Experiência da dupla foi determinante para a tranquilidade em alto mar
Racionamento de água, improvisos e conhecimento náutico ajudaram amigos a superar mais de 50 horas à deriva

O racionamento da água, a vela improvisada e o conhecimento sobre localização e marés foram alguns dos pontos cruciais para o desfecho no caso do empresário Maikel Araujo dos Santos e do montador de móveis Ronald Menezes.
Segundo o tenente-coronel Cristiano Malacarne, diretor-adjunto de Operações do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo, essa experiência demonstrada por eles foi fundamental para que tivessem a tranquilidade necessária.

Um exemplo, segundo ele, foi a pouca água que tinham e como eles fizeram um regramento para que não usassem tudo de vez. “Isso é algo difícil, principalmente quando o corpo já apresenta sinais da necessidade, como relatado por eles que a urina já estava escura”.
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Outro ponto, segundo o tenente-coronel Malacarne, é que eles tinham peixes disponíveis e improvisaram uma vela, diante das condições do vento. “Tivemos o apoio de uma oceanógrafa da Ufes, que mostrava para nós condições de ventos diferentes a partir da tarde de domingo. Os ventos e a correnteza estavam mais fortes que imaginamos inicialmente”.
O comandante do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo (Notaer), tenente-coronel Cristian Amorim Moreira Knaip, também falou sobre o trabalho feito com auxílio de um imageador térmico – com sensor de calor.
Experiência
A experiência dos amigos com o mar vêm de longa data mesmo. Segundo Maikel, desde os 12 anos ele pratica pesca. Já Ronald aprendeu a pescar quando ainda morava na Bahia, há mais de 20 anos.
Eles se conheceram há alguns meses depois de Ronald montar móveis na casa de Maikel e começarem a conversar sobre pesca. Desde então, eles já tinham saído algumas vezes para pescar.
Agora, depois de tudo que aconteceu, eles foram questionados se voltariam à prática. Os dois já disseram que “por enquanto, não”.
Trajeto da lancha
Amigos saíram de Anchieta.

“Queria dar parabéns ao meu filho”

Resgatado após mais de 50 horas no mar, o montador de móveis Ronald Menezes, 40 anos, casado com Luciene Santana, revelou os momentos de tensão e a vontade de voltar para casa e dar parabéns pessoalmente ao filho, que completou 14 anos na última terça-feira.
Em que momento perceberam que a lancha não funcionava mais?
Ronald Menezes - Logo depois que a gente começou a navegar para vir para casa, o motor parou totalmente. O Maikel falou “deu ruim. O motor parou”. Eu não estava acreditando. A gente foi tentar descobrir, então, qual a causa, mas infelizmente a gente não conseguiu achar o motivo.
Até o rádio apagou logo depois, então a gente ficou sem saber como acionar o socorro.
E vocês sabiam mais ou menos onde estavam?
A gente não via nada, mas a gente tinha uma noção por causa do aplicativo do celular do Maikel, que dava a direção para onde a gente teria que seguir.
Tinham levado comida?
Por incrível que pareça, desta vez eu levei pouca coisa. Toda vez que saía, sempre levava bastante fruta, biscoito, suco. Porque sempre tenho a visão que o mar é uma área que a gente não domina. A gente vai sabendo que é perigoso.
Mas dessa vez não levei. Até a água que o Maikel sempre leva para tomar banho, dessa vez ficou no carro. Comprou só um pouco no caminho. Tudo foi dificultando nossa situação.
O que motivou vocês nesses momentos que passaram lá?
Tinha muita fé em Deus, que Ele não nos desampara nunca. Eu conversava muito com o Maikel. Tinha momentos em que eu desanimava e outro que ele ficava cansado. O tempo todo a gente dava força ao outro. Eu só queria poder dar parabéns ao meu filho, que fez 14 anos ontem (terça-feira).
Eu falava que Deus iria enviar um anjo para resgatar a gente. Eu tenho muito que agradecer a todos que oraram pela nossa vida e também ao pessoal do rebocador, que teve o carinho de olhar a gente.
Chegaram a ver outros rebocadores passando?
Sim. A gente estava em uma rota de navio e rebocadores. Alguns passaram por nós, mas achavam que a gente estava pescando e acenando para desviar. Esse rebocador foi Deus mesmo que fez com que cruzasse o nosso caminho na hora certa.
Usamos uma tática diferente dessa vez, só tentando acenar, gritar e assobiar quando ele já estava bem próximo.
Já conseguiu descansar desde que chegou?
Eu praticamente não consegui dormir. Parece que tomei um energético. Na verdade, na lancha esse tempo todo também não dormimos, porque a gente estava bastante apreensivo. O medo era de um navio vir sobre nós durante a noite. Além disso, as ondas eram muito grandes.
Agora, queremos comemorar mesmo, ficar com a família e os amigos.
Outros casos
Oito horas até o resgate
Oito tripulantes de uma embarcação chamada “Lucas Mar”, que saiu de Marataízes, no Sul do Estado, para pescar no mar do Rio de Janeiro, passaram por momentos de tensão em março de 2022.
De acordo com eles, um rebocador bateu no barco e a embarcação começou a afundar. O acidente aconteceu a aproximadamente 28 milhas (cerca de 45 quilômetros) da costa do ponto conhecido como Barra do Rio de Janeiro.
O grupo permaneceu cerca de oito horas em um bote até ser resgatado por um barco. Eles foram levados para Cabo Frio (RJ).
Pai e filho
Dois pescadores de Itapemirim, no Sul do Estado, pai e filho, foram resgatados em março em alto-mar após o barco em que estavam naufragar. Um terceiro tripulante teria se jogado no mar, apoiado em uma tábua, dizendo que seguiria para terra para procurar ajuda, mas desapareceu. O barco teria quebrado no dia 15 e os três pescadores ficaram à deriva até o dia 20, quando afundou totalmente. Uma embarcação próxima ao local viu os pescadores agarrados a uma boia do barco e os resgatou até Jacaraípe, na Serra.
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