Crea reprova 30 postes em Vila Velha
Conselho de Engenharia notificou a prefeitura para que adote medidas urgentes para manutenção e garantia da segurança
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A queda de parte de um poste na orla de Vila Velha, que atingiu na cabeça a empresária grávida Clesiane de Fátima Viana, de 34 anos, levou técnicos do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) à região.
Cerca de 30 postes da orla apresentaram problemas, como desplacamentos de concreto e corrosão das estruturas de aço. O Crea notificou a Prefeitura de Vila Velha para que adote medidas urgentes para manutenção e garantia da segurança na região.
O gerente de fiscalização do Crea-ES, o engenheiro civil Leonardo Leal, afirmou que sete profissionais do Conselho estiveram na região de Coqueiral de Itaparica, entre os quiosques 7 e 16.
“Constatamos em muitos postes da região um estado avançado de corrosão no aço. Esse processo de corrosão é acelerado por causa da ação de íons cloreto presentes na atmosfera marinha, conhecida como maresia. A corrosão faz com que essas estruturas aumentem de volume, o que leva ao aparecimento de trincas nos postes. Sem manutenção, depois de um tempo, o concreto vai se desprendendo, que foi o que aconteceu”, explicou Leal.
Após a visita, ele reforçou que o ofício foi encaminhado à prefeitura para a manutenção. “Alguns postes precisam ser substituídos e outros é possível fazer a recuperação, dependendo do caso”.
Além disso, pede que a prefeitura ainda avalie a situação dos outros postes de toda orla do município, já que a maresia faz com que a necessidade de vistoria seja ainda mais frequente.
Em 15 dias, ele reforçou que o relatório do Crea será finalizado.
Acidente
A empresária Clesiane foi atingida na cabeça por um pedaço de concreto que se desprendeu de um poste na orla de Coqueiral de Itaparica, no início da tarde do último domingo (03).
Ela e o marido, João Paulo Martinez, 31, estavam procurando um local para almoçar quando pararam em frente a um quiosque, próximo ao poste.
Imagens mostram o momento em que Clesiane cai no chão. Ela está grávida do primeiro filho, Henrique, previsto para nascer no final de março, e teve afundamento no crânio. Na tarde de ontem, passou por mais de quatro horas de cirurgia. Segundo João Paulo, ela e o bebê passavam bem.
Cenas da vistoria
"Ela não conseguia andar" - João Paulo Martinez, marido de Clesiane
Apaixonados pelo mar, Clesiane de Fátima Viana, 34, e João Paulo Martinez, 31, escolheram morar em Vila Velha por causa da qualidade de vida. Eles eram frequentadores assíduos das praias da região e, no domingo, quando andavam pela orla de Coqueiral de Itaparica, aconteceu o acidente.
Na noite de ontem, João Paulo conversou com a reportagem e atualizou o estado de saúde da mulher e do bebê, Henrique.
A Tribuna - O que aconteceu?
João Paulo Martinez - Fomos para a praia almoçar. Paramos em um quiosque para ver se tinha disponibilidade, próximo ao poste. Ali, a pedra se deslocou e caiu na cabeça dela, e Clesiane caiu.
- Viu que era parte do poste?
Inicialmente, achei que era uma pedra. Mas as pessoas me mostraram que na verdade tinha caído o poste. Fez um ferimento grande na cabeça, ela perdeu muito sangue.
No local, mesmo com plano de saúde, um paramédico disse que o ideal era ir para o São Lucas, referência em trauma. Ela entrou sozinha e após cerca de duas horas falaram que eu podia entrar. Quando eu entrei, ela já estava de alta. Ela não estava sentindo as pernas e eu questionei. O médico falou que não tinha necessidade de ressonância, pois ela estava lúcida.
- Foi para a casa?
Depois que o médico falou que provavelmente a perna estava dormente de ficar sentada e que era para ficar com a perna para cima, voltamos para casa. Eu a carreguei, pois nem conseguia andar.
No banho, ela desmaiou. Fomos para o Hospital Meridional. Avaliaram o bebê e, depois, o trauma. Viram que ela não respondia bem aos movimentos das pernas e recomendaram a tomografia. Fizeram ressonância com colete de chumbo pra proteger o bebê. Foi constatado um afundamento do crânio dela. Quebrou bastante o osso e isso pressionava região do cérebro que controla o movimento das pernas.
- Precisou fazer cirurgia?
Sim. A minha esposa entrou para cirurgia por volta das 15h (de segunda-feira, 04). Após quatro horas na sala de cirurgia, recebi a informação que ela e Henrique estavam bem. Foi tudo dentro do esperado.
Hospital vai apurar atendimento à gravida
O atendimento da equipe à empresária Clesiane de Fátima Viana será apurado pelo Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas. Segundo o marido, João Paulo Martinez, ela foi liberada no dia em que deu entrada, mesmo com queixas de que não estava conseguindo se locomover direito.
Após desmaiar em casa, ela foi levada a um hospital particular, onde segue internada.
A Secretaria da Saúde (Sesa) informou que o hospital abriu processo de sindicância para apurar a conduta no atendimento à paciente, dando a oportunidade para a equipe médica se manifestar e, após, adotar as medidas cabíveis.
Mais cedo, o hospital informou que a paciente foi atendida e liberada, uma vez que a causa principal para o atendimento, o trauma, foi averiguado pelas equipes de cirurgia geral e neurocirurgia.
Disse ainda que não dispõe de médicos obstetras responsáveis por atender grávidas, de forma que a paciente foi liberada após a solução da queixa principal.
Prefeitura registra boletim de ocorrência por omissão
Após o acidente, a Prefeitura de Vila Velha informou que a iluminação da cidade, em áreas públicas comuns, como a orla, é de responsabilidade do consórcio SRE-IP Vila Velha, uma parceria público-privada vigente desde 2020.
A secretária de Obras e Projetos Estruturantes, Menara Cavalcante, afirmou que a prefeitura registrou um boletim de ocorrência por omissão por parte da empresa responsável. Disse, ainda, que desde maio de 2022, o consórcio de empresas vem recebendo notificações da prefeitura, apontando a necessidade urgente de substituição de postes, incluindo o que atingiu a empresária.
“Em julho deste ano, a empresa respondeu que havia substituído 25 postes, mas isso não atendeu às necessidades da região”, disse.
Já a concessionária diz que foi contratada pela prefeitura para prestar serviços de iluminação pública e que vem cumprindo o contrato de concessão em sua íntegra.
Disse, ainda, que na evolução do seu contrato encontra desafios que por si só impedem a sua atuação, muitos “causados pela própria administração pública”.
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