento veio de decisões dele e de circunstâncias maiores que nós.

Essas trocas não foram simples. Falar de amor e ausência na mesma conversa exige coragem — e exige também escuta. Descobri que, ao longo da vida, ambos carregamos a nossa versão dos fatos, e que essas versões se alimentavam de silêncios. Silêncios que, com o tempo, viraram paredes.

A psicologia, pela Teoria do Apego de John Bowlby, nos lembra que vínculos afetivos são essenciais para o nosso desenvolvimento emocional e que, mesmo quando sofrem rupturas, podem ser reparados. Para que isso aconteça, é preciso reconstruir a sensação de segurança emocional e a confiança — algo que só é possível quando ambos os lados se dispõem a abrir espaço para o outro.

Foi exatamente isso que vivi no sábado: como se estivéssemos limpando um campo interno, tirando entulhos de mágoas e mal-entendidos, para que novas sementes possam ser plantadas. Não negamos as dores, mas também não nos prendemos a elas. O encontro não apagou o passado, mas reposicionou o presente, abrindo possibilidades para o futuro.

Saí de lá com o coração mais leve e com a certeza de que nunca é tarde para reescrever capítulos da própria história. Que ainda há tempo para mais abraços, mais conversas e mais presença.

Reflexão de hoje: o perdão e o recomeço são possíveis quando reconhecemos que a distância nunca é obra de uma única mão — e que a aproximação também precisa ser construída a dois.

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