"Nenhuma mãe está preparada", diz mulher que perdeu o filho na Guerra da Ucrânia
Bruno de Paula levou um tiro na cabeça e outro na perna e morreu por falta de socorro médico, segundo sua mãe

Natural de Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo, o técnico em enfermagem Bruno de Paula Carvalho Fernandes, de 29 anos, foi morto segunda-feira (1), durante uma emboscada na linha de frente da guerra na Ucrânia. O conflito entre o país e a Rússia começou em fevereiro de 2022, quando tropas russas invadiram localidades próximas à capital Kiev.
De acordo com a mãe do jovem, a estoquista Bethânia de Paula da Silva, de 46 anos, o filho foi atraído ao país a partir de grupos em redes sociais e de aplicativos de mensagens, que recrutam brasileiros com a promessa de altos ganhos financeiros.
A mãe reclama da falta de informações sobre o corpo do filho e pediu ajuda à Embaixada do Brasil em Kiev, capital da Ucrânia. “Eles informaram que não podem fazer nada até que o exército da Ucrânia se pronuncie em relação à morte do meu filho”, afirmou Bethânia.
A estoquista contou que o filho falou sobre o desejo de ir para a Ucrânia, mas toda a família foi contra. “Ninguém concordou”.
Bethânia disse que Bruno estava morando e trabalhando em Governador Valadares, Minas Gerais, e pediu demissão dos dois empregos. Ela só ficou sabendo que o filho estava na Ucrânia na última semana de abril, quando ele publicou uma foto no status de uma rede social. “Meu filho proibiu a mulher dele de contar que ele iria”.
Bruno deixou a esposa, Cecília Fernandes, uma enteada de 6 anos e um filho de 5.
De acordo com a mãe, nas primeiras ligações, o filho disse que iria trabalhar em um hospital na Ucrânia, mas foi enviado para a frente de guerra.
Há 25 dias, quando estava em uma missão para tentar recuperar a área de uma creche tomada pelos russos, ele foi ferido a tiros na mão, braço, perna e com dois tiros abaixo das nádegas.
Ele ficou em recuperação, mas em chamada de vídeo, às 11h31 de domingo (31) (horário de Brasília), contou para a mãe que estava com movimentos involuntários na mão e iria para uma missão. Ele falou que tinha parado para comer e que quando voltasse da missão, voltaria para casa”.
Na segunda-feira (1), às 9h50 (Brasília) e 15h50 (horário da Ucrânia), a família recebeu uma mensagem, informando sobre a morte do jovem. Segundo a mãe, ele foi morto em um ataque de drones, com um tiro na cabeça e outro na perna e morreu por falta de socorro médico.

“Nenhuma mãe está preparada”
A Tribuna — Como a senhora soube da morte do seu filho?
Bethânia de Paula da Silva — Recebemos uma mensagem da comandante dele, traduzida para o português, por um aplicativo de mensagem, informando que ele havia morrido com dois combatentes ucranianos em uma emboscada. Tinha um brasileiro junto e ficamos sabendo que ele foi atingido na cabeça e na perna e perdeu muito sangue.
Há alguma informação sobre o corpo do seu filho?
Quando enviamos esse questionamento, a resposta da tradutora é que não estão entendendo. Entramos em contato com a Embaixada do Brasil em Kiev, capital da Ucrânia.
Eles informaram que não podem fazer nada até que o exército da Ucrânia se pronuncie em relação à morte do meu filho. Enviamos a mensagem que recebemos, informando sobre a morte dele, e estamos aguardando.
Como seu filho decidiu ir para a guerra?
Até onde ficamos sabendo, ele descobriu este alistamento pelas redes sociais.
Ele mostrou interesse em ir, ninguém da família acreditou, pois ele era técnico em enfermagem, uma pessoa que amava a profissão. E achamos que o assunto tinha acabado.
Inclusive, eu faço um alerta para os jovens que veem esses chamados nas redes sociais e aplicativos, que não acreditem, porque prometem uma coisa e chega lá na guerra, é outra. Você não tem escolha.
Seu filho chegou a informar se ganhou algum valor para ir combater?
Nunca conversamos sobre se ele chegou a receber algum valor, mas ele disse que tinha um contrato a cumprir. Ele foi para ficar três meses. Disse que, depois desse combate de domingo, retornaria para o Brasil.
Sempre que nos falávamos, a prioridade era saber se ele estava bem. E eu sempre chamava meu filho para voltar.
Falaram para ele que toda tropa que iria para esse local, próximo a uma base russa, sempre voltava.
Seu filho sabia usar armas?
Não. Ele mandava foto de treinos, aprendendo a manusear fuzil, coisa que ele nunca soube.
Era uma pessoa totalmente despreparada para a guerra. Não tem condições de em um mês ou poucos meses alguém aprender.
Como está sendo para a senhora lidar com a morte dele?
Estou em desespero. A gente sabe que ele estava na guerra, mas nenhuma mãe está preparada para a morte de um filho (choro).
As crianças perguntam se vão se despedir do pai. É muito difícil, foi um choque para todos nós.
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