Não passarão
Comentários sobre o futebol, os clubes e os craques do esporte mais popular do planeta
Discursos xenofóbicos, motivados por sentimentos mesquinhos e tacanhos, vez por outra ecoam em meio a narrativas ignorantes. No universo do futebol, tais falas foram acobertadas anos a fio, sob os disfarces da retórica infeliz e do mal-entendido. Mas quando proferidos publicamente, com desfaçatez, deveriam ser tratados pelo rigor da Lei 9459, de 13 de maio de 1997, que prevê no Artigo 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” Com pena prevista de um a três anos de reclusão, além de multa.
As declarações dos ex-técnicos de futebol Emerson Leão, de 76 anos, e Oswaldo de Oliveira, de 74, no 2° Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, realizado na terça-feira (4), na CBF, foram, portanto, mais do que constrangedoras.
Os discursos “preconceituosos e discriminatórios” assumidamente contrário à presença de técnicos estrangeiros nos clubes do País e na Seleção Brasileira não são só manifestos de reserva de mercado. Ou atos em apoio a treinadores formados nos cursos da CBF Academy.
As falas são criminosas aos olhos da Lei - além de agressivas e descabidas. Imagino o constrangimento do italiano Carlo Ancelotti, treinador da seleção, convidado pela FBTF (Federação Brasileira de Treinadores de Futebol) a trocar ideias no fórum.
A colaborar com a formação e o desenvolvimento de técnicos de uma nova geração que padecem para trabalhar nas principais Ligas europeias pela falta de legitimidade das licenças da CBF Academy, entre outras barreiras.
Estavam presentes o presidente Associação Nacional dos Treinadores de Portugal , Henrique Calixto; e David Saiz, do comitê de técnicos da academia da federação espanhola.
Oswaldo de Oliveira trabalhou 23 temporadas como preparador-físico e técnico em clubes do Catar, Emirados Árabes, Jamaica e Japão. E seu último “trabalho” no Brasil foi no Fluminense, 2019.
Leão também esteve no Catar e passou cinco temporadas no futebol japonês. Última passagem dele como treinador de um clube brasileiro foi o São Caetano, em 2012.
Ou seja: dois profissionais que viveram bons momentos da carreira no exterior, mas agora, em plena globalização, fazem discursos xenofóbicos inflamados contra profissionais de fora. Sem se importarem com a elegância. Ancelotti pôde, enfim, entender porque o futebol brasileiro perdeu o protagonismo mundo afora…
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