Professor: o valor que não se vende
Professores seguem invisíveis em um país que diz valorizar a educação
Esta semana, entre uma correria e outra, entrei no perfil de um restaurante que gosto muito — desses lugares que a gente segue no Instagram porque tem comida boa e afeto no tempero. Vi que estavam preparando uma superpromoção de Halloween, e resolvi brincar: “E o Dia dos Professores? Vai ter algo especial pra gente, afinal, merecemos!”.
A resposta foi simpática, mas direta: “Nossa, verdade! Seria interessante, mas este ano estamos focando no Halloween.”
Fiquei pensando nisso o resto do dia.
Não me lembrei de nenhuma campanha comercial que valorizasse o professor de verdade. Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, dos Avós, do Cliente… há um movimento inteiro do comércio para celebrar essas datas. Mas o Dia dos Professores passa quase invisível.
E o mais curioso é que essa invisibilidade não é só simbólica — é estrutural. A gente celebra a importância da educação, mas não investe nos educadores. Posta “Feliz Dia dos Professores”, mas esquece que os salários seguem entre os mais baixos das carreiras. Isso porque somos nós que ensinamos como as pessoas terão uma carreira!
Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2023), o Brasil está entre os países que menos pagam seus professores em relação a outras profissões com o mesmo nível de formação. E uma pesquisa da Todos Pela Educação (2024) mostrou que quase 40% dos docentes pensam em deixar a profissão nos próximos anos, principalmente por desvalorização e esgotamento.
Ou seja: nossa importância é proclamada, mas não é paga, nem sustentada. É uma importância simbólica, e só. Não é econômica, não é política, não é social no sentido concreto do termo — é uma importância que não se traduz em investimento.
Como disse Paulo Freire, “não há docência sem discência”, mas também não há educação sem dignidade para quem educa.
Rubem Alves lembrava que “ensinar é um exercício de imortalidade”, e, no entanto, a sociedade insiste em tornar o professor descartável.
Darcy Ribeiro dizia que “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto” — e talvez por isso a nossa ausência nos cartazes e nas vitrines faça tanto sentido: um professor invisível é um professor controlável.
Eu queria ver um restaurante dizendo: “Hoje, professores comem de graça.” Ou uma livraria oferecendo um livro como reconhecimento. Uma loja exclamando “sua professora linda merece esta garrafa de água térmica para aguentar ficar falando 12 horas seguidas”. Afinal, temos que ter 3 turnos para pagarmos as contas.
Mas não — o que temos são meias-entradas, e ainda assim, não é por nós. Esses benefícios existem para que possamos continuar acessando cultura, para transmiti-la, não como um gesto de valorização, mas de manutenção do sistema: o professor precisa ler, precisa ver filmes, precisa estar atualizado — não por si, mas pelo outro. Não se enganem e nem tentem nos enganar… afinal estudamos!
Então, sim, seguimos. Mesmo quando não há promoção, nem festa, nem brinde. Seguimos porque acreditamos que cada aluno é, de algum modo, uma semente que floresce do nosso trabalho invisível.
E isso, embora não se venda, tem o maior valor do mundo, mas cansa só ganhar bombom por isto.
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