Por que Fernando e a ex foram indiciados por morte de Esther, e Fabiano inocentado?
Inquérito conclui que Fernando e Uilma tiveram papel direto no crime, enquanto Fabiano não apresentou nenhum vínculo com a morte de Esther
Com informações de Simone Santos, da TV Tribuna PE
Passados pouco mais de trinta dias da morte de Esther Isabelly Pereira, de apenas 4 anos, a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou duas pessoas já presas durante as apurações: Fernando Santos de Brito, 31 anos, e a ex-mulher dele, Uilma Ferreira dos Santos, 33 anos. Os detalhes do caso foram divulgados nesta sexta-feira (5), em coletiva de imprensa.
Fabiano Rodrigues de Lima, 27 anos, que morava numa casa conjugada com Fernando, também havia sido preso como suspeito, mas a polícia não encontrou contradições em seu depoimento. Ele também tinha álibi no momento em que a criança desapareceu, no bairro do Pixete, em São Lourenço da Mata. Cerca de 15 pessoas foram ouvidas antes da conclusão das investigações.
O relatório final da Polícia já foi enviado na quarta-feira (3) ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que agora decidirá se denuncia o caso à Justiça ou se pede novas diligências. Os investigadores defendem que Fabiano seja solto.
A conclusão do inquérito marca uma nova fase de um caso que mobilizou moradores de São Lourenço da Mata, equipes policiais e familiares desde o desaparecimento da menina, ocorrido em 20 de outubro. A investigação, iniciada na Delegacia de São Lourenço, foi transferida para a Delegacia de Camaragibe.
“O Ministério de Público de Pernambuco (MPPE), por meio da Promotoria de Justiça Criminal de São Lourenço da Mata, confirma o recebimento do Inquérito Policial n° 2025.0479.000590-39, na tarde da quarta-feira (03.12) e o analisará dentro do prazo legal. O MPPE informa também que os suspeitos se encontram presos temporariamente”, disse o MPPE em nota enviada ao Tribuna Online PE.
Fernando e Uilma: indiciados estavam nas buscas pela criança
De acordo com informações divulgadas pela polícia, os indiciados são Fernando Santos de Brito, vizinho da família, e Uilma Ferreira dos Santos, ex-mulher dele. Os dois já tinham sido presos por suspeitas levantadas ao longo do inquérito.
A situação chama atenção porque ambos participaram ativamente das buscas por Esther logo após o desaparecimento. Fernando chegou a aparecer em cima de um cavalo durante um protesto de moradores, gritando por justiça.
Uilma, por sua vez, afirmou à polícia que percorreu áreas próximas à casa da criança e disse ter olhado a cacimba onde o corpo seria encontrado horas depois — segundo ela, nada estaria lá naquele momento.
Participação de Fernando: indícios, contradições e provas
A investigação apontou que Fernando Santos de Brito, 31 anos, mantinha contato frequente com a família de Esther Isabelly Pereira e esteve com a mãe da criança horas antes do crime. Eles beberam juntos na residência dela, no Pixete, quando ele viu Esther e os irmãos preparando-se para brincar no campo. A delegada Juliana Bernal ressaltou que esse é o primeiro ponto que chamou atenção: ele foi a última pessoa de fora da família a ver a menina viva.
Versões contraditórias sobre o sumiço
O desaparecimento aconteceu entre 16h30 e 18h30. Na primeira versão, Fernando afirmou que havia deixado a casa e se dirigido à residência da mãe. Depois, mudou o relato e disse que tinha ido a um bar comprar cerveja, encontrado conhecidos e voltado para casa.
A mudança de versões foi tratada como o segundo grande indício de participação.
DNA de Esther no quarto dele
Mesmo com o protesto dos moradores — que invadiu e violou o local, prejudicando parte da perícia — os peritos conseguiram isolar manchas de sangue da vítima:
- no piso do quarto de Fernando,
- na parede,
- e em pontos onde houve tentativa de lavagem.
Essas amostras foram encaminhadas para análise e o DNA coincidiu com o material genético de Esther, confirmando que a criança esteve no quarto dele e sangrou ali, reforçando a tese de que o homicídio ocorreu dentro do ambiente.
A delegada destacou que a quantidade de sangue era pequena, mas suficiente para comprovar o contato direto entre a vítima e o local do crime — e que a tentativa de limpeza não eliminou totalmente os vestígios.
