Cinco bancos fecham proposta para emprestar R$ 12 bi aos Correios
Pleito dos Correios era um crédito de R$ 20 bilhões, montante considerado necessário para bancar o plano de reestruturação da empresa
Um grupo de cinco bancos, dois deles controlados pelo governo federal, fechou proposta para conceder empréstimo de R$ 12 bilhões aos Correios, vinculado ao plano de reestruturação da estatal.
O custo da operação ficou dentro do teto de 120% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) estipulado pelo Tesouro Nacional para conceder garantia soberana. Isso significa que a União honrará os pagamentos em caso de inadimplência, o que torna o risco de prejuízo praticamente nulo para as instituições financeiras.
A proposta é inferior ao valor integral solicitado pela empresa e terá a participação de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. Os três últimos entraram apenas recentemente nas negociações, enquanto a Caixa voltou a participar das conversas após a Casa Civil entrar no circuito para que a instituição integrasse o sindicato de bancos.
Inicialmente, o pleito dos Correios era um crédito de R$ 20 bilhões, montante considerado necessário para bancar o plano de reestruturação da empresa em 2025 e 2026. As medidas incluem a regularização de dívidas com fornecedores e bancos, um novo PDV (programa de demissão voluntária) para desligar 15 mil empregados em 2026 e 2027 e a reformulação de cargos e salários e do plano de saúde da companhia, entre outras iniciativas.
O próprio comando da empresa já admitia a possibilidade de fatiar a contratação do empréstimo, caso isso se mostrasse necessário para reduzir os custos da operação. Por outro lado, a concretização dessa via significa que os Correios podem precisar de um novo crédito ou aporte do Tesouro em 2026, ano eleitoral.
Uma primeira proposta, que atendia integralmente ao valor de R$ 20 bilhões, foi apresentada por Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra. No entanto, o Tesouro travou a contratação e rejeitou conceder a garantia soberana por considerar a taxa de juros muito elevada.
Na ocasião, o custo do empréstimo ficaria próximo a 136% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou cerca de 20% ao ano. A tabela de custo máximo aprovada pelo comitê de garantias do Tesouro Nacional prevê um teto de 120% do CDI (em torno de 18% ao ano) em operações desse tipo com prazo de dez anos.
O crédito chegou a ser aprovado no conselho de administração dos Correios em 29 de novembro. No entanto, em 2 de dezembro, o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, foi chamado ao Ministério da Fazenda e ouviu que, naquelas condições, o governo não concederia a garantia.
O aviso abriu um impasse, dado o prazo exíguo para socorrer a empresa --que acumulou um prejuízo de R$ 6,1 bilhões nos primeiros nove meses do ano.
Até o dia 20 de dezembro, os Correios precisam pagar o 13º salário dos trabalhadores. Diante disso, o Executivo colocou a data como limite para destravar a operação, dada a impossibilidade técnica de fazer um aporte com recursos próprios do governo ainda em 2025.
Foi nesse contexto que o governo acionou a Caixa Econômica Federal, que havia participado das conversas iniciais sobre o empréstimo, mas não apresentou proposta formal nas rodadas anteriores. Segundo interlocutores do governo, a ausência da Caixa e a decisão do Banco do Brasil de chancelar uma taxa de juros elevada na primeira proposta repercutiram mal e foram alvo de conversas entre o Executivo e as instituições financeiras.
Nas novas negociações, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra deixaram o consórcio de bancos. Parte deles não aceitou reduzir a taxa de juros, segundo interlocutores. Houve ainda quem deixou a mesa de negociação devido à demora na concretização da operação, que acabou tornando mais difícil mobilizar os recursos necessários para conceder o crédito.
Em paralelo à negociação com os bancos, o presidente Lula publicou na noite de terça-feira (9) um decreto que abre caminho para a concessão da garantia soberana à operação. A medida foi antecipada pela Folha.
O ato permite que uma estatal apresente um plano de reestruturação ao identificar risco de dependência do Tesouro Nacional no ano corrente ou nos três exercícios seguintes. A situação de dependência ocorre quando a companhia precisa de dinheiro do Orçamento para custear despesas operacionais, incluindo pessoal.
Nesse plano de reequilíbrio, a companhia deve apontar as estimativas dos aportes que seriam necessários e medidas de ajuste em despesas e receitas em magnitude suficiente para manter o status de não dependência.
O plano também "deverá conter eventuais operações de crédito com garantia da União que a empresa estatal pretenda contratar". Esse é um ponto central do decreto, pois permite que os efeitos financeiros das medidas de ajuste sejam considerados na avaliação da capacidade de pagamento.
A chamada "capag" é um indicador crucial para determinar se um ente ou uma empresa estatal faz jus ou não à garantia da União.
Na prática, o ato abre caminho para que os técnicos avaliem o pedido de aval dos Correios levando em consideração medidas de ganho de receitas e corte de despesas que ainda não foram implementadas. É diferente do rito habitual, no qual o Ministério da Fazenda analisa a fotografia atual da saúde financeira dos entes ou das estatais.
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