“Essa tragédia levou minha filha e meu neto”, diz professora de Mimoso do Sul
Já são 19 vítimas contabilizadas de acordo com dados divulgados pela Sesp
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Em meio a tantas informações desencontradas nos últimos dias em Mimoso do Sul, a professora aposentada Maria das Graças Soares, de 73 anos, só queria que a morte da filha, a professora Adair Antônia Fernandes Medeiro, de 43 anos, e do neto, Leonardo, de 6 anos, fosse mais uma notícia falsa que circulava pela cidade.
Mãe e filho morreram após o desabamento de uma barreira em Reserva, no distrito de Conceição do Muqui. O marido dela, que também estava em casa no momento, está no hospital e passou por duas cirurgias. O outro filho, de 2 anos, foi socorrido e já recebeu alta.
O casal, que estava casado no civil há sete anos, tinha realizado o sonho de realizar a cerimônia religiosa há pouco mais de um mês.
Para Graça, não há como mensurar a dor, em meio à tragédia. Após também ter perdido tudo de sua casa, ela tem buscado abrigo e um pouco de conforto na casa de amigos.
“Estou com meu netinho que foi sobrevivente, que tem chamado pela mãe, pedido para ouvir a voz dela em áudios. Ele conseguiu sair com a ajuda de vizinhos, mas minha filha e o meu outro neto ficaram sobre os escombros e não resistiram”.
Segundo Graça, Adair era professora e também deu aula na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Cachoeiro por cinco anos.
“Minha filha era uma menina tão boa. Uma filha que nunca me deu trabalho, nunca brigamos, nunca foi malcriada. Só tinha 43 anos e era apaixonada pelas crianças. Engravidou e perdeu duas vezes até ter o Leonardo. Um médico chegou a dizer que ela não conseguiria e Leonardo foi o primeiro milagre dela. Era o sonho dela ser mãe”.
Para Graça, uma das características da filha que era mais marcante era a capacidade de fazer amigos.
Moradores tentaram fugir por telhados
O mar de lama destruía tudo o que estava pela frente, em Mimoso do Sul. Em meio ao que parecia um pesadelo, as pessoas gritavam por socorro, rezavam, usavam as mãos para tentar se agarrar a tudo o que viam pela frente, além de tentar escapar da morte pelo telhado.
Só que em meio a tantas estratégias, nem todos tiveram a oportunidade de nascer de novo, como descrevem os sobreviventes.
Quem acompanha de perto o cenário de destruição é o padre Gracione Augusto Alves, da Paróquia São José, de Mimoso do Sul. Ele perdeu vários fiéis da igreja.
“Uma das vítimas (Sérgio Luiz de Souza) que morreu aqui do lado do supermercado, na casa dele, gritava, batia na janela, urrava pedindo ajuda, mas não conseguiu. Ele deve ter uns 65 anos e tinha uma cuidadora. Os dois morreram”, disse o padre.
Ainda segundo ele, em uma casa para pessoas com deficiência onde cinco pessoas morreram, uma cuidadora teria conseguido salvar cinco pessoas. “Ela (cuidadora) subiu no telhado para se salvar e os que não eram acamados, ela conseguiu tirar, colocar em um lugar mais alto, mas os acamados ela não conseguiu. Ela gritava, gritava e nada. Depois de fazer de tudo o que estava ao seu alcance, ela conseguiu escapar da morte”.
O padre também citou outro caso, de uma senhora que também morreu. “A irmã dela, que eu dei a notícia ontem (domingo), me disse que ela e a irmã estavam conversando no telefone, uma acalmando a outra. Só que, segundo ela, de repente, ela perdeu o contato com a irmã. Ela estava na casa dela quando morreu. Era uma pessoa muito ativa. Ela tinha uns 80 anos e eu estive com ela semana passada aqui na igreja. Ela servia na igreja, era muito atuante”.
Na tarde desta segunda (25), a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) divulgou o nome das 19 vítimas já identificadas e aquelas que ainda aguardavam confirmação.
Entre as pessoas que perderam a vida, estavam os irmãos Lorena Moraes Miguel e Rodrigo Moraes Miguel. Nas redes sociais, amigos prestaram homenagens.
Até a tarde desta segunda, a Sesp informou que havia três corpos aguardando liberação no Serviço Médico Legal, ainda sem identificação. Todas eram do sexo feminino: uma criança, com idade aproximada de 6 a 7 anos, uma idosa e uma adolescente.
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