Instrumento contundente e morte por traumatismo craniano
Segundo a necropsia, Esther morreu em decorrência de um traumatismo craniano causado por instrumento contundente, com lesão frontal interna.
O objeto usado não foi localizado porque a cena foi alterada durante o protesto, mas a perícia concluiu que a lesão é compatível com impacto forte, que teria ocorrido dentro do quarto de Fernando. Na perícia, não foram identificados rompimento de hímen da criança, nem violência anal, mas a delegada frisou que o abuso sexual não acontece apenas com penetração, de modo que não é possível cravar a informação.
Arrasto e ocultação do corpo
A criança, já morta, foi arrastada até a cacimba, o que deixou marcas no rosto e no corpo.
Fernando, segundo a polícia, teve participação direta tanto na morte quanto na ocultação do cadáver, e por isso responde pelos dois crimes. Ainda não se sabe, também, o que levou Fernando a matar a pequena Esther.
Atuação após o crime
Horas depois do homicídio, enquanto moradores realizavam buscas desesperadas pela menina, Fernando participou dos atos públicos de procura, chegando a ser filmado em cima de um cavalo, no protesto, pedindo justiça. A polícia considera esse movimento uma tentativa de criar álibi social e se misturar à comoção coletiva.
Dias depois, Uilma apresentou duas versões diferentes de uma conversa que teria tido com Fabiano Rodrigues de Lima, 27 anos, vizinho e inicialmente tratado como o principal suspeito. As contradições chamaram a atenção dos investigadores.
Participação de Uilma: apoio à ocultação, destruição de provas e conivência pós-crime
A Polícia Civil concluiu que Uilma Pereira, ex-mulher de Fernando e também moradora do conjunto de casas conjugadas, teve papel determinante depois da morte de Esther. Embora não exista indício de que ela tenha participado da agressão, nem de que estivesse na casa no momento da morte, a investigação aponta que sua conduta foi essencial para eliminar vestígios e confundir a dinâmica do crime.
Atuação após o crime: quando a omissão vira ação
Segundo a investigação, logo após a morte de Esther, Fernando pediu ajuda a Uilma. Ela, mesmo ciente da gravidade, não acionou a polícia, não denunciou o ex-companheiro e não tentou impedir que ele se desfizesse do corpo.
A polícia afirma que, nesse momento, Uilma deixa de ser mera testemunha e passa a agir ativamente para proteger Fernando — motivação ainda investigada, já que o casal estava separado.
- Destruição de provas e retirada de móveis
- O ponto mais contundente do indiciamento veio quando a polícia descobriu que Uilma:
- retirou móveis da casa de Fernando,
- levou esses móveis para serem queimados durante o protesto da comunidade,
- e fez isso sabendo que os objetos estavam diretamente relacionados ao crime.
A destruição ocorreu no tumulto que marcou a revolta dos moradores após o desaparecimento da menina. Para a delegada, isso não apenas dificultou a perícia, como contribuiu para apagar vestígios decisivos da dinâmica da morte e da possível tentativa de abuso.
Como era a relação entre os envolvidos
Fernando e Fabiano moravam em uma casa conjugada, dividindo a mesma estrutura. Isso fez com que Fabiano fosse o primeiro nome levantado como suspeito, já que circulava pelo mesmo espaço. Ele é pai de santo e, por isso, no local, havia velas coloridas, que não tiveram relação com o assassinato. Uilma, inclusive, levantou várias suspeitas sobre ele e contou versões contraditórias.
Uilma, embora separada de Fernando, continuava presente na rotina do ex. Segundo a investigação, foi ela quem ajudou a eliminar provas do crime, levando móveis e objetos da casa para serem queimados durante um protesto do bairro.
Importante destacar que Uilma não morava mais na residência de Fernando, mas costumava frequentar o local e tentava protegê-lo em situações anteriores, segundo relatos. Isso ajuda a explicar por que ela estava ali no dia do crime. E, segundo a delegada Juliana Bernart, fez a faxina na casa e chamou Fabiano para ajudar depois que ele chegou. E ele o fez sem saber, segundo a delegada.
