Vitamina D, nem tanto nem tão pouco
Da luta contra a tuberculose à descoberta da vitamina D: um resgate histórico e afetivo sobre saúde, sol e memória
Fundado em 1938, o Sanatório Getúlio Vargas se tornou um importante centro de tratamento da tuberculose, no Espírito Santo. Em 1967, com a criação do curso de Medicina da Ufes, o sanatório passou a ser denominado Hospital das Clínicas, servindo como campo de estágio para os estudantes de medicina.
Em 1980, foi oficialmente renomeado Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, em homenagem ao médico e professor Cassiano Antônio Moraes.
Durante a década de 60, minha família costumava visitar amigos tuberculosos, internados nesse hospital. Eu e meu irmão tínhamos que aguardar no pátio, sentados debaixo das árvores.
Lembro-me de ver os internos, caminhando na colina, tomando banhos de sol.
Lugares altos, ensolarados e ventilados são salutares para pulmões danificados pelo Bacilo de Koch. O efeito terapêutico do Astro Rei já era conhecido, embora não se conhecesse a causa.
Hoje, sabe-se que a Vitamina D é um dos muitos benefícios do sol. Sintetizada na pele, através dos raios solares, esse hormônio melhora a imunidade, ajudando a combater infecções.
Contudo, é importante frisar que todo remédio tem virtudes e defeitos. Mal utilizados, milagres viram maldições.
A Vitamina D3 fortalece os ossos e melhora a resposta imunológica. Ela representa uma chave bioquímica que abre as portas de diferentes processos fundamentais à vida. Sem vitamina D, a existência humana seria impossível. Níveis baixos dessa substância alteram a capacidade de formar ossos, que são feitos de cálcio. Visando absorver esse elemento, o sistema digestivo precisa de vitamina D.
Os seres humanos mantêm uma relação íntima com o Sol. Mas, usando filtros solares, roupas protetoras e trabalhando em locais fechados, ocorre bloqueio da produção de Vitamina D, através dos raios solares.
Em 1979, o aiatolá Khomeini retomou o poder e instaurou um governo islâmico. Ao forçar as mulheres a usar novamente trajes tradicionais que cobrem quase todo o corpo, surgiram danosos efeitos nos seus ossos.
Pensava-se que a única função da vitamina D era contribuir para a saúde óssea. Hoje, sabe-se que ela age em diversas partes do corpo, incluindo cérebro, coração, estômago e pulmões, retardando o aparecimento de outras doenças degenerativas, aliviando a asma, evitando demência, esquizofrenia e bipolaridade e reduzindo os riscos de impotência sexual. Doenças cardiovasculares e infecciosas, diabetes, autismo e doenças autoimunes, também estão relacionadas à falta de calciferóis.
Por outro lado, o excesso de vitamina D aumenta a captação intestinal de cálcio, a reabsorção tubular renal e a reabsorção óssea, levando a hipercalcemia, relacionada a sintomas, como náusea, vômitos, nervosismo, fraqueza, anorexia, desidratação e insuficiência renal aguda.
A vida é curta e ardilosa. De vez em quando, ela atravessa nosso equilíbrio, oferecendo, na hora errada, aquilo que desejamos, mas que não devemos desejar justamente por ser a hora errada.
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