Fazendeiras se dividem entre campo e cidade
Mulheres ocupam cada vez mais espaço no agronegócio
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Com a dependência cada vez maior entre as zonas rurais e urbanas, não há mais tantos conflitos entre os polos no dia a dia dos produtores rurais.
Seja por trabalho, seja por lazer, as “fazendeiras modernas” se dedicam a compromissos por todos os lados e, com isso, campo e cidade assumem, lado a lado, o protagonismo da rotina delas.
O dia a dia versátil, adaptativo e intenso conquistou a engenheira agrônoma e coordenadora comercial da Natufert Fertilizantes Aline Alves Rodrigues, 30.
Filha de produtores rurais, ela é inserida no cultivo do café desde a infância e, já nova, tinha certeza de que seguiria na área.
Hoje, a especialista mora em Cariacica e se envolve na cadeia produtiva do agronegócio em diversos estados, como Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além do Espírito Santo, onde contribui na propriedade de cultivo do café arábica da própria família. Home office, cuidados da casa, treinos regulares e a prática de beach tennis estão entre as atividades da engenheira.
“Vivo realmente entre o campo e a cidade, e amo essa versatilidade. Atualmente, divido meu tempo entre duas semanas de viagem e duas semanas de home office. Em alguns finais de semana, visito a propriedade dos meus pais em Minas Gerais. Minha vida é bastante dinâmica, sem rotina fixa”.
A professora Camila Martins, do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), reitera que, hoje, a profissional do ramo do agronegócio costuma atuar em diferentes frentes e se dividir entre campo e cidade.
“Ao atuar como engenheira agrônoma, a profissional qualificada terá oportunidades de praticar o conhecimento adquirido na vida acadêmica com atuação nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e administração em espaços urbanos e rurais, com habilidades e competências nas diversas áreas do conhecimento de Ciências Agrárias”.
O acúmulo de funções é um dos desafios para as mulheres à frente propriedades produtivas do campo, lembra a especialista em pessoas, carreira, imagem e cultura organizacional Gisélia Freitas.
“Muitas mulheres no agronegócio também têm responsabilidades familiares, o que pode tornar desafiador equilibrar as demandas do trabalho agrícola com as responsabilidades domésticas e de cuidado. Ao aumentar a participação no agronegócio, podemos fortalecer a segurança alimentar global”, destacou.
Menos preconceito com cooperação
O trabalho no campo ainda é predominantemente masculino, mas, nos últimos anos, as mulheres conquistam espaço.
De acordo com especialistas, a cooperação feminina é um caminho para romper o preconceito e aumentar a influência das mulheres no agronegócio.
A especialista em pessoas, carreira, imagem e cultura organizacional Gisélia Freitas analisa que ainda há preconceito e estereótipos de gênero que podem dificultar o acesso das mulheres a oportunidades no setor, bem como limitar o avanço profissional, uma vez dentro da área.
Para a especialista, uma das formas de se enfrentar essas desigualdades é a cooperação feminina no setor.
“A união entre as mulheres à frente do comando de propriedades produtivas do campo pode ser extremamente benéfica. Isso pode proporcionar uma rede de apoio, troca de conhecimento e experiências, acesso a recursos e oportunidades de colaboração. Ao se unirem, as mulheres no agronegócio podem enfrentar desafios comuns de forma mais eficaz”.
Para a professora Camila Martins, do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), dependendo da empresa ou da propriedade rural em que as mulheres atuam, podem surgir casos de discriminação e machismo, além de intimidações e de provocações.
“Quando há união por meio de associações e de cooperativas, as mulheres da área se fortalecem. Ainda há desigualdade de gênero na ocupação de cargos e funções”, pontua.
Análise
"É essencial garantir acesso a oportunidades de educação"
“Mulheres liderando propriedades produtivas no campo não apenas quebram estereótipos, mas também trazem perspectivas inovadoras e soluções criativas para os desafios do setor.
Seja na gestão, na tomada de decisões estratégicas ou na implementação de práticas sustentáveis, as mulheres têm demonstrado uma capacidade ímpar de impulsionar o desenvolvimento do agronegócio.
Ao reconhecer e apoiar a participação feminina, nós, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), não apenas promovemos a equidade de gênero, mas também fortalecemos a competitividade e a sustentabilidade do setor como um todo.
É essencial garantir que as mulheres tenham acesso a oportunidades de educação, capacitação e recursos para que possam continuar desempenhando um papel vital na transformação positiva.
Investir no empoderamento das mulheres no agronegócio é investir no futuro sustentável do setor e do País como um todo”.
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