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Cidades

Coral invasor é ameaça em navio afundado no ES

Partes do navio afundado Victory 8B quebraram e foram tomadas pelo coral-sol, que ameaça toda a biodiversidade marinha


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Imagem ilustrativa da imagem Coral invasor  é ameaça em navio afundado no ES
A ilha escalvada, em Guarapari, é onde o coral-sol (destaque) que invadiu o espaço da vida marinha do navio afundado Victory 8B |  Foto: Roberta bourguignon e Bruno Felipetto

Depois das tempestades que atingiram Guarapari no início deste ano, o navio afundado Victory 8B, que fica no fundo do mar em frente à Ilha Escalvada, acabou quebrando. Nessa ruptura, muitas partes da embarcação foram tomadas por um coral que ameaça a biodiversidade marinha no local.  

A espécie já foi identificada e se trata do coral-sol, de cores fortes que vão do laranja ao amarelo, e tem uma beleza que engana, mas não é nativo da região e, por isso, preocupa os mergulhadores que visitam o navio no fundo do mar.

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Eles temem que o maior recife artificial de peixes da América Latina possa desaparecer por causa da invasão do  coral-sol.

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Mergulhadores sobre o local do naufrágio |  Foto: Roberta bourguignon e Bruno Felipetto

A invasão de espécies não nativas em todo o mundo é considerada a segunda maior causa da perda de biodiversidade. 

“Quase todas as partes do Victory foram tomadas pelo coral-sol e é uma coisa perigosa para as espécies de Guarapari, porque onde esse coral chega, mata outras espécies nativas. Então existem vários relatos de que onde ele chega, destrói tudo”, explicou o empresário e instrutor de mergulho, Bruno Filipetto. 

Exótica 

 O biólogo capixaba e mestre em biologia animal, Daniel Gosser Motta, esclareceu que o coral consegue se propagar e crescer mais rápido do que muitas espécies que vivem nos recifes, além de ser capaz de resistir às variações de temperaturas e conseguir se aderir a todos os tipos de substratos, incluindo naufrágios, píeres e recifes artificiais.

Onde se propaga, o coral ainda possui uma defesa química eficaz contra outros corais nativos, destruindo os tecidos deles e, desse modo, acabando com a biodiversidade marinha, porque os peixes, naquele ambiente, vivem e se alimentam dos nutrientes que os corais já destruíram. 

“O coral-sol é considerado uma espécie exótica invasora, pois não é uma espécie nativa do nosso território e conseguiu se estabelecer, se propagar e causar um grande impacto ecológico, tornando-se assim uma praga”, afirmou o especialista.

 E concluiu: “Espécies exóticas invasoras possuem vantagens competitivas e favorecidas pela ausência de predadores naturais, ameaçando a sobrevivência das espécies nativas”, explicou Daniel Gosser Motta.

Local atrai turistas de vários países

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Bruno Felipetto pede ajuda para salvar vida marinha do navio Victory 8B |  Foto: Roberta bourguignon

O navio Victory 8B comemorou, neste mês, 20 anos de afundamento. Foi por causa desse navio que Guarapari possui o título de maior recife artificial de peixes da América Latina e o local atrai turistas de vários países.

A embarcação no fundo do mar possui 89,77 metros de comprimento e foi afundada de forma controlada a quase 40 metros de profundidade, em frente à Ilha da Escalvada, a 12 quilômetros da orla da cidade, depois de 500 dias de limpeza.

O navio estava abandonado no Porto de Vitória depois de ser apreendido pela Companhia Vale a  pedido do Banco Central da Grécia.

Com autorização do Ministério do Turismo (MTur), avaliação do Ibama, Instituto Chico Mendes  (ICMBio) e Marinha do Brasil, pôde virar o berçário de centenas de espécies de peixes e é atração para turistas de todas as partes do mundo.

“Milhares de turistas de todo o mundo visitam a cidade só para conhecer o navio de perto. O Victory é uma atração superimportante para Guarapari, uma vida marinha abundante foi atraída pelo navio, e é uma conquista que a cidade teve, e temos muito o que comemorar nesses 20 anos”, explicou o empresário e instrutor de mergulho Bruno Felipetto.

Porém, essa biodiversidade está ameaçada, após o surgimento de uma espécie exótica, o  coral-sol

“Acredito que,  neste momento, vamos precisar de ajuda na área ambiental, para que possamos liberar o Victory desse coral invasor”, afirmou Felipetto.  

Até o momento, o coral-sol já invadiu costões rochosos do litoral de cinco estados brasileiros, sendo o Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Bahia.

Ministério do Meio Ambiente cria grupo contra espécie invasora

Em decorrência do aumento do coral-sol na costa brasileira e da preocupação com os impactos ambientais no processo de invasão, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) criou planos nacionais de prevenção, controle e monitoramento da espécie no Brasil, para salvar a biodiversidade marinha onde foi identificado o invasor. 

A equipe técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) elabora, desde 2016, o Plano Coral-sol, com o objetivo de realizar monitorias de como combater a espécie.

“O Grupo de Trabalho Coral-Sol visa fornecer assessoramento técnico e coordenar a elaboração do plano de controle e monitoramento da bioinvasão do coral-sol”, destaca o biólogo Daniel Gosser Motta. 

Segundo ele, foram estabelecidas medidas de manejo que, por meio de métodos mecânicos, químicos ou biológicos, reduzem a abundância e/ou densidade de uma espécie exótica invasora para minimizar seu crescimento populacional, dispersão e impactos e, sempre que desejável e possível, a erradicação de populações do coral-sol.

O coral-sol é nativo dos oceanos Índico e Pacífico, e existem duas espécies registradas no Brasil, Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis. Ambas vieram  por meio de uma plataforma de petróleo que chegou na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, em 1980.

O problema, segundo o biólogo, é que não houve  estudos sobre o animal, que se espalhou. Outros navios podem ter trazido o coral. 

“O coral deve ter vindo em navios que não esvaziaram as suas águas de lastro na região oceânica e sim no litoral, facilitando com que as larvas desse coral se fixassem por aqui. Agora ele precisa ser combatido o quanto antes”.  

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