Adoecer virou moda
Diagnósticos da moda crescem enquanto a busca por rótulos supera o desejo de cura
Assim como acontece com crianças, que costumam inventar doença para não irem à escola, estar doente tem se tornado uma justificativa confortável, para alguns adultos.
Enfermidades viraram moda e, o que antes era sofrimento, hoje é identidade. Em consultório, o que mais se vê são pacientes desesperados por um rótulo. Muitos nem estão em busca de cura ou de mudança, mas de um argumento que alivie a culpa de vicissitudes existenciais.
Diante de percalços, alguns pacientes vestem o diagnóstico como escudo; afinal é muito mais simples ter um rótulo.
Vivemos em uma época onde narrativas substituem fatos. É comum ver o doente buscar um laudo, esquecendo de mergulhar nas causas reais daquilo que o aflige.
Doenças existem, obviamente. Diagnósticos sérios são ferramentas importantes para o cuidado clínico. Mas, o que estamos presenciando é uma distorção perigosa. Uma consulta jamais deverá ser um palco de agrado.
Por isso, algumas enfermidades vivem da fama e ganham notoriedade instantânea. De uma hora para outra, passam a ser parte constante dos diagnósticos clínicos, não importando se há critérios robustos para tal. São os diagnósticos da moda.
O conhecimento científico normalmente caminha dos periódicos técnicos para os veículos de divulgação da ciência, desses para a mídia leiga e finalmente ganham a massa. Mas essa é uma via de mão dupla, como fica claro quando lidamos com o comportamento humano. O senso comum é influenciado pela ciência, ao mesmo tempo em que exerce influência sobre ela; afinal antes de serem cientistas, os pesquisadores são seres humanos.
Na ânsia de encontrar explicações e soluções para seus sofrimentos, às vezes as pessoas começam a ver doença onde não existe, ingerindo remédios, inutilmente.
Doenças da moda caracterizam condições de saúde que, por algum motivo, ganham destaque na mídia e na percepção pública, muitas vezes levando a um aumento de autodiagnósticos e preocupações excessivas.
Embora não sejam necessariamente novas, algumas enfermidades são discutidas em determinados momentos, seja por relatos de celebridades, campanhas de conscientização ou modismos alimentares.
O aumento das informações sobre a intolerância à lactose, por exemplo, muitas vezes ligada à busca por dietas sem lactose, pode levar os indivíduos a se autodiagnosticarem como intolerantes, mesmo sem apresentar sintomas clínicos.
Fatores como maus hábitos alimentares, estresse e obesidade podem contribuir para o refluxo, que se torna mais evidente, sendo discutido em certos períodos.
Caracterizado pelo acúmulo de gordura nas pernas e nos braços, o lipedema tem ganhado bastante atenção, com mulheres buscando informações sobre a condição e autodiagnosticando-se, muitas vezes confundindo-a com obesidade.
Conhecido como Burnout, o esgotamento profissional pode ser interpretado como uma patologia, especialmente em contextos de trabalho intenso e estresse.
Quem muito alimenta a doença, deixa a saúde com fome.
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