Cerveja pode ser contaminada com metanol? Analista químico explica
Alerta é do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, após casos de intoxicação por metanol registrados em São Paulo

Apesar dos casos recentes estarem ligados especificamente a bebidas destiladas, o metanol também pode aparecer, ainda que em quantidades pequenas, em produtos fermentados como vinho e cerveja.
O analista químico Siddhartha Giese, do Conselho Federal de Química (CFQ), explica que a substância pode surgir naturalmente durante o processo de fermentação de frutas ricas em pectina, como uvas, maçãs e ameixas.
“Durante a fermentação, a pectina pode ser degradada por enzimas que liberam metanol. Esse processo ocorre de forma natural e, quando controlado, resulta em concentrações seguras ao consumo”.
O risco aumenta em fermentações espontâneas ou mal controladas, nas quais microrganismos, como leveduras e bactérias pectinolíticas, podem intensificar a liberação da substância. Fatores como uso de frutas muito maduras, temperaturas elevadas e falta de controle microbiológico também favorecem a formação do metanol.
Mesmo assim, os níveis registrados em bebidas fermentadas costumam estar dentro dos limites. A legislação estabelece que vinhos tintos podem conter até 400 mg por litro de metanol, enquanto vinhos brancos e rosados têm limite de 300 mg por litro. Na cerveja varia entre 6 e 27 mg por litro, quantidade considerada segura para o consumo.
“Não beba se não tiver certeza da origem”

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sugeriu que as pessoas não tomem destilados, a menos que tenham “absoluta certeza” da procedência.
O ministro, que também é médico, citou três regras para qualquer bebida alcoólica. “Primeira regra, se beber, não pode dirigir. Segunda, se for beber, sempre muito hidratado e bem alimentado, isso pode, inclusive, reduzir os impactos de uma bebida adulterada, como é o caso do metanol. E terceiro, tenha segurança da origem”, disse, em entrevista à rádio CBN, na manhã de ontem.
“Eu sugiro, de fato, que as pessoas evitem, nesse momento, ingerir bebidas destiladas sem terem absoluta certeza da origem dela”, disse Alexandre Padilha.
Além de evitar consumir destilados de origem incerta, pacientes devem fornecer informações detalhadas aos profissionais de saúde.
“Quando pacientes chegam à unidade de saúde, às vezes contam os seus sinais, seus sintomas, mas não fazem alerta específico: 'fui a um lugar, bebi algo do qual eu não sabia a origem'”, afirmou.
A expectativa do ministro é que o número de casos suba após mudança de protocolo nos atendimentos e testagens. A pasta passou a orientar os profissionais de saúde a notificarem os casos com a maior brevidade possível, logo no primeiro contato suspeito, para mapear o tamanho do problema.
Antídoto

Além disso, o Ministério acionou a Organização Panamericana de Saúde para compra de fomepizol. Segundo Padilha, o governo vai verificar a possibilidade de importar diretamente com quem já produziu esse antídoto para ter uma espécie de estoque de reserva.
Ele salientou, contudo, que o etanol farmacêutico - principal antídoto contra intoxicação por metanol - está disponível no Brasil.
O ministro explicou que este não é o etanol comum, o das bebidas, muito menos o dos combustíveis, e deve ser usado sob supervisão dos centros de referência de intoxicação.
O governo anunciou ontem que registrou 22 casos de intoxicação por metanol. Sete foram confirmados e 15 estão em investigação.
Do total, seis casos resultaram em morte – um novo caso foi confirmado ontem –, das quais está confirmado que um tem relação com a ingestão de bebidas alcoólicas. As outras quatro estão sendo investigadas. O protocolo prevê coleta de sangue ou urina, análise laboratorial e, depois, investigação sobre as condições da ingestão.
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