Mulheres tomam à frente nas fazendas do ES
De acordo com o IBGE, o número de estabelecimentos agropecuários dirigidos por elas cresceu de 8.590 para 14.661
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Se engana quem ainda pensa que o comando de fazendas e de propriedades produtivas de campo é apenas “coisa de homem”: cada vez mais, as mulheres assumem postos de liderança, transformam os negócios do ramo e conquistam clientes ao redor do mundo.
Tanto que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de estabelecimentos agropecuários dirigidos por mulheres no Espírito Santo cresceu de 8.590 para 14.661, entre 2006 e 2017.
A especialista em Gestão Pecuária 360º e fundadora da Gon On Agro, Renata Erler, e a médica veterinária e responsável técnica do Nelore Heringer, Tarine Pinotti, 33, são algumas das representantes da força feminina no agronegócio capixaba.
Desde pequena, por exemplo, Renata Erler lida com a criação de bovinos e com o cultivo de café e de tomate. Filha de produtor rural, ela já tinha certeza do rumo de sua carreira desde a adolescência.
O tempo demonstrou que a especialista estava certa: hoje, Renata é consultora de negócios do ramo em fazendas de todo o País e, recentemente, foi selecionada para assumir a gestão pecuária de uma fazenda em Angola, na África.
“Hoje, há poucas mulheres que atuam na área em que atendo, mas tenho certeza que teremos mais, visto que essa barreira já foi quebrada. Existem alguns desafios inerentes do ser mulher, mas o mercado está amadurecendo e se acostumando, cada vez mais, em ter mulheres fazendo parte e liderando posições”.
Já Tarine Pinotti se encantou pelo mundo do agronegócio quando era criança, assistindo aos programas televisivos sobre o mundo agro com o pai. A médica veterinária optou pela carreira quando era adolescente e já tinha um caminho a trilhar: ela sempre teve predileção pelos bovinos.
Há nove anos, ela trabalha na fazenda da empresa Nelore Heringer, na Barra do Jucu, Vila Velha. Nos últimos anos, a especialista percebe um interesse cada vez maior das mulheres pela atuação no agronegócio.
“A relação de parceria entre as e os produtores rurais é crucial para o sucesso no agronegócio. Quando nos unimos, fazemos com que os serviços sejam executados da melhor forma. Eu recebo cerca de 30 estagiárias por ano e sempre converso sobre a participação feminina no ramo. Cada vez mais, encontramos oportunidades de atuação”.
Você sabia?
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de estabelecimentos agropecuários dirigidos por mulheres no Estado cresceu de 8.590 para 14.661, entre 2006 e 2017.
No período, o aumento de mulheres à frente dos estabelecimentos foi de 70%.
Amor pela agricultura
A engenheira agrícola e especialista em pecuária do leite Marina Zanotti Erler, 40, desenvolveu o amor pela agricultura já na infância, com a família, que tem uma propriedade em Santa Teresa. Ela conta que a “cara” do campo está mudando rapidamente e, cada vez mais, as mulheres se destacam.
“Toda minha história de vida é voltada ao mundo do campo, onde a participação da mulher vem crescendo ano a ano. Fomentar a participação feminina é fundamental para o desenvolvimento rural”.
Público feminino em agronomia
O crescimento de mulheres em posições de liderança em propriedades produtivas do campo no Estado se reflete, também, na procura feminina pelo ensino superior em cursos voltados ao ramo.
No curso de Agronomia, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), por exemplo, quase 40% dos matriculados são do sexo feminino, nos últimos quatro anos.
De acordo com a Ufes, de 2019 a 2023, 299 estudantes ingressaram no curso de Agronomia, que fica no campus de Alegre.
Destes, 119 são mulheres, o equivalente a 39,79%. No segundo semestre de 2023, por exemplo, elas foram maioria: 58,82% dos matriculados.
A professora Camila Martins, do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), percebe que a mudança de perfil de aluno no curso de Agronomia acontece há, pelo menos, 20 anos.
A professora aponta alguns motivos que podem explicar o aumento da presença feminina.
“Agora, essa situação melhorou. A maior presença feminina pode ser explicada pelo acesso à informação e ao conhecimento, aliado ao desenvolvimento e difusão de novas tecnologias e de políticas públicas de acesso ao ensino superior, além da aptidão, afinidade e dedicação das mulheres com a área de Ciências Agrárias e Engenharias”, analisa.
Força da mulher no trabalho
A advogada e agropecuarista Karla Lievore, 45, trabalha na agroindústria de laticínios junto à mãe, Hermínia Lievore, 65, e à irmã, Andressa Lievore, 42, em Colatina.
A Fazenda Lievore produz, por dia, 2.200 litros de leite. Karla destaca a crescente participação feminina no campo e aponta que o sucesso se deve à cooperação em equipe.
“A força feminina é muito importante no campo. Temos uma grande equipe feminina na fazenda e todos têm papel crucial na equipe, independentemente do gênero. Sou muito grata ao meu pai e ao meu irmão, por exemplo”, explica.
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