No dia do crime, as testemunhas contaram à polícia que Fernando estava bastante nervoso. O proprietário do imóvel queria que ele entregaasse a casa e ele se recusava, mas decidiu sair do local às pressas no dia do homicídio, deixando a porta aberta.
"O Fernando abandona a casa. Isso foi muito intrigante, porque o proprietário da casa estava há dois meses tentando expulsar o Fernando daquela casa, daquele quarto, né? E ele não ia embora, ele vai embora no dia do homicídio de Esther. Naquela noite, ele resolve ir embora, os móveis dele são todos doados e jogados no fogo (dos protestos), e ele vai embora inclusive até a porta aberta, que é um comportamento já muito suspeito? A pessoa fugir de uma casa assim dessa forma", declarou a delegada.
Para ela, embora os moradores da localidade tenham revistado o imóvel naquela noite, a contragosto de Fernando, mesmo que a criança já estivesse na cacimba morta, era difícil de ver. Estava escuro e o reservatório tinha quase 4 metros de profundidade. O corpo só emergiu no dia seguinte.
Acusações: homicídio e ocultação de cadáver
Com base nos depoimentos, nas versões divergentes e no material recolhido, a polícia indiciou:
- Fernando Santos de Brito: homicídio e ocultação de cadáver
- Uilma Ferreira dos Santos: ocultação de cadáver
Os dois moravam nas proximidades da família de Esther, no bairro do Pixete, em São Lourenço da Mata, região onde a criança costumava brincar e circular com frequência.
Fabiano, o primeiro suspeito, é descartado
Durante boa parte das investigações, Fabiano Rodrigues de Lima, 27 anos, foi apontado como principal suspeito. Ele chegou a ser preso, ouvido diversas vezes e alvo de rumores no bairro. A situação gerou risco real de linchamento.
Mas, no relatório final, a delegada Juliana Bernart não encontrou nenhum elemento que apontasse para o envolvimento dele no crime. Ele tinha álibi quando a criança sumiu, diferentemente de Fernando e Uilma.
Agora, caberá ao MPPE decidir se a denúncia seguirá apenas contra Fernando e Uilma ou se serão solicitadas novas diligências.
A reviravolta reacendeu dúvidas entre moradores, que acompanharam as buscas desde o início, mas também reforça a importância de não fazer justiça com as próprias mãos.
Por que Fabiano não foi indiciado: ausência de dolo, falta de vínculo com o crime e contradições superadas
Apesar de Fabiano Rodrigues de Lima ter sido o primeiro nome apontado pela comunidade e de ter sido preso temporariamente, a Polícia Civil concluiu no relatório final que não há qualquer elemento que indique dolo, participação ou benefício na morte de Esther. Nenhuma evidência o coloca na cena do crime
A delegada responsável analisou:
- laudos periciais,
- imagens de câmeras,
- depoimentos de vizinhos,
- deslocamentos no dia do desaparecimento,
- históricos de conflito no entorno.
Ao fim da análise, não surgiu nenhum vestígio físico ou testemunho consistente que colocasse Fabiano:
- com Esther,
- ou próximo à cacimba no horário compatível com a morte da menina.
- A perícia descartou, portanto, a presença dele no crime.
- O cenário do crime: uma descoberta que marcou a equipe
Esther foi encontrada morta na noite de 20 de outubro. O cenário emocionou policiais, bombeiros e repórteres que estavam no local.
A menina estava de cabeça para baixo, dentro de uma cacimba com cerca de quatro metros de profundidade.
No entorno, a perícia encontrou preservativos e uma vela de cores diferentes, o que levantou hipóteses na época sobre possível ritual. Contudo, o ritual foi descartado..
Comoção e protestos no bairro
A morte de Esther provocou revolta e medo no bairro do Pixete. Moradores organizaram caminhadas, protestos e mutirões de busca.
A presença de Fernando nesses atos, mesmo já sendo investigado, ampliou o choque quando o indiciamento foi confirmado.
A família da menina aguarda o posicionamento do MPPE para entender os próximos passos na responsabilização dos envolvidos.
Veja o que disse Uilma antes de ser presa em entrevista à TV Tribuna: aqui
Relembre o início do caso que chocou São Lourenço e Pernambuco: aqui
Veja a entrevista da delegada Juliana Bernat a repórter Simone Santos: é só clicar que já entra direto
Veja mais detalhes dados pela delegada em coletiva
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