Cidade que cresce precisa organizar seu potencial criativo
Prainha desponta como território estratégico para unir cultura, inovação e desenvolvimento em Vila Velha
Cidades que levam a sério o próprio futuro tratam cultura e inovação como infraestruturas, não como ornamentos de gestão. A discussão sobre como Vila Velha quer se inserir nesse cenário passa, cada vez mais, pela Prainha. Ali se concentram patrimônio histórico, equipamentos públicos e uma rede crescente de iniciativas culturais e econômicas. A questão que se coloca é simples: como transformar esse conjunto em um ecossistema capaz de gerar trabalho, renda e novos modos de viver a cidade?
Os dados globais ajudam a dimensionar a oportunidade. Relatórios recentes da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicam que, em 2022, as exportações de serviços criativos chegaram a 1,4 trilhão de dólares e responderam por cerca de 19% de todos os serviços exportados no mundo.
A Unesco aponta que os setores culturais e criativos representam aproximadamente 6,1% da economia mundial e geram perto de 30 milhões de empregos, com forte presença de jovens. Ou seja, cultura e criatividade deixaram de ser tema lateral: tornaram-se campo estratégico de desenvolvimento.
Experiências internacionais mostram que distritos de inovação e hubs criativos podem reorganizar economias locais. O Porto Digital, no Bairro do Recife, reúne hoje mais de 400 empresas e cerca de 21 mil postos de trabalho em tecnologia e serviços intensivos em conhecimento, com faturamento anual superior a R$ 5 bilhões e expansão constante na última década.
A articulação entre governo, universidades, empresas e organizações culturais fez do centro histórico de Recife um polo de inovação, reforçando o papel da cultura na requalificação urbana.
A discussão sobre Vila Velha entra nesse mapa quando olhamos para a Prainha e para as diretrizes do Distrito Criativo, instituído em 2021 como instrumento de fomento a atividades culturais, criativas e inovadoras naquele território. Há ali uma combinação rara: sítio histórico, equipamentos culturais, vocações turísticas, tradição religiosa e uma comunidade que já organiza ações em rede, de coletivos culturais a associações empresariais. É nesse ponto que a ideia de um hub de inovação voltado à economia criativa ganha pertinência.
Um espaço desse tipo teria função clara: conectar políticas públicas, iniciativas privadas, instituições de ensino, entidades empresariais como a Associação Empresarial de Vila Velha (Assevila), coletivos culturais e comunidade local. Serviria para organizar programas de formação, incubação de negócios criativos, desenvolvimento de soluções para desafios da cidade e projetos que cruzam cultura, turismo, tecnologia e educação.
A Casa Amarela, na Prainha, surge como possibilidade concreta para essa articulação. Transformar esse imóvel em ponto de convergência para iniciativas de inovação significaria assumir que o futuro da cidade pode nascer de espaços que guardam sua história.
Um arranjo desse tipo poderia organizar trilhas de capacitação, laboratórios de protótipos, editais temáticos, desafios públicos e projetos de internacionalização para empreendedores locais, articulando poder público, universidades e demais parceiros privados.
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