Jovens reduzem tempo nas redes sociais
Redução pode ser resultado dos efeitos negativos da superexposição busca por novas experiências
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Os efeitos da superexposição às redes sociais e o desejo por construir conexões mais íntimas já afasta parte da Geração Z das redes sociais: de acordo com estudo, jovens entre 19 e 25 anos estão reduzindo o tempo de tela nas grandes plataformas de mídias sociais.
A pesquisa foi produzida e publicada pela revista britânica Dazed Studio neste ano.
Para o psiquiatra Daniel Cavalcante, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a redução do tempo nas redes sociais entre os jovens é resultado dos efeitos negativos da superexposição a telas e da busca por experiências que não eram possíveis durante o período de pandemia.
“Após o período de restrição social, houve aumento na busca por experiências presenciais. Com a pandemia, muitos jovens passaram a trabalhar em home office, o que contribui para a busca por atividades que não os coloquem na frente das telas, quando saem da rotina. As redes podem gerar fadiga aos usuários, que gastam muito tempo conectados”.
O psicólogo Gerson Abarca analisa que o melhor esquema de controle da superexposição às telas é determinar um tempo para o uso dos aparelhos tecnológicos.
Ele destaca que o ideal é que o tempo a menos nas redes sociais seja empreendido em atividades off-line, como leitura, esportes e conexões interpessoais.
“As redes sociais estão repletas de informações que os jovens passaram a desconfiar. A redução do contato com elas pode significar um maior tempo nos jogos, que são mais interessantes, mas também são digitais. Em ambos, ficamos com a atividade motora paralisada e temos perdas fisiológicas pela energia acumulada no corpo”.
Reservar tempo para compartilhar com a namorada, família e com os amigos, além de fazer leituras, são alguns dos motivos que afastam o programador Gabriel Nunes, de 28 anos, das redes sociais.
Mesmo no X (antigo Twitter), única rede social que ele possui, o tempo de tela é reduzido, conta.
“Gosto de aproveitar meu tempo com atividades de lazer. Às vezes, me pego sem consumir qualquer rede social durante um fim de semana inteiro. Até no dia a dia, uso pouco. Não gosto de me sentir na obrigação de movimentar um perfil, de compartilhar minha vida e de responder conversas que eu não teria pessoalmente”.
Mais dedicação à faculdade
“Me sinto melhor comigo”
Quando notou que gastava oito horas por dia nas redes sociais, o estudante de Medicina Marcelo Pereira Junior, de 30 anos, decidiu por uma mudança nos hábitos.
Ele reduziu o uso das redes sociais em 62%, passando a gastar, em média, três horas por dia com elas.
Com o tempo livre, o universitário se dedica mais à faculdade e às atividades de lazer fora da internet.
“Me sinto melhor comigo mesmo. No início, foi difícil, mas tracei estratégias para ir parando aos poucos. Os resultados foram muitos bons e estou seguindo até hoje”, conta ele.
Como você se relaciona com a tecnologia?
Desde que a mudança de um mundo industrializado para um mundo digitalizado de informações aconteceu, não há quem não tenha em seu lar pelo menos uma smart TV, um telefone, um notebook, um tablet, um smartwatch ou uma assistente digital (quando não tem todos eles de uma vez só).
Antigamente, quem não sabia ler e escrever era considerado analfabeto. Hoje, possuímos aqueles que são considerados analfabetos digitais, ou seja, a pessoa não tem conhecimento ou não sabe manipular as tecnologias e suas ferramentas.
Muitos países, inclusive o nosso, possuem programas para a diminuição deste analfabetismo, justamente porque a ausência deste conhecimento sobre a manipulação deste aparato gera a exclusão social.
Vá a uma unidade básica de saúde e peça para marcar uma consulta. A pessoa vai perguntar: “Você já se cadastrou no aplicativo?”. É claro que a tecnologia, principalmente com os celulares e a internet na palma da mão, nos fornecem benefícios, mas o problema é que não possuímos uma cidadania digital – não sabemos usar as tecnologias com responsabilidade e de forma consciente.
E, inclusive, prejudicamos a nós mesmos neste processo. A cena de um avô em sua casa recebendo, em seu telefone, a foto de sua neta nadando na piscina no outro lado do mundo é emocionante! Ele mostra para os parentes e amigos aquela cena, deixa o celular e retorna a sua rotina.
Aquelas mensagens o tornam participante, presente e, porque não, atuante na vida de seus netos. Todavia, o outro lado da moeda também existe! Em 2008, no Reino Unido, surge o termo nomofobia, que seria o medo irracional de ficar sem o celular.
Mesmo que ainda não faça parte do caderno de Classificação Internacional de Doenças, tem sido associado ao transtorno fóbico ansioso.
Provavelmente você já ouviu alguém dizendo: “Não posso perder este celular, minha vida está aqui dentro”. E não é mentira. Para esta pessoa, o celular é uma extensão de si. O site de informações sobre tecnologia ElectronicsHub apresentou em 2023 que o brasileiro passa 56,6% do tempo que está acordado em frente a telas, sendo, dos 45 países pesquisados, o segundo do ranking.
Estamos hiperconectados! E é aí que está o problema. O hiperconectado se desconecta do mundo real. Ele não aproveita as férias em família, não sente o gosto da comida do almoço, não se emociona com a música daquele show em que está, não descansa após o trabalho, não vê o carro que chega de surpresa no trânsito e não ouve o que o outro tem a dizer! Não é à toa que o movimento “aproveitar a vida real”, no qual as pessoas abandonam a tecnologia, principalmente os smartphones, tem ganhado cada vez mais adeptos.
Aprendi com a psicologia que tudo que é muito é ruim: comer demais é ruim, trabalhar demais é ruim, até amar demais é ruim.
Portanto, precisamos como indivíduos, famílias e sociedade debater sobre como estamos nos relacionando com a tecnologia existente para que a vida não passe e a gente não a viva, porque estávamos vendo uma dancinha qualquer em um aplicativo.
Análise
“Jovens buscam desconexão para preservar a saúde mental”
“A redução no tempo gasto on-line sinaliza uma mudança de comportamento significativa. A geração Z, entre 19 e 25 anos, está redefinindo sua relação com as redes sociais, de acordo com o estudo recente da Dazed Studio. Este fenômeno aponta para uma busca consciente por equilíbrio em meio à era digital.
Parece que os jovens, imersos na constante conectividade virtual, agora buscam desconexão para preservar a saúde mental e reavaliar prioridades. O estudo destaca uma mudança de foco notável, com os jovens direcionando atenção para a saúde física e mental.
Essa desconexão consciente indica uma resposta aos potenciais impactos negativos do uso excessivo de mídias sociais. Vícios, alterações de humor e relacionamentos superficiais são reflexos da dependência virtual.
A geração Z demonstra uma busca efetiva pela profundidade da compreensão de si, de suas relações com os outros e com o planeta em oposição à superficialidade digital e falta de comprometimento.”
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