Nova rotina para estudantes com necessidades especiais
Escolas estão debatendo desafios e soluções para ampliar a inclusão de alunos na rede particular de ensino
Escute essa reportagem
O aumento de matrículas de estudantes da educação especial tem levado escolas a promoverem mudanças na rotina para ampliar a inclusão em sala de aula. Os desafios no processo de integração de estudantes com algum tipo de necessidade especial levou especialistas e educadores a debaterem o tema na Jornada de Inclusão, que aconteceu ontem em Vila Velha.
O evento, realizado pelo Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado (Sinepe-ES), reuniu 200 diretores e professores de escolas da rede privada e foi transmitido para todo País.
Segundo o Censo Escolar 2023, as matrículas da educação especial saltaram de 1,2 milhão no País, em 2019, para 1,7 milhão em 2023.
O vice-presidente do Sinepe-ES, Eduardo Costa Gomes, afirmou que, com a crescente procura da escola particular por famílias de alunos que dependem de alguma assistência, as unidades têm se deparado com o desafio de atender grupos, dentro de uma mesma turma, com necessidades distintas.
Uma das dúvidas das escolas, segundo ele, é como articular essas necessidades diferentes dentro trabalho pedagógico. “Temos que discutir se o modelo atual de organização, de planejamento das aulas, pode ser mantido no atendimento de um público tão diverso”.
Ele salientou que não há como, mesmo sem considerar alunos da educação especial, tratar todos os estudantes da mesma forma. “Isso não é coerente, pois todos somos diferentes. A escola tem que se munir de ferramentas que dão conta de perfis diferentes em sala”.
Na prática, isso já tem sido feito, por exemplo, com ferramentas de aferição da aprendizagem, que hoje vão além das provas escritas. “Os alunos com dificuldades são avaliados de várias outras formas, até mesmo com apresentação de trabalhos como vídeos e podcasts”.
A professora, vice-presidente da Federação Nacional de Escolas Particulares (Fenep) e presidente da Câmara de Educação Básica, Amábile Pacios, destacou a necessidade de aceitar as pessoas como elas são. “Vamos ajudá-las a superar as suas dificuldades para elas nos ajudarem a superarmos as nossas. E a escola é essencial para isso”.
O que eles dizem
Melhoria
“A necessidade de inclusão sempre existiu no Brasil. Uma das questões hoje é como incluir. Há uma fórmula para isso? Não. Mas vamos precisar de um processo de melhoria contínua para que a gente consiga fazer uma boa inclusão nas escolas.
Precisamos construir parâmetros para isso, pois cada necessidade é diferente. Fazer uma boa inclusão é fazer um bom projeto que atenda o aluno, e com a capacidade que a escola tem”.
- Antonio Eugênio Cunha, pres. da Federação Nacional das Escolas Particulares
Legislação
“Não adianta dizer que a escola é inclusiva, tem de dizer como isso é feito. Em que medida uma escola privada pode ou não pode, deve ou não deve receber uma criança que tem alguma barreira de aprendizado? Tem de aceitar? Tem. A lei diz que todas as crianças têm direito de ter acesso à educação.
Mas temos que entender que matricular não é incluir. Matricular é o primeiro passo. A partir daí há uma complexidade enorme”.
- Diego Munõz, advogado, mestre em Direito e professor universitário
Debate
“A necessidade de debater o processo de inclusão nas escolas não é apenas no Estado, mas das escolas de todo o País. Temos percebido que, principalmente após a pandemia, tem se avolumado a demanda por matrículas de crianças com algum tipo de necessidade especial, aflorando também a necessidade de inclusão.
Mas nesse processo de aumento, ainda há desafios grandes. Essa é uma discussão que está sendo feita pela primeira vez em nível nacional”.
- Moacir Lellis, chanceler do Sinepe-ES
Diferenças
“Um dos desafios hoje nas escolas é como lidar com cada aluno com uma necessidade diferente em sala de aula. As escolas vão trazer, dentro do seu projeto de inclusão, como será o trabalho desenvolvido diante das necessidades dos seus estudantes. Isso abrange desde a possibilidade de ter salas especializadas, por exemplo, ou alguma adequação de um profissional para poder ajudar esse aluno a realmente estar incluído no processo de aprendizagem”.
- Bruno Loyola Del Caro, presidente do Sinepe-ES
Comentários