“Estou há um ano sem usar redes sociais no celular”, diz professor
Após ser diagnosticado com estafa mental, há um ano, o professor Victor Korting transformou o aparelho em um “telefone fixo”
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Duas noites em alerta, em um quarto escuro e cercado por estímulos que partiam do único ponto de luz do local: o celular. A situação acendeu um alerta ao professor da Faesa e desenvolvedor de jogos Victor Hugo Korting, 37. Logo depois, veio o diagnóstico de estafa mental e uma recomendação: abandonar o celular.
No próximo dia 8 de dezembro, o professor completará um ano sem usar o celular fora de casa. O aparelho fica atrás da televisão de casa, sem qualquer rede social, e funciona como um telefone fixo do século 21: só tem aplicativos de bancos e a função de fazer e de receber ligações, conta Victor.
Hoje, o WhatsApp e as poucas redes sociais são utilizadas apenas em um computador, durante o horário comercial e com limites de exposição a telas, revela.
“Eu mergulhava nas redes sociais e, durante o dia inteiro, olhava notificações, participava de discussões políticas e consumia uma incontável quantidade de conteúdos digitais. Diminuí o uso das redes porque me sentia intoxicado. O excesso de tempo nas telas e na internet me adoeceu”.
As primeiras semanas sem o celular foram difíceis, mas o desenvolvedor de jogos redescobriu prazeres como praticar esportes, fazer parte de novos grupos sociais, sentir a brisa da praia e admirar as paisagens das cidades.
“As redes sociais funcionam como um jogo, que oferece falsas recompensas e retém a atenção. O segredo para conseguir deixá-las foi descobrir atividades prazerosas fora da vida on-line. Elas produzem dopamina (hormônio relacionado ao prazer e ao humor). Quanto mais variadas forem as fontes de produção, melhor”.
Nos últimos anos, estudos têm evidenciado o potencial que a hiperconectividade e a exposição excessiva a conteúdos digitais têm de gerar prejuízos cognitivos, como dificuldade de concentração, de memorização e de raciocínio, aponta o psiquiatra Daniel Cavalcante, pesquisador do Laboratório de Neurociências Clínicas da Universidade Federal de São Paulo.
“Diante disso, é esperado que haja cada vez mais recomendações para adoção de estratégias de ‘detox digital’. A dose de tempo saudável para uma pessoa pode ser tóxica para outra. O mais importante é que se faça um uso consciente, de forma que não comprometa outras atividades importantes para o bem-estar”.
“Me sinto como nos anos 90”
Victor Hugo Korting professor
A Tribuna – Quando se pensa em um professor da área de desenvolvimento de jogos, espera-se um usuário assíduo da tecnologia. Você sente essa pressão?
Victor Hugo Korting – Na verdade, eu sou um usuário assíduo da tecnologia, mas faço uso consciente.
Adquiro novidades tecnológicas assim que elas são lançadas, defendo o uso estratégico do celular na sala de aula e sou bem informado sobre o mundo digital e da tecnologia.
O problema é que, hoje, estamos superexpostos às telas. Se não repensarmos o uso da tecnologia, iremos adoecer.
Você já enfrentou algum “aperto” por não usar o celular?
Vários. Me sinto como nos anos 90 porque, quando estou na rua, fico realmente desconectado do mundo.
Certa vez, fui fazer um boletim de ocorrência e descobri que só poderia ser feito on-line. Em outra, meu carro quebrou e, por estar incomunicável, voltei para casa de ônibus e só no outro dia consegui solucionar o problema.
Ficar off-line nos momentos fora de casa é minha realidade diária.
SAIBA MAIS
O que é detox digital?
Significa desconexão periódica das redes sociais e outras mídias on-line, principalmente em um primeiro momento, com o objetivo de conquistar maior sensação de bem-estar.
A adesão à prática visa atingir o consumo mais consciente do conteúdo digital e um menor tempo de exposição às telas.
A longa exposição às redes sociais e às telas, em geral, pode provocar estresse, dificuldade para dormir, problemas de concentração e sensação constante de cansaço. O detox digital surge como uma reação para evitar os efeitos negativos do uso abusivo das redes sociais e das telas.
Há casos de adesão de uma a quatro semanas. Durante o período, a proposta é encontrar outras atividades prazerosas, como a prática de esportes, passeios em família ou com amigos, contato com a natureza e atividades culturais e artísticas.
Por que fazer?
Se afastar momentaneamente das redes sociais e das telas pode ser uma medida necessária para melhorar a qualidade do sono, a produtividade no trabalho e nos estudos, ansiedade e a concentração, por exemplo.
O detox digital pode proporcionar mais satisfação nas relações interpessoais, principalmente nos casos em que a pessoa se distanciou de conexões reais, fora do mundo digital.
O período de desconexão pode proporcionar a reflexão sobre o uso consciente das redes sociais.
Sinais da dependência
• Descuido com o trabalho, com a escola ou com responsabilidades pessoais por causa da “necessidade” de ficar mais tempo on-line.
• Sentir irritabilidade, ansiedade ou outros sintomas de abstinência ao não conseguir acessar a internet.
• Preferir interações on-line a interações presenciais, com tendência ao isolamento social.
• Padrões de sono prejudicados devido ao uso tardio de dispositivos digitais ou ao envolvimento excessivo com conteúdo on-line.
• Uso excessivo de dispositivos digitais, como smartphones, tablets ou computadores, em detrimento do envolvimento em outras atividades.
• Perda do interesse em atividades anteriormente apreciadas, preferindo passar mais tempo on-line.
Como buscar ajuda?
O primeiro passo é verificar os comportamentos relacionados à falta de acesso às redes sociais e às telas. Caso haja sintomas, é preciso reconhecer o problema.
Reduza o tempo de tela. Embora pareça simples, a tarefa pode ser difícil para muitas pessoas. A orientação é fazer uma redução gradual.
Faça curadoria do conteúdo digital consumido. Consuma apenas conteúdos verídicos.
Procure ajuda qualificada para lidar com o problema, como o suporte de profissionais da saúde mental.
Fonte: Instituto Albert Einstein e especialistas.
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