Pai da vítima: “Ela estava cheia de hematomas, machucada de chutes e pancadas”
Samir Sagi El-Aouar, 70, afirma que a psiquiatra Juliana Ruas El-Aouar, 39, encontrada morta, era agredida pelo marido
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Em uma entrevista pausada pelo choro em vários momentos, o médico cirurgião, ex-prefeito e ex-vereador de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Samir Sagi El-Aouar, 70 anos, conversou com a reportagem ontem e fez revelações sobre a filha, a médica psiquiatra Juliana Ruas El-Aouar, 39, que, segundo ele, sofria agressões no relacionamento.
Ela foi encontrada morta no último sábado em um quarto de hotel em Colatina, Noroeste do Estado.
O marido da vítima, Fuvio Luziano Serafim, 44 anos, que é ex-prefeito de Catuji, município no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, e o motorista Robson Gonçalves dos Santos, 52 anos, estão presos pela morte da médica.
Samir acusou o marido de Juliana de ter desfigurado o rosto da filha há quatro meses.
“Eu já cheguei a levá-la ao hospital para costurar o rosto em cima da região frontal, porque ele machucou. Ele fez um buraco na região frontal. Tive de chamar um cirurgião plástico para fechar. O buraco tinha 7 cm. Os olhos dela andavam sempre roxos. E agora, na autópsia, foi constatado que ela estava toda cheia de hematomas, machucada de chutes e pancadas”.
De acordo com Samir, Juliana e Fuvio estavam casados há seis anos e até o segundo ano de casamento viviam bem. Porém, segundo Samir, depois de dois anos de casamento, Fuvio começou a demonstrar quem ele realmente era.
Durante a entrevista, Samir também relembrou da sua doce filha e disse: “Era meu amor, minha vida”.
A Tribuna - Qual o sentimento que fica depois de perder uma filha?
Samir Sagi El-Aouar - Eu estou arrasado, minha filha era meu amor, minha vida. Ela era psiquiatra, tinha 39 anos, um futuro todo pela frente. Ela era muito querida por todas as pessoas. Mas ele (Fuvio) arrebentou minha filha.
Ela teve dois traumatismos cranianos, ele machucou o estômago dela, arrebentou a traqueia dela. Ela não teve chance nenhuma de defesa.
- Sua filha já havia relatado algo para o senhor sobre as agressões? A família tentou fazer algo para ajudar?
Nós tentamos sim, várias vezes. Eu já cheguei a levar a minha filha ao hospital para costurar o rosto em cima da região frontal, porque ele a machucou.
Ele fez um buraco na região frontal. Tive de chamar um cirurgião plástico para fechar. O buraco tinha 7 cm, foi medido na autópsia. Os olhos dela andavam sempre roxos. E agora, na autópsia, foi constatado que ela estava toda cheia de hematomas, cheia de roxos pelo corpo todo, machucada de chute, de pancada.
- A perícia encontrou frascos de remédios no quarto?
Foram encontrados frascos vazios de morfina e uma droga chamada ketamina, que é usada para anestesia geral. Ele deve ter aplicado nela, ela deve ter perdido as chances de defesa, de estar consciente. Ele deve ter batido a cabeça dela, pelo que eu sei, porque quebrou o crânio em dois lugares.
Ela está toda cheia de hematoma, toda machucada. É um absurdo o que ele fez com a minha filha.
- Pelo que avaliou, como médico, ele a agrediu antes, aplicou essa medicação e continuou agredindo-a desmaiada, desacordada. É isso?
Não sei o que aconteceu de fato, mas eu acredito que ele possa ter usado alguma substância nela, porque o quarto estava cheio frascos vazios. A polícia encontrou frasco de ketamina e de morfina vazios. Ele furou minha filha toda para poder injetar. Ela tinha hematomas para todo lado.
A polícia encontrou o corpo dela atrás da porta. Ele tentou tirá-la do quarto, acertar com o hotel para ir embora e fugir. Esse é um crime torpe, um crime sem motivo nenhum, um feminicídio, mais um feminicídio no Brasil.
- O senhor se lembra do último momento em que esteve com a sua filha?
Uma semana antes ela me ligou pedindo, pelo amor de Deus, que eu a trouxesse para a minha casa, porque o marido estava tentando agredi-la e ela estava sofrendo e com medo.
Nós fomos lá e a pegamos dentro de casa. Ele ficou bravo e com raiva. Era mais ou menos entre meia-noite e 1 hora.
Nós a trouxemos para casa. Ela dormiu aqui e, quando foi pela manhã, ele veio e a ameaçou, chamou-a para conversar, ameaçou para que ela voltasse para casa. Ela falou: “Pai, eu vou, pode ficar tranquilo, acho que não vai acontecer nada”. Foi a última vez que eu estive pessoalmente com ela.
Na noite antes do crime, ela me ligou dizendo que estava em Colatina, que tinha feito uma consulta com um médico da cidade e que estava tudo maravilhosamente bem.
Ela ligou novamente à noite e se despediu, dizendo que iria dormir pois estava cansada. Foi a última vez que eu falei com a minha filha. O que ele fez com ela... Não tem como descrever o sofrimento que eu estou passando. Eu, meus filhos, minha mulher estamos sofrendo demais pelo que ele fez. (choro).
Entenda o caso
Encontrada morta
A médica Juliana Pimenta Ruas El-Aouar, de 39 anos, foi encontrada morta na manhã de sábado em um quarto de hotel em Colatina, Noroeste do Estado.
Ela estava hospedada junto com o marido, Fuvio Luziano Serafim, 44 anos, ex-prefeito de Catuji, município no Vale do Mucuri, Minas Gerais, no quarto de número 362.
O motorista Robson Gonçalves dos Santos, 52, também estava hospedado no hotel, em um quarto no mesmo andar (369).
Acusados
A acusação da polícia é de que ela tenha sido assassinada pelo marido. O motorista também foi preso autuado por homicídio junto com o ex-prefeito. Ambos estão presos preventivamente no Centro de Detenção Provisória de Colatina.
Quarto revirado
A perícia encontrou o quarto revirado, com garrafas de cerveja, sangue nas roupas de cama, vidros de remédios quebrados e vários ferimentos na médica.
Argumento do acusado
À polícia, Fuvio contou que o casal estava na cidade porque Juliana havia feito uma cirurgia no dia anterior (sexta-feira) e que ela estava muito feliz depois de eles terem ido a uma churrascaria e foram dormir às 20 horas.
Ainda segundo ele, ao acordar pela manhã, a mulher estava passando mal, e então ele desceu à recepção do hotel.
Barulho
Em depoimento à polícia, o gerente do hotel afirmou que outros hóspedes reclamaram do “barulho” e da “bagunça” do quarto do casal durante a madrugada e que, pela manhã, Fuvio teria aparecido “bastante acelerado” na recepção, querendo pagar a conta e dizendo que a mulher estava passando mal e teria desmaiado.
Câmeras
Ao ver as câmeras do hotel, a polícia identificou que Fuvio e o motorista Robson entraram e saíram várias vezes do quarto do casal de madrugada.
À polícia, o motorista disse que foi chamado por Fuvio para socorrer Juliana, que havia caído no banheiro.
Divergências
Como os acusados apresentaram informações diferentes do cenário encontrado pela perícia, foram presos no domingo.
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