Acidentes com motos provocam uma morte por dia
Só neste ano foram 233 motociclistas vítimas de acidentes
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Perigo em duas rodas. O número de vítimas motociclistas chama a atenção: por dia, uma pessoa morre em acidente no Espírito Santo.
De janeiro a julho deste ano, 233 motociclistas morreram, de um total de 482 mortes no trânsito envolvendo outros veículos. Os dados são do Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo.
Na quarta-feira (23), mais duas pessoas entraram para essa estatística, em um intervalo de menos de três horas. O primeiro foi Sebastião Cavalcanti de Holanda, 45 anos, em Colina de Laranjeiras, Serra.
Consta no Boletim Unificado (BU) que, “de acordo com as marcas do ponto de impacto no pavimento, a colisão ocorreu na faixa de rolamento do caminhão, onde o condutor da moto por algum motivo invadiu a faixa do caminhão e caiu debaixo do veículo”.
Horas depois, Oséias Bueno Schneider, 29, morreu, na subida da Terceira Ponte, em Vila Velha. No BU consta que as partes envolvidas (um outro motociclista e um motorista de guincho) relataram à polícia que Oséias teria feito uma manobra de mudança de faixa quando o motociclista o ultrapassava.
Ainda segundo o BU, o motociclista acredita que a vítima teria colidido no baú de sua moto, caindo, e sendo atropelado pelo guincho.
O capitão Anthony Moraes Costa, chefe do setor de Comunicação do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), destaca que, infelizmente, muitos motociclistas priorizam a agilidade, abrindo mão da segurança. “Na condição de motociclista que também sou, posso testemunhar as inúmeras imprudências no trânsito todos os dias”.
Ele deu exemplos: “Excesso de velocidade, avanço de semáforos ou de placas de parada obrigatória, ultrapassagens forçadas, retrovisores rebatidos e mau uso dos equipamentos de proteção são só alguns”.
Para o presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Estado (Sindimotos-ES), Alexandro Martins Costa, existe a imprudência, mas não é só isso. Ele disse que, além das mortes, pelo menos dois motociclistas ficam mutilados por dia em acidentes.
“A inflação está alta e as pessoas têm migrado do carro para a moto. Há muita gente desempregada e cresceu o número de empresas de aplicativos tanto de alimentos quanto de transporte de pessoas. São profissionais de outras áreas, que não têm convívio no trânsito”.
Segundo ele, usar moto para ir e voltar para casa é uma coisa, mas ficar oito horas nela é diferente. “Temos ruas estreitas e outros problemas, o que é preocupante”.
Algumas vítimas
“O vazio que fica é enorme”, afirma Luciano da Silva, pai da vítima.
Na lembrança, a saudade de uma filha vaidosa, cheia de sonhos, brincalhona e que amava eternizar seus momentos nas redes sociais. Foi assim que o técnico de manutenção Luciano da Silva Teixeira, 46 anos, falou sobre a filha Nayara Luciana de Freitas Silva, 17, que morreu na última segunda-feira, em Marcílio de Noronha, Viana.
A moto era pilotada pelo namorado, que perdeu o controle e caiu. Ela foi arremessada a cerca de 40 metros e bateu em um poste de energia. Consta no registro da ocorrência que ele foi submetido ao teste do bafômetro, que deu resultado positivo para o consumo de bebida alcoólica.
A Tribuna – Como tem sido os dias após a morte?
Luciano da Silva Teixeira – Agora mesmo eu estava olhando o Instagram e vendo as coisas que postava. O vazio que fica é enorme e a saudade ficará para sempre. Ela era adorável, carinhosa, brincalhona, que sonhava em ser médica ou médica veterinária. Também gostava da área de estética.
- Na sua opinião, o que provoca tantas mortes no trânsito?
Seria importante intensificar as fiscalizações de trânsito. Muitos jovens gostam de sair, curtir, ir para a balada e beber. Se tivesse mais fiscalização, iria reduzir os acidentes. Não estou dizendo que a minha filha poderia ter escapado, mas isso pode inibir mais mortes.
Números
Vítimas com motos*
- 2022: 243;
- 2023: 233.
*(de janeiro até julho)
Por sexo
82% das vítimas são do sexo masculino, enquanto 18% são do sexo feminino.
Por dia da semana
- Domingo: 22%;
- Segunda-feira: 13%;
- Terça-feira: 12%;
- Quarta-feira: 10%;
- Quinta-feira: 10%;
- Sexta-feira: 15%;
- Sábado: 18%.
Por horário
- 18h às 23h59: 28%;
- 12h às 17h59: 36%;
- 6h às 11h59: 24%;
- 0h às 5h59:12%.
Tipo de via
- Estadual e municipal: 74%;
- Federal: 26%.
Fonte: Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo.
Depoimento
"Estou em choque"
“Eu fiquei à tarde toda no escritório hoje (quarta-feira, 23). Só estava sabendo da notícia de um acidente na ponte de um motoboy, fatal, em razão de uma colisão, mas não imaginava que era o meu amigo. Só fiquei sabendo por agora (por volta das 17 horas) por meio de um grupo de WhatsApp de vários colegas. Até agora estou sem acreditar.
Oséias sempre foi um menino muito carismático, sempre sorridente. Amava tocar violão e servir em diversos grupos de orações em comunidades católicas. Ainda estou em choque com todo o ocorrido”.
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