Empresas apostam em produtos voltados para idosos
Empresas apostam no público 60+, que ganha força no consumo e inspira novos produtos
Além de descontos, produtos pensados para idosos já estão sendo trabalhados por empresas para atrair esse tipo de público.
De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), em 2024, o segmento de Saúde, Beleza e Bem-Estar teve uma alta de 16,5% em relação a 2023.
O envelhecimento da população impulsiona o setor, que registra aumento na demanda por casas de repouso e cuidados especializados.
Dentre os produtos criados para a faixa etária mais velha estão os suplementos da SHE_Talks. A iniciativa, que surgiu em 2018 primeiro como uma comunidade digital focada em menopausa, prazer feminino, beleza e saúde, evoluiu para o desenvolvimento de uma linha própria de produtos de suplementação nutricional para mulheres acima dos 40 anos.
“A gente queria um produto completo, potente e prático, porque a mulher cuida de muita coisa. Ela não pode perder tempo tomando várias cápsulas por dia”, diz Adriana Rocha, uma das sócias do grupo, que recentemente fechou uma parceria com a Netshoes.
Já entre as grandes empresas que têm apostado na beleza como vetor de inclusão e estratégia de mercado para o público 50+, o Grupo Boticário se destaca com a marca Botik, cujo portfólio conta com produtos voltados para mulheres na menopausa, com testes feitos com consumidoras de até 70 anos de diferentes regiões do Brasil.
Em Vila Velha, a Grand Construtora está projetando um novo empreendimento voltado especialmente para o público sênior.
O Residencial Sênior já está sendo construído em Ponta da Fruta e será o primeiro de alto padrão para a população acima dos 60 anos no Espírito Santo.
No total, são 12 mil m² de infraestrutura de resort com vista para o mar e 96 unidades. Lá, cada morador também poderá participar de programações personalizadas, com atividades como leitura, cinema, arte, dança, culinária, jardinagem ou caminhadas, além de terem à disposição motorista e serviços de saúde com profissionais especializados.
Também em Vila Velha, a aposentada Márcia Abrahão, de 63 anos, começou a divulgar um serviço de transporte particular para idosos.
Além do valor da corrida, ela oferece itens como água, aparelho de pressão digital, remédios e itens como cadeiras de praia, óculos de sol e livros.
Liderança em consumo de alto padrão
O Brasil vive um momento singular no consumo de alto padrão. Enquanto o mercado global de luxo atravessa um período de estabilidade, o País registrou crescimento médio de 12% ao ano entre 2022 e 2024, movimentando R$ 98 bilhões em 2024 e com previsão de atingir R$ 150 bilhões até 2030.
O relatório inédito “O cliente Gold é prata” – conduzido pelo data8, principal hub de inteligência sobre Economia Prateada da América Latina – revela que o motor desse desempenho é prateado: consumidores acima dos 50 anos.
Segundo Lívia Hollerbach, uma das coordenadoras do levantamento, os brasileiros 50+ de classe A – cerca de meio milhão de pessoas – concentram grande parte da riqueza patrimonial do País e sustentam um padrão constante e elevado de consumo.
“Eles são os clientes mais rentáveis das corretoras, compõem o grupo VIP dos bancos e sustentam as margens das grandes grifes. O consumo per capita mensal desse público chega a R$ 4.911, muito acima da média nacional”, afirma a pesquisadora.
O fenômeno da maior participação prateada no consumo de alto padrão é global. Nos Estados Unidos, os maduros controlam 70% da riqueza das famílias; na China, a economia prateada já alcança US$ 966 bilhões, com previsão de triplicar até 2035.
Apesar disso, o estudo alerta para a baixa representatividade dos prateados na publicidade e nas campanhas de moda. Apenas 42% dos brasileiros 55+ de classe A se sentem vistos pelas marcas.
Para além dos dados econômicos, o estudo revela valores que orientam esse consumo: saúde, viagens, autonomia e qualidade de vida são prioridades declaradas. E marcas que entenderem esse cliente “Gold que é prata” terão diante de si um mercado pequeno em número, mas imenso em relevância estratégica.
Restrição para reajuste em plano de saúde acima dos 60
Em uma decisão de grande repercussão para o setor de saúde suplementar e para milhões de consumidores, o STF formou maioria para invalidar a aplicação de reajustes por mudança de faixa etária para beneficiários com 60 anos ou mais, mesmo em contratos de planos de saúde assinados antes da vigência do Estatuto do Idoso.
O julgamento representa um marco na proteção dos direitos da pessoa idosa, reafirmando a aplicação imediata de normas de ordem pública a relações contratuais de trato sucessivo.
A controvérsia chegou ao STF por meio de um recurso interposto por uma operadora de plano de saúde contra decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
O caso de origem envolve uma consumidora que contratou um plano de saúde em 1999, portanto, antes da promulgação do Estatuto do Idoso.
Em 2005, ao completar 60 anos, a beneficiária sofreu um reajuste em sua mensalidade, conforme previsto em cláusula contratual. A Justiça gaúcha, em primeira e segunda instâncias, considerou o aumento abusivo, aplicando as vedações do Estatuto do Idoso.
A operadora argumentou no STF que a aplicação da lei de 2003 a um contrato de 1999 violaria o ato jurídico perfeito e a segurança jurídica, princípios consagrados na Constituição. A questão central, portanto, era definir se a norma protetiva do idoso poderia incidir sobre os efeitos futuros de contratos celebrados antes de sua entrada em vigor.
Por um placar de 7 a 2, a maioria dos ministros acompanhou o voto da relatora, ministra Rosa Weber, negando provimento ao recurso da operadora.
O entendimento majoritário consolidou a tese de que a proteção ao idoso prevalece sobre a autonomia contratual, especialmente em contratos de longa duração como os de planos de saúde.
O Número
2003 ano de criação do Estatuto do Idoso
Análise
“Idoso de hoje tem perfil com hábitos de consumo”
“Além do envelhecimento da população, o poder aquisitivo crescente entre idosos, além do aumento da longevidade e da qualidade de vida, são motivos que explicam uma demanda maior por produtos e serviços focados nessa faixa etária.
Saúde, bem-estar, beleza, tecnologia assistida e turismo são alguns exemplos de setores onde a demanda está cada vez maior.
Entretanto, as empresas precisam entender esse público. O idoso de hoje não tem o mesmo perfil do idoso de 20, 30 anos atrás.
É um perfil com hábitos de consumo, que é exigente e busca uma escuta ativa sobre suas dores, desejos e hábitos.
Investir em conhecê-los e investir em acessibilidade é vital.
Treinar a equipe para lidar com idosos, oferecer produtos com design pensado para esse público e desenvolver parcerias estratégicas com eventos voltados para esse público são caminhos interessantes para empresas que querem atrair esse perfil de cliente, que tende a ser muito fiel com quem lhe trata com respeito e dignidade”.
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