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Olhares Cotidianos

Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta

Colunista

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária

Entre o Dia das Crianças e o Dia da Saúde Mental

Um convite para cuidar das infâncias e curar as dores que atravessam gerações

Sátina Pimenta, colunista de A Tribuna | 09/10/2025, 14:24 h | Atualizado em 09/10/2025, 18:11

Imagem ilustrativa da imagem Entre o Dia das Crianças e o Dia da Saúde Mental
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária. |  Foto: Divulgação

Nesta semana, duas datas nos convocam a pensar: sexta-feira será o Dia da Saúde Mental, domingo marca o Dia das Crianças. Não são celebrações isoladas — elas se fundem num convite urgente para olharmos para como tratamos as infâncias.

Muitas pessoas chegam até mim com relatos de passados carregados de dor ou de grandes expectativas não cumpridas — memórias que persistem e afetam o presente. A nossa criação, as palavras que ouvimos, o afeto que nos foi dado ou negado moldam nossa forma de existir como adultos. Se não acolhermos esse passado, ele continua vivo em nosso corpo, em nossos medos e exigências.

A teoria do apego de John Bowlby é muito pertinente aqui. Secondo Bowlby, vínculos seguros com cuidadores sensíveis são fundamentais para o desenvolvimento emocional saudável. Quando há abandono, negligência ou instabilidade, a criança pode desenvolver apego evitativo, ansioso ou desorganizado, o que repercute ao longo da vida afetiva e relacional. Esses padrões de apego moldam como lidamos com a dor, com o abandono ou com o medo de falhar — e, se não reconhecidos, perpetuam-se em gerações.

A psicanálise também nos ensina que nossa responsabilidade como adultos é olhar para como projetamos nossas dores, desejos e ausências nas crianças. Sim, fazemos isso, na maioria das vezes, de maneira inconscientemente: transferimos expectativas não realizadas, traumas não elaborados, medos e ansiedades próprias para os pequenos. Mas por não nos cuidarmos, nossas crianças, acabam crescendo com cobranças que não são suas, tentando corresponder ao ideal que o outro alimentou.

Um exemplo recente vem das campanhas contra o bullying praticado por pais e mães em eventos esportivos infantis. Aquelas cenas em que adultos gritam, xingam, cobram desempenho, esquecendo que ali está uma criança. A propaganda mais recente da Federação Paulista de Futebol. — que mostra os pais “de castigo” — é simbólica: precisamos aprender a ocupar o nosso lugar de adultos responsáveis por cuidar, e não por ferir.

Dados novos do Brasil mostram que essa urgência de olhar para a saúde mental infantil não é teoria, é realidade: entre 2014 e 2024, os atendimentos por transtornos de ansiedade no SUS tiveram um aumento de cerca de 2.500% entre crianças de 10 a 14 anos, e de 3.300% entre jovens de 15 a 19 anos. Outra estatística que não podemos ignorar: o suicídio entre adolescentes (10-19 anos) cresceu 120% entre os anos 2000 e 2022.

Por isso é tão crucial: o Dia das Crianças não pode ser mais um momento simbólico de festa, mas uma data de compromisso — compromisso com o respeito às emoções infantis, com o cuidar de traumas nossos para que eles não sejam favor transferido, com ambientes seguros para que cada criança possa respirar, sentir, errar, ser quem é.

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