“Sofri muito”, diz empresária que descobriu lipedema
Lara Taquette conta que precisou se submeter a uma cirurgia para tratar o problema, que no seu caso afetou as pernas
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“A minha vida inteira tive muita dificuldade de emagrecimento, vivia um enorme efeito sanfona. Por mais que fizesse exercício, não conseguia ter resultado.
Na minha gravidez, aos 29 anos, isso piorou muito, já que engordei 30 quilos. Depois do parto consegui emagrecer, com dieta e exercícios, mas minhas pernas não voltaram “ao normal”.
Eu podia emagrecer o quanto fosse, porém, a circunferência delas permanecia a mesma. Eu não usava short. As pessoas me viam de calça e vestido longo.
Eu sentia muito peso e inchaço nas pernas. Desde criança praticava exercícios físicos, mas, por volta dos 19 anos, comecei a ter muita dificuldade para correr, porque sentia muitas dores nas pernas e não entendia o porquê.
Foi nessa época que comecei a tomar anticoncepcional. E, na gravidez, a carga hormonal agravou ainda mais meu estado, que até então eu desconhecia: lipedema.
Eu achava que ser “caneluda” era do meu biotipo, e que os inchaços, as dores e os roxos que apareciam, achava que todo mundo sentia isso. Por exemplo, em um final de semana, se eu comesse muito sal, churrasco ou se tomasse bebida alcoólica, eu ganhava uns cinco quilos.
A minha vida toda tive muita celulite e não entendia o motivo, já que fazia atividade física, dieta low carb e jejum intermitente. Passei por nutricionistas, nutrólogos, além de fazer estética e não ver resultado. Isso me frustrava muito, ficava muito triste. Eu tinha altos e baixos.
Sempre postava em minhas redes sociais essa minha luta para perder peso, sem ver resultados nas minhas pernas.
Há três anos, uma seguidora falou comigo que poderia ter lipedema e eu falei: “o que é isso?”, e ela me explicou que tratava-se de uma gordura nas pernas. Ela me indicou um cirurgião vascular e disse que ele poderia diagnosticar ou não o lipedema.
Fui nesse médico e na hora ele me olhou e disse que era lipedema. A minha maior concentração de gordura era na canela, do joelho para baixo. Era muito desproporcional, minha panturrilha era quase do tamanho da minha coxa!
Com o diagnóstico, estava esperançosa que poderia haver um “milagre”, um remédio que fosse melhorar minha vida. Mas o médico me disse que não. Ele falou: “O que você faz já é tudo. Você faz exercício físico, faz dieta, faz drenagem, não tem mais o que fazer”.
O que mais poderia ser feito, segundo o médico, era eu tomar remédio para dor e diurético. Porém, eu não queria ficar tomando remédio.
Chorei muito, porque descobri que nunca teria o corpo que eu sonhava. Sempre fiz muitos exercícios físicos e dietas, porque tinha um sonho de ter as pernas bonitas, definidas.
Cirurgia
Comecei a procurar informação e descobri que tinha cirurgia (lipoaspiração) para o lipedema, mas na época só tinha em São Paulo. Procurei por grupos de ajuda em todo o Brasil, de mulheres com lipedema.
Conheci várias pessoas de outros estados que já tinham feito a cirurgia. Fui para São Paulo e fiz a cirurgia, há um ano e três meses. Entretanto, ela não é cura. Ela só me possibilitou tirar a gordura da panturrilha, do joelho para baixo e posterior da coxa, que eram os locais onde tinham muitos nódulos.
O aspecto da pele e a flacidez eu ainda tenho. Incha menos, mas ainda o tenho também. Alimentação regrada e atividade físicas serão para a vida toda.
É possível amenizar o aspecto da gordura, que provoca o lipedema, mas ela não some. O lipedema é uma camada de gordura por cima do músculo, é uma gordura fibrosa.
Hábitos
A cerveja, por exemplo, não me faz falta. Não posso beber de jeito nenhum. Para quem tem a doença, o álcool é muito ruim. Aos fins de semana, às vezes, me permito comer um chocolate. Mas, durante a semana, faço jejum intermitente e dieta low carb, e não como nada que tenha farinha branca, como o trigo. Também faço musculação, crossfit e drenagem.
Aprendizado
Descobri com essa doença a trabalhar a parte psicológica. Foi difícil entender, no início, que nunca teria, independente do que fizesse, o que sempre sonhei e busquei: um corpo de atleta. Tive de mudar minha mente e entender, por exemplo, que não posso comer o pãozinho de sal do dia a dia.
É saber comer apenas quando vale a pena. É entender meu corpo. Hoje ajudo pessoas e vejo que muitas ainda não entendem que o lipedema é uma doença que progride.
Quem é?
Lara Taquette tem 35 anos. É influencer, terapeuta de emagrecimento e empresária.
Há três anos descobriu ter lipedema, condição caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura que pode afetar pernas, braços e quadris.
Passou por cirurgia há um ano e três meses para retirar o excesso de gordura da panturrilha e posterior de coxa, que causava dores e inchaço.
O que dizem os médicos
“É importante divulgar a doença”
“Há estudos mostrando que a prevalência de mulheres com lipedema no Brasil é em torno de 12%. A doença foi descrita em 1940, mas só recebeu Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) ano passado. Então, esse número de 12% pode estar subestimado, porque muitas pessoas podem ter lipedema e nem sabem. Aspectos de celulite, peso nas pernas, inchaços e hematomas espontâneos são alguns dos sintomas. É importante divulgar a doença para que as mulheres busquem o diagnóstico”.
“O tratamento é para toda a vida”
“A base do tratamento é a dieta anti-inflamatória. Se os pacientes não se adaptam a essa dieta, tudo que fizermos é perda de tempo. O tratamento é composto por dieta, atividade física e cirurgia. Consideramos a cirurgia o último caso ou para complementar quando há um volume de gordura muito grande e não é possível ser tirado com tratamento clínico. Drenagem linfática, uso de meias de compressão e alguns remédios também ajudam a melhorar os sintomas. O tratamento é para toda a vida”.
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