Quase metade das mulheres se sente pressionada a ter filhos
Uma em cada quatro acredita que mulheres que não querem e que não podem ter filhos sofrem preconceito
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Embora seja um desejo da grande maioria, quase metade (45%) das mulheres que responderam o questionário dizem se sentir pressionada a ter filhos.
O levantamento feito pela Empresa Júnior da UVV (Ejuvv), em parceria com o jornal A Tribuna, revelou que 23,7% se sente pressionada pela família, 11,2% pelo parceiro (a) e ainda 10,1% pela sociedade.
“Existe uma pressão social grande para que as mulheres tenham filhos. Os resultados da pesquisa mostraram que a maior pressão vem da própria família. Além disso, muitas têm de lidar com o preconceito pela decisão ou impossibilidade de ter filhos”, destaca o coordenador da pesquisa, Fabrício Azevedo.
Uma em cada quatro acredita que mulheres que não querem e que não podem ter filhos sofrem preconceito. “A pressão ainda existe hoje, tanto por parte da família como por parte da sociedade, e até mesmo da igreja. No entanto, hoje as mulheres têm uma voz mais ativa e são capazes de tomar suas decisões”, destaca a psicóloga Luíza Bazoni.
“Muitos ainda creem que a maternidade é um caminho natural para todas as mulheres, como se todas coubessem em um modelo”, observa.
Ser mãe, segundo a psicóloga Monique Stony, é um dos principais papéis sociais esperados para a mulher. “Quando uma mulher se posiciona dizendo que não quer ter filhos, ela choca as pessoas ao seu redor, que normalmente passam a buscar qual o 'problema' com aquela mulher”.
Ela frisa ainda que essa é uma expectativa social enraizada e, por muitas vezes, internalizada por muitas mulheres.
“Pensamentos contrários a essa perspectiva, embora estejam ganhando força nas últimas décadas, ainda geram incômodo”, enfatiza a psicóloga.
Até mesmo se a mulher tem a impossibilidade de ter filhos, o preconceito também é vivido, segundo a psicóloga Patrícia Dummer.
“A experiência com a escuta de mulheres em tratamentos de reprodução assistida mostra que muitas se sentem inadequadas socialmente por falharem em sua função feminina. O discurso de que a maternidade é uma condição para que a mulher se sinta completa e realizada ainda é muito marcante na sociedade atual”, ressaltou.
Muitos sacrifícios para a mulher
A professora Dayane Rocha Ferreira, 37, vive cercada de crianças e adolescentes e adora conviver com elas, mas já decidiu que não quer ter filhos. “Percebi que eu não queria fazer parte desse sonho coletivo e tudo bem. Ter filhos requer muitos sacrifícios, principalmente por parte da mãe. Não me sinto infeliz, muito menos incompleta. Sou muito realizada!”.
A pesquisa | Mapa da maternidade no Estado
Motivos do porquê não quer ter filhos
29,5% não têm o desejo de ser mãe
27,9% não quer perder a liberdade
19,7% o custo de ter filhos é muito alto
11,5% quer investir na carreira ou nos estudos
23,7% acham que as mulheres que não querem ter filhos sofrem preconceito
Já foi questionada sobre quem irá cuidar de você na velhice?
41% Sim, e é algo que me preocupa
31,1% Sim, mas não me preocupa
18% Sim, mas já tenho minha velhice planejada
9,8% Não, nunca passei por isso
25,7% acreditam que mulheres que não podem ou não têm filhos sofrem preconceito
Curiosidade
No Espírito Santo, a taxa de fecundidade atual é de 1,8 filho por mulher, um pouco maior que a média nacional. Tem se mantido estável nos últimos anos.
“Penso na dificuldade que é cuidar”
A aposentada Ana Julia Moscon Zoppi, 58, contou que nunca teve o desejo de ser mãe e que resolveu dar preferência à carreira, ao trabalho, ao estudo e a viagens e que hoje é feliz com a decisão. Ela conta que já sofreu preconceito, mas aprendeu a lidar com a situação. “Penso na dificuldade que é cuidar, educar. Existem pessoas que não acreditam que é uma decisão firme, muitas acham que é porque não tive opção”, afirmou.
Congelamento de óvulos pode ser opção
O congelamento de óvulos tem, a cada dia, chamado mais atenção das mulheres. Segundo os médicos, pode ser uma opção para quem ainda não se decidiu se quer ou não ter filhos e já se aproxima dos 35 anos, quando a fertilidade feminina começa a cair.
O levantamento da Empresa Júnior da UVV (Ejuvv) mostrou que 16,2% já pensaram em congelar óvulos, mas os maiores impedimentos são o valor, que é muito alto (42,2%); a religião (33,3%) e a falta de informações sobre o assunto (24,4%).
“Para mulheres que ainda não decidiram sobre a maternidade, é importante estar ciente de que a fertilidade diminui com a idade”, explica ginecologista e obstetra Clarisse Silveira, fundadora da Mia Care.
“Portanto, é aconselhável discutir com um ginecologista sobre suas opções de planejamento familiar e considerar o congelamento de óvulos se deseja adiar a maternidade”, completa.
Atualmente, postergar a gravidez está se tornando cada vez mais comum, e segundo o médico Carlyson Pimentel Moschen, diretor clínico da Unifert, isso pode aumentar a dificuldade de uma gravidez de forma natural.
“Ter informação é fundamental para um bom planejamento familiar, que é justamente definir com o médico quando e como terá uma gravidez. Para isso, é preciso informações”, diz.
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