Motorista arrastado por 1 km após briga no trânsito em Vila Velha
Especialistas alertam que a agressividade nas ruas tem aumentado. Para eles, motoristas usam o veículo como uma arma
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Era por volta das 23h30, o sinal ficou verde e o designer gráfico e confeiteiro Waldemiro de Castro, de 34 anos, se preparava para passar a segunda marcha e seguir viagem. Do nada, um susto. O veículo em que estava foi atingido por um carro, conduzido por um empresário, dando início a uma discussão no trânsito.
Para não ser imprensado entre dois veículos e não ficar no prejuízo, já que o outro condutor queria escapar, ele se jogou no capô do veículo do empresário. Segurando nos limpadores de vidro, ele foi carregado por cerca de um quilômetro até cair, escapando com vida.
Essa confusão aconteceu no último sábado, em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha. Mas esse caso não foi pontual. Conflitos de trânsito estão mais comuns, resultando em agressões, feridos e mortes.
André Cerqueira, membro do Movimento Capixaba para Salvar Vidas no Trânsito (Movitran), viu o vídeo que mostra Waldemiro em cima do carro.
“Nós temos visto isso acontecer sucessivamente, especialmente no pós-pandemia. Temos falado que o carro em mãos erradas é uma arma. A gente vê algumas pessoas no trânsito usando o veículo como gatilho do estresse, lançando o carro para cima de outras pessoas”.
Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), lamenta o comportamento explosivo. Segundo ele, o álcool e as drogas levam a distúrbios comportamentais e agressões, resultando em brigas e até mortes.
Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito, salienta que entender exatamente os motivos da agressividade não é uma tarefa fácil.
“Determinadas pessoas, com alguma facilidade, põem para fora as suas raivas e até o seu entusiasmo no trânsito. O veículo é sempre uma extensão do corpo e nos dá poderes de super-herói, e é aí que moram vários perigos”.
Sobre o caso em Coqueiral de Itaparica, a Polícia Civil informou que seguirá sob investigação da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito. Até o fechamento desta edição, nenhum suspeito foi detido e detalhes da investigação não serão divulgados. Informações podem ser dadas de forma anônima pelo Disque-Denúncia 181.
"Eu pensei que fosse morrer", diz Valdemiro de Castro
A Tribuna – Como tudo aconteceu?
Waldemiro de Castro – Eu estava parado no semáforo, me preparando para arrancar com o carro quando o motorista de um Corolla pérola bateu no carro, que é do meu marido. Isso foi na avenida Saturnino Rangel Mauro, em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha.
Eu estava dando carona para três amigos, entre as quais uma advogada e, do nada, o carro em que eu estava foi jogado para o lado.
O condutor, um empresário, estava em velocidade muito rápida, na mesma mão que eu. O meu carro, um Agile da Chevrolet foi pressionado contra um outro veículo, um Ford Ka, que estava estacionado.
Visivelmente, dava para ver que o empresário estava bêbado. Ele saiu do carro, mas decidiu fugir quando a minha amiga advogada disse que iria ligar para a polícia.
Quando percebi que ele iria escapar, sem arcar com o prejuízo, não pensei duas vezes e, no desespero, me joguei em cima do carro dele.
- O que fez para não cair do carro em movimento?
Segurei nos dois limpadores, enquanto ele fazia zigue-zague, entrou na contramão, na rua Itaoca. Quase bateu em um carro parado e quase fui esmagado por um ônibus, que desviou.
Dentro do carro dele, havia uma menina desesperada, que gritava e pedia para ele parar. Eu pensei que fosse morrer. Foi horrível!
A minha sorte foi que a menina que estava no carona batia no braço dele, tentava desligar o carro. Nessa confusão, ele deu uma freada e a jovem abriu a porta e saltou. Nisso, eu caí sentado. Ele arrancou o carro com a porta aberta e fugiu.
- Você se machucou?
Tive um arranhadinho no braço, mas o meu emocional está abalado. Não tenho dúvida de que nasci de novo, foi um milagre.
- O carro em que estava ficou muito danificado?
Ficou muito amassado, mas ainda não fiz o orçamento para saber o valor.
- Já parou para refletir o risco que correu? A sua ficha já caiu?
A minha ficha só caiu quando eu cheguei em casa e comecei a ver as imagens. Eu em cima daquele carro. Poderia estar morto.
- Teria coragem de fazer o mesmo?
Agi no calor do momento. Ser humano é assim.
- Qual o desfecho espera para este caso?
Quero que o motorista seja identificado e punido com o rigor da lei. Quero justiça. Ele precisa responder por tentativa de homicídio. Além disso, terá de arcar com todo o prejuízo que causou.
Outros casos
Morte após “fechada”
Em outubro deste ano, o frentista Leandro Assis Ferreira, de 28 anos, foi morto com cinco tiros após uma discussão de trânsito, em Parque Residencial Laranjeiras, na Serra.
A briga teria começado após o carro dele ter sido “fechado” por outro veículo. Após a confusão, ele seguiu viagem e parou em uma distribuidora de bebidas, local onde foi abordado por homens, que o levaram para o meio da avenida e atiraram.
Oito facadas
Durante uma briga de trânsito, um motociclista de 43 anos levou oito facadas na noite de 21 de agosto deste ano, em Santa Luíza, Vitória. O autor, um motorista, fugiu após o crime.
À polícia, a vítima contou que estava na avenida Maruípe e levou uma “fechada”. Ele chamou a atenção do motorista, que teria saído do carro e o atacou.
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