ES é 2º Estado com mais golpes digitais e idosos são maiores vítimas
Prejuízo médio de quem é lesado é de R$ 2.890 no Estado, atrás só de Alagoas. WhatsApp é um dos meios utilizados pelos criminosos
Cada vítima de golpe digital com uso do Pix no Espírito Santo perde, em média, R$ 2.890, valor acima da média nacional, de R$ 2.540. Essa cifra coloca o Estado em segundo no ranking nacional trazido na pesquisa “Golpes com Pix”, da empresa de inteligência antifraude Silverguard.
O Estado fica atrás apenas de Alagoas, que lidera esse ranking do prejuízo. O levantamento aponta ainda que os idosos são as maiores vítimas desse tipo de crime, com 30,8% dos casos. E a perda dessas vítimas com 60 anos é ainda maior: em média R$ 4.820 — cinco vezes o valor correspondente aos dos jovens de 18 a 24 anos, que têm prejuízo médio de R$ 964.
O golpe mais comum continua sendo o do pedido de dinheiro, no qual criminosos se passam por filhos ou familiares em aplicativos de mensagem, geralmente com número e foto clonados. Esse tipo de fraude responde por 21% dos casos de crimes contra idosos.
Uma idosa do Estado foi uma das vítimas. Ela conversou com a reportagem de forma reservada e contou que perdeu R$ 400, após o golpista se passar pelo sobrinho dela. A vítima não tinha muita familiaridade com o Pix, mas o criminoso conseguiu convencê-la.
Para Marcia Netto, CEO da Silverguard e coordenadora da pesquisa, os “golpes digitais deixaram de ser práticas amadoras” e se tornaram uma “indústria criminosa altamente estruturada”.
Outros casos frequentes são também os de golpistas que usam QR Codes falsos, segundo o consultor de tecnologia da informação Eduardo Pinheiro.
Entre os problemas estão as transações rápidas, em que os criminosos conseguem transferir entre diferentes contas de forma instantânea, destacou o especialista em Segurança da Informação e professor da UCL, João Paulo Machado Chamon: “Essa situação dificulta o rastreio por parte das instituições financeiras”.
Outra questão que envolve os estelionatos digitais é a facilidade em abertura de contas, muitas vezes em bancos digitais. “Antes, para abrir conta, tinha de ir ao banco, conversar com gerente, e hoje, pelo celular é possível abrir várias contas com limites altos de forma muito fácil”, comentou Chamon.
Golpes mais comuns
As fraudes bancárias mais recorrentes envolvem a Engenharia Social, técnica em que o golpista manipula a vítima psicologicamente, fingindo ser alguém de confiança. O mais comum é o criminoso ligar se passando por funcionário do banco.
Outro golpe frequente é o da mão fantasma. Nesse caso, o estelionatário liga para a vítima e afirma que há uma irregularidade na conta.
A pessoa, sem perceber, é convencida a instalar um aplicativo ou software que permite o acesso remoto ao celular ou computador.
Além disso, há tentativas de fraudes bancárias com QR Codes falsos e links maliciosos. O criminoso troca o código de pagamento em estabelecimentos ou envia links que, ao serem clicados, permitem o controle do aparelho da vítima.
Como evitar o golpe do Pix?
A primeira e mais importante é desconfiar em primeiro lugar. Como golpistas trabalham com pressão e urgência para fazer a pessoa agir antes de pensar, frases como “é agora ou nunca” ou “oportunidade imperdível” são muito usadas.
Também é comum usarem promessas como produtos muito baratos, lucro fácil, investimento com ganho garantido. Caso seja um pedido de transferência de um “parente”, também desconfie e peça para fazer uma chamada de vídeo antes — ou espere para confirmar pessoalmente. Inclusive, priorize o contato pessoal, já que mensagem de áudio e vídeo podem ser clonados com aplicativos deepfakes (de inteligência artificial).
Antes de comprar de uma loja desconhecida, pesquise a reputação no Reclame Aqui e nos comentários das redes sociais. Antes de pagar, confirme se o nome da razão social/CNPJ bate com o da loja.
Sites seguros começam com “https” e um cadeado. Se não tiver, pare imediatamente mesmo que o site pareça “idêntico” ao oficial.
Como acionar o MED?
Aja imediatamente: entre em contato com o seu banco o mais rápido possível: pelo telefone, chat do app ou direto na área de extrato do Pix, clicando no botão “Contestar Pix”. Quanto antes melhor. Acionar o mecanismo no mesmo dia triplica a chance de recuperar o dinheiro. Importante: não espere ir à agência física, o gerente de agência não consegue acionar o Mecanismo Especial de Devolução .
Caso seja pelo telefone: explique que você foi vítima de um golpe com Pix. Peça a devolução do dinheiro enviado e informe os dados da conta do golpista. Importante: o MED só vale para golpes e fraudes, não para Pix por engano. Dica: alguns atendentes não conhecem o termo “MED”. Peça: “Quero solicitar a devolução do Pix porque fui vítima de golpe”.
O que acontece depois: seu banco vai registrar uma notificação de infração no Banco Central. O banco do golpista vai bloquear imediatamente o dinheiro total ou parcialmente, se houver saldo.
Anote o protocolo: guarde o número do protocolo do atendimento. Você pode precisar dele depois como prova do pedido de devolução.
Aguarde a análise: as instituições (banco de origem e destino) têm até 7 dias corridos para analisar o caso. Se for confirmado golpe, o valor bloqueado será devolvido automaticamente em até 96 horas. Aproximadamente o processo todo pode demorar 11 dias.
Fonte: Silverguard, especialistas consultados e Agência Folhapress.
“Banco é o responsável se provada sua negligência”
Quando há negligência nos sistemas de proteção ou demora injustificada no bloqueio de transações suspeitas, as instituições podem ser responsabilizadas e obrigadas a indenizar os clientes lesados, segundo Sandro Câmara, especialista em Direito Criminal.
O especialista destacou que o Código de Defesa do Consumidor estabelece que bancos e plataformas digitais respondem objetivamente por falhas na segurança de suas operações: “A Lei 14.155/2021, que tipificou fraudes eletrônicas, reforça essa proteção ao criminalizar invasões de dispositivos para transferências não autorizadas”.
Ele orientou que vítimas devem registrar boletim de ocorrência imediatamente, preferencialmente em delegacias especializadas em crimes cibernéticos.
“É essencial preservar todas as provas: prints de conversas, comprovantes de transferências, e-mails e mensagens suspeitas. Essa documentação fundamenta tanto a investigação criminal quanto eventuais ações judiciais de reparação contra golpistas e instituições financeiras omissas”.
O Banco Central disse que a segurança é um dos pilares do Pix e que o número de fraudes envolvendo o meio de pagamento vem se mantendo relativamente estável como proporção do total de transações. Em 2022, foram 7 fraudes a cada 100 mil transações. Em 2023, 6 fraudes. Em 2024, 8 fraudes a cada 100 mil transações. Neste ano, foram 5 fraudes a cada 100 mil transações até o mês de agosto, informou a instituição.
O diretor de inovação, produtos e serviços bancários da Febraban, Ivo Mósca, explicou que muitas vezes faltam evidências suficientes para acatar a solicitação de fraude por meio do Mecanismo Especial de Devolução (MED).
Também disse que a baixa devolução de recursos é reflexo da velocidade transacional do Pix.